Durante o período colonial, a sociedade brasileira foi marcada por inúmeras revoltas organizadas pelo povo escravizado. Dentre as formas de luta contra a escravidão, destaca-se a quilombagem.
Julia Penteado, Rio de Janeiro (RJ)
HISTÓRIA – Por definição, quilombos são locais nas matas onde principalmente os negros escravos se refugiavam, foragidos das fazendas em busca de sua liberdade, em conjunto com as demais camadas excluídas socialmente, como pessoas indígenas, brancos pobres, criminosos foragidos e pessoas em prostituição.
Para além disso, aquele lugar era uma área na qual os quilombolas poderiam praticar livremente a cultura de seus povos, que foi totalmente reprimida desde o momento em que se iniciou a escravidão, quando houve um forte apagamento cultural e a imposição de uma cultura vinda da Europa. Nas palavras de Clóvis Moura, intelectual da questão racial no Brasil, os quilombos representam uma expressão de protesto radical contra a escravidão.
O espaço de organização possibilitou a elaboração, por meio da necessidade de se defender, de estratégias militares com objetivo de proteger as regiões, que eram constantemente atacadas pelo governo. Articulados contra as tentativas de aniquilamento, a capoeira cumpria um papel essencial por trazer para os soldados uma enorme diversidade de golpes (sendo alguns fatais e praticados com navalhas) e muita agilidade, contando com inúmeras táticas para se defender das violências da colonização.
No quilombo, não havia propriedade privada
Dentro dos mocambos, predominava um pensamento coletivista, de forma que não existia noção de propriedade privada, aquele território pertencia a todos os seus habitantes. E por isso, todos tinham o dever de trabalhar para sua construção, cuidar da terra e seus moradores. Cada um era responsável por uma determinada tarefa e diferentemente do trabalho escravo, os quilombolas viam concretamente o resultado de seu trabalho e colhiam seus frutos.
É essencial ressaltar que essas atividades proporcionaram uma farta produção, desde artesanatos aos mais diversos alimentos, como milho, feijão e mandioca, contrariando totalmente a lógica latifundiária e escravocrata, que adotou um modelo de monocultura que gerava a escassez de alimentos e a destruição do solo. Na prática, provou a ineficiência do modelo colonial e a superioridade do quilombo.
Uma nova estruturação social
Nos quilombos se constituiu uma nova estruturação social, que contrariava completamente o regime escravista. Os grandes quilombos, como Palmares, representaram na época, uma enorme ameaça a sociedade escravocrata, já que possuía uma estrutura social sólida, com a economia desenvolvida, produtividade maior que a colônia. O quilombo tinha suas próprias línguas e instituições. Em sua existência, rompeu com a lógica do latifúndio, com a lógica do apagamento histórico e cultura, com a lógica de todo um sistema que mantinha o povo negro e indígena explorado e dominado.
Com medo da revolta do povo, as classes dominantes sempre buscaram destruir os quilombos. Atualmente, ainda existem inúmeros quilombolas ocupando seus territórios e mantendo viva a sua história. Entretanto, é inegável que esses locais sofrem constantes ameaças de extinção, visto que sofrem constantes ataques, tentativas de despejo de seus territórios e o descaso total do Estado.
Exemplo de luta até os dias atuais
De acordo com dados do IBGE, existem 5972 localidades quilombolas no país, sendo estas divididas em 1672 municípios. Mesmo com todos os avanços sociais e renovações de pesquisa desde o tempo colonial, ainda há poucas informações acerca desses povos. Isso representa o contínuo apagamento desses grupos, pois a partir dos levantamentos de dados que se extrai novas políticas públicas, leis e estratégias voltadas para determinadas situações.
Apesar disso, essas populações carregam consigo a herança combativa de seus ancestrais e estão há 134 anos resistindo e lutando por uma vida mais digna, por seus direitos e suas terras.
Os quilombos devem ser um imenso exemplo de luta organizada que devemos seguir na construção de uma nova sociedade. É imprescindível que a revolução socialista perpasse pela experiência revolucionária que essas comunidades trouxeram pro nosso país. Que o Quilombo de Palmares, Quilombo Quariterê, Quilombo do Urubu e muitos outros nos inspirem na nossa caminhada rumo a uma nova sociedade, sem classes e sem opressões.
Quando os camaradas falam sobre criar um socialismo brasileiro, é pra essa parte da história que temos que olhar.
Grato por esse texto inspirador!
Quais são as possibilidade de maior interação, para troca de experiências e auxílios entre quilombos?