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domingo, 22 de dezembro de 2024

Carnaval de luta: ClandesTinas desfila em BH

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Redação MG


MULHERES – O Carnaval de Belo Horizonte se tornou importante no cenário nacional a partir de 2009, quando organizações populares, artistas, ativistas e movimentos políticos da cidade, contrários à elitização da festa, passaram a realizar desfiles dos blocos nas ruas mesmo sem patrocínio e com a repressão praticada pela Prefeitura Municipal. Sendo assim, o Carnaval renasce como ponto de resistência, levantando bandeiras de luta contra a censura, a violência policial e pelo direito de acesso à cidade.

Assim, surge também o Bloco ClandesTinas, fruto da primeira Ocupação de Mulheres da América Latina. A Ocupação Tina Martins, teve início há sete anos, no dia 8 de março de 2016, na Rua Guaiçurus, Centro da cidade. Organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, a ocupação reivindicava mais políticas públicas para mulheres vítimas de violência, mais delegacias especializadas, casas-abrigo e creches. Atualmente, a Casa de Referência da Mulher Tina Martins se localiza na Rua Paraíba, Bairro Funcionários e o Bloco ClandesTinas surgiu para dar visibilidade à luta das mulheres da Casa Tina Martins.

No dia 11 de fevereiro, aconteceu o terceiro cortejo do bloco, o primeiro após o auge da pandemia. Na abertura do desfile, Pedrina Gomes, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario, falou sobre a importância de realizar o desfile: “Esse Carnaval é também para lembrar que as principais atingidas pela política genocida de Bolsonaro, uma política de miséria, violência, fome e morte, fomos nós, mulheres. Derrotamos o fascismo nas urnas, mas eles seguem nas ruas e nós precisamos estar também, inclusive, no Carnaval”.

Neste ano, o bloco homenageou mulheres importantes para a história do nosso país, como Gal Costa, Marília Mendonça, Elza Soares e Olga Benario, com um repertório de músicas que falavam sobre o combate ao machismo, à violência de gênero e sobre a luta das mulheres. Com muita cor e brilho, o bloco arrastou milhares de foliões, reafirmando a importância das mulheres nos espaços públicos e sua participação decisiva na construção de uma sociedade mais justa.

Em frente à antiga ocupação, Mariana Fernandes, coordenadora da Casa e presidenta da Unidade Popular em BH, afirmou: “Nós estamos no estado que mais assassinou mulheres no último ano. Por isso, a decisão de ocupar e construir a Tina transformou a luta das mulheres de Minas Gerais. Ocupamos para dizer que lugar de mulher é na luta, na rua, no Carnaval, na política e construindo o socialismo no país”.

Assim como no trabalho desempenhado na Casa Tina Martins, o ClandesTinas surge como um bloco feminista e socialista, provando que, para além da diversão, é possível tocar, reger e organizar um bloco de Carnaval que contribua com a luta das mulheres. Na sua formação, o bloco traz a cantora e compositora Amorina como vocalista; Julia Nascimento na guitarra; Brenda Vieira no baixo; Joy Pinho no vocal; Bella Tymburibá e Juju Britto na regência e percussão.

Joy Pinho, que também é moradora da Ocupação Eliana Silva (MLB), no Barreiro, comentou: “O ClandesTinas tem esse lugar de levar a realidade cultural para um povo que é sofrido e que, às vezes, se esquece de que, apesar de todo sofrimento, ainda pode ser feliz. Eu consigo ver o bloco crescendo cada vez mais e trazendo de volta esse Carnaval, que vinha deixando de ser do povo, para quem realmente pensou, começou e organizou essa festa, que é o povo pobre e periférico”.

Matéria publicada na edição impressa nº 266 do jornal A Verdade

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