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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Marxismo: entre o estudo dos textos e o estudo do método

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Aquilo que não tem resposta pronta nos clássicos será respondido por nós, marxistas de hoje. Devemos fazer isso não pegando emprestado de outros autores suas fórmulas e costurando-as de forma acrítica ao marxismo, mas utilizando o método materialista dialético para encontrar coletivamente as respostas para as diversas e urgentes necessidades do povo. 

Acauã Pozino | Rio de Janeiro


OPINIÃO – O marxismo, desenvolvido desde o século 19 por incontáveis mãos e mentes, a começar por seus enunciadores — Marx e Engels — e seus maiores expoentes — Lênin e Stálin —, além de todos aqueles que sobre ele se debruçaram, é a ciência do proletariado na luta pela emancipação da exploração. Ao reunir em si a concepção materialista, o método dialético e o horizonte político socialista, tornou-se um divisor de águas incontornável, principalmente nas ciências humanas, não sendo possível tratar com responsabilidade nenhum tema da vida moderna sem passar por ele.

O marxismo, portanto, desperta um interesse particular até mesmo naqueles que se propõem a refutá-lo — ainda que frequentemente o repliquem sob outro nome. Muitos estudam essa ciência, pretendem propagá-la e mesmo levá-la à ação prática através da militância em partidos e organizações que reivindicam o marxismo como orientação teórica. No entanto, não são raros os casos em que alguém pretensamente marxista — em outras palavras, partidário da libertação dos explorados e oprimidos — age ou se manifesta reproduzindo comportamentos ou ideias identificados com a ideologia burguesa, opostas às bandeiras que levanta. Daí surge a pergunta: onde está o problema?

A origem desse problema é uma distorção produzida pelo capitalismo, que atribui a genialidade de Marx e dos revolucionários mais conhecidos a qualquer coisa que eles tivessem de especial em si mesmos, nas suas pessoas, e não no método que eles desenvolveram. Esse “truque” é perfeito para frear o avanço da ação revolucionária, principalmente em ambientes acadêmicos. 

Assim, “marxistas” de todos os lugares se dedicam a estudar as obras e produções intelectuais marxistas de forma a absorver o que elas dizem, decorá-las como fórmulas estáticas, mas não extrair delas o método de análise que caracteriza o marxismo: o protagonismo da materialidade, a atenção à relação entre os fatos/sujeitos e a defesa da classe trabalhadora. Buscam encontrar em A Ideologia Alemã, por exemplo, a resposta pronta para o surgimento recente do fascismo no Brasil, sem considerar que, embora essa obra trace as leis mais fundamentais da ideologia burguesa, Marx e Engels nunca poderiam escrever nela uma análise de conjuntura do Brasil de hoje. Quem pode fazer isso são os marxistas de hoje, munidos pelo método mais avançado da ciência social moderna.

Da mesma forma, estes “marxistas” procuram nos clássicos respostas prontas e acabadas para debates surgidos durante o processo de luta dos oprimidos, como o binarismo de gênero, a luta LGBTIA+, dos povos originários, entre outros. Ao não encontrarem a “citação prometida”, rebaixam esses temas ou querem “discutir isso depois”.

O camarada Stálin disse uma vez: “Para não errar em política, é preciso não ser dogmático, mas sim materialista dialético”. Aquilo que não tem resposta pronta nos clássicos será respondido por nós, marxistas de hoje. Devemos fazer isso não pegando emprestado de outros autores suas fórmulas e costurando-as de forma acrítica ao marxismo, mas utilizando o método materialista dialético para encontrar — e pôr à prova na prática — coletivamente as respostas para as diversas e urgentes necessidades do povo. 

Não agir assim significa correr dois riscos: 1) abrir mão de nossos princípios políticos e ideológicos, abrindo caminho dentro de nossa organização para teorias e ideias estranhas ao nosso Programa e classe; 2) transformar a ciência do proletariado num dogma monocórdio e parado no tempo. 

Tanto um como o outro erro só podem beneficiar a burguesia e o imperialismo em seu esforço por manter a exploração e a dominação de classe sobre a maioria da humanidade.  

 

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