Trabalhadores franceses de diversos setores vão às ruas e organizam greves por todo o país. Após quatro semanas de braços cruzados nas refinarias de combustível na França, trabalhadores voltam a se organizar em grande paralisação dos transportes públicos de Paris por aumento geral de salários e contra a medida de criminalização das greves do governo Macron.
Pedro Andrade | Paris
No segundo semestre de 2022, a França tornou-se um grande palco da luta sindical no mundo, com trabalhadores de setores diversos se organizando e acumulando experiências para avançar numa pauta comum a todos: um aumento geral dos salários capaz de compensar a inflação, que estava em 6,2%.
O acúmulo de forças que desembocou nesse movimento generalizado podia ser observado a partir dos primeiros piquetes que definiram o início da greve dos operários da refinaria de Port-Jérôme-Grevenchon. Eles demandavam um aumento de 7,5% dos salários para compensar a inflação, além do pagamento atrasado de 8.000 euros em bônus de trabalho. O movimento inicial serviu como ensaio e preparação do que viria nos meses seguintes: os trabalhadores começaram a ganhar mais experiência com as mobilizações, experimentar formas democráticas de organização e debater inclusive com quem ainda não havia aderido à greve, num processo de chamamento de mais trabalhadores para a luta.
A partir do anúncio de um recorde de lucro de mais de US$ 10 bilhões pela empresa Total Energies (grande monopólio do setor de energia), os trabalhadores consideraram que o acordo proposto pela empresa era insuficiente e reforçaram as mobilizações.
Centrais sindicais aderem à luta
Às vésperas de alguns dos acordos entre as empresas de energia, o governo do presidente Emmanuel Macron anunciou um decreto determinando a obrigatoriedade da volta dos trabalhadores a seus postos, o que foi recebido pelas centrais sindicais como um ataque direto ao direito de greve. A partir daí, a CGT, uma das maiores centrais sindicais do país, começou a dar indícios da necessidade de expandir a greve para outros setores que estavam experienciando uma conjuntura similar.
No dia 13 de outubro, a CGT conclamou uma jornada geral de greves para o dia 18. As mobilizações teriam como objetivo atrair trabalhadores de áreas de grande peso sindical, como trabalhadores ferroviários, de centrais de instalações nucleares, professores (especialmente de escolas secundárias), funcionários públicos ligados ao Ministério do Trabalho (do Pôle Emploi), setores das empresas de trem (RATP), funcionários da Stellantis, e de outras empresas de distribuição em massa.
Além da questão do aumento geral de salários para todos os trabalhadores, a defesa do direito de greve apareceu como pauta latente dos mobilizadores da greve como resposta ao decreto do Governo.
Trabalhadores ocupam as ruas
“Respeite o direito de greve” era uma das frases comuns ouvidas na manhã de 18 de outubro junto com demandas pelos aumentos de salários, pelo fim das políticas de austeridade e de fortes críticas ao presidente Macron e sua agenda neoliberal. Também era possível observar ataques diretos a empresas como a Total Energies.
Segundo a CGT, mais de 300 mil trabalhadores participaram das mobilizações denunciando os baixos salários, as reformas do seguro-desemprego e a carestia crescente devido à inflação e à conjuntura da guerra, além de exigirem maiores investimentos públicos em setores sociais. Com a entrada dos trabalhadores dos setores de transporte na greve, muitas linhas de trem e metrô deixaram de funcionar.
A greve como exercício de democracia
Há quem diga que as greves não representam mais uma ferramenta eficaz na luta por direitos e não possuem mais a força que tiveram no passado. O exemplo francês é só mais um dos muitos, mundo afora, que nos revelam a atualidade e o impacto das greves no movimento proletário tanto como uma arma contundente na luta pela ampliação de direitos quanto na formação e no avanço da consciência dos trabalhadores acerca dos males do capitalismo e da necessidade de organização para se avançar cada vez mais na construção de uma nova sociedade.
Matéria publicada na edição nº 264 do Jornal A Verdade