Se houve algum momento que se questionou a força do Movimento Estudantil no Campus da UNIFESP da Baixada Santista, a paralisação que ocorreu no final de 2022 não deixou nenhuma dúvida quanto a sua potência. Essa mobilização só se compara em tamanho e influência com a Greve Estudantil de 2018, mas concentremo-nos em 2022, mais especificamente em dezembro deste ano.
Luiz Soares e Carlos Alberto Coutinho | Estudantes da UNIFESP
SANTOS (SP) – Que o fascista Bolsonaro é o maior inimigo da Educação no Brasil, os estudantes da UNIFESP já estavam cansados de saber. O que surpreendeu foi que, mesmo após ter sido derrotado todos os seus quatro anos de governo pela incansável mobilização estudantil e, em outubro de 2022, pelo voto de mais de 60 milhões de brasileiros, pudesse ser capaz de tamanha crueldade já no apagar das luzes de seu mandato.
O caminhão “Muda Brasília” batia à porta do Palácio da Alvorada – no dia 04/12 -, quando Bolsonaro bloqueou pela última vez a verba do Ministério da Educação (MEC). Foram R$ 366 milhões bloqueados só das Instituições de Ensino Superior (IES), segundo o relatório da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
Os estudantes da universidade foram atingidos em cheio, ao se depararem com a infeliz notícia que não só acabava por ameaçar todos os projetos científicos em andamento, como também a permanência de muitos estudantes que dependiam de suas bolsas para conseguirem pagar por sua sobrevivência. A ação em questão chocou a todos, estudantes e trabalhadores estavam tentando imaginar como pagariam o seu aluguel e comida no mês do Natal.
Estavam todos no escuro, já que demorou para ir aos ares notícias oficiais vindas das instituições, porém mesmo no silêncio, os estudantes ousaram enfrentá-lo e foi isso que por meio de uma mobilização relâmpago fizeram. O foco inicial era trazer luz ao problema, pois muitos ainda estavam no escuro, nesse processo as redes sociais foram indispensáveis para se tornar claro as dimensões da questão a ser tratada.
Como resultado, foi convocada uma Assembleia Geral com cerca de 300 estudantes em que cada um dos presentes fazia força para se tornar uma só. Com isso, os participantes que se reuniram, decidiram democraticamente que a paralisação seria a única solução, pois com o descaso daqueles que deveriam oferecer o mínimo de suporte para a educação, a opção mais plausível era realizar uma tentativa de comunicação com as mídias para mostrar a todos, cidadãos e instituições sobre o que estava acontecendo e trazer o problema à tona.
Os três prédios e os dois Institutos foram paralisados. Na segunda-feira (12/12), os estudantes realizaram um ato relâmpago em defesa da Educação, saíram do prédio da Silva Jardim e se dirigiram ao prédio da Carvalho de Mendonça, onde alguns professores ameaçavam não seguir as determinações estudantis.
Cerca de 100 estudantes ocuparam todos os andares do edifício que sedia o IMAR, interromperam as provas e realizaram atividades de mobilização para a continuidade da luta. Essa movimentação foi inédita no Campus da Baixada Santista!
No dia 15/12 cerca de 200 estudantes se reuniram novamente no saguão da Silva Jardim, o Governo recuou parcialmente, mas as atividades da universidade continuavam sob ameaça. Com nova votação massiva a favor, a paralisação foi prorrogada até o fim das atividades letivas no mês de dezembro (22/12), compromissada com a defesa da universidade pública (a reposição do orçamento bloqueado em dezembro) e com a permanência estudantil (que nenhum estudante fosse prejudicado academicamente pela mobilização).
No dia seguinte, 16/12, a vitória veio. Todo o financeiro confiscado das Instituições de Ensino Superior foi reposto. A paralisação havia sido vitoriosa. Por todos os prédios e ao redor das instalações se via “Paga minha bolsa, Bolsonaro!”, “Sem bolsa, sem aula!”, “Bolsa na mão, Bolsonaro na prisão!”. Toda a luta havia sido concluída.
Os registros dessa mobilização permanecerão por muitos anos nos espaços físicos do Campus da Baixada Santista, esperamos que esta carta contribua para que não nos esqueçamos. Mas mais, que nos inspire a dar continuidade à luta em defesa da educação pública e de qualidade hoje e sempre.