Empresa monopolista de ônibus em cidade gaúcha recebe milhões em troca de péssimo serviço. Passagens caras, falta de segurança e péssimas condições de trabalho para motoristas marcam situação do transporte público de Gravataí, no Rio Grande do Sul.
Júlia Bitelo | Gravataí-RS
TRABALHADOR UNIDO – Gravataí é uma das tantas cidades da região metropolitana de Porto Alegre que pena com a questão do transporte público. Além de sofrer com a falta de ônibus, passagens de R$ 9,20 para a capital e um tempo de espera de, no mínimo, 40 minutos nas paradas da cidade, os gravataienses ainda precisam lidar com os repasses milionários da prefeitura para a empresa privada que administra o transporte público na cidade: a SOGIL.
Em 2021, durante a pandemia de Covid-19 com falta de leitos destinados aos pacientes vítimas do vírus no único hospital da cidade, houve o repasse de 5 milhões de reais para a empresa privada. O Projeto 26/2021, elaborado pela gestão do prefeito Luiz Zaffalon (MDB), previu o repasse como uma forma de “socorro emergencial” à SOGIL, que ameaçava subir de novo o valor da passagem a fim de reduzir os “prejuízos” ocasionados pela pandemia.
O Projeto estabelece um subsídio de R$194 mil durante 20 meses, além R$1,15 milhões em compra de passagens pela Prefeitura. A fim de reduzir ainda mais seus custos, a empresa demitiu os cobradores e foi autorizada pela prefeitura a reduzir a frota de 73 ônibus para 50 durante o período da pandemia.
Enquanto a Sogil clama por auxílio do dinheiro público dos gravataienses, Sérgio Pereira, um dos sócios da Sogil, está entre os maiores empresários do estado do Rio Grande do Sul. Ele é associado, também, na empresa Navegantes, em Porto Alegre, dono da Viação Santa Tereza (Caxias do Sul) e da empresa de Santo Anjo (Florianópolis). Este fato deixa evidente e reforça o interesse dos grandes empresários de lucrar acima das demandas da sociedade, mesmo que isso custe caro a quem depende dos serviços públicos, pois apesar de todo o repasse concedido à empresa privada, isso não garantiu melhorias reais para o serviço prestado à população.
Ainda em 2021, a prefeitura justificou a aprovação do repasse milionário com a perspectiva de diminuição das passagens de ônibus na cidade. De R$5,35 do valor da tarifa as linhas municipais diminuiriam para R$ 3,75 e, apesar disso, para os cerca de 80 bairros que compõem a cidade, a frota dispõe de apenas 72 ônibus municipais dos 293 da frota toda, os quais oferecem a passagem a esse valor reduzido, sendo necessário que a população muitas vezes recorra aos ônibus intermunicipais (ainda no valor de R$ 5,35) pela falta de horários em determinados bairros.
Bruna, trabalhadora do Centro de Referência de Assistência Social e estudante diz: “Pra mim, o maior problema é a falta de linhas, porque o municipal tem um só de cada e é a cada 40, 45 minutos, dependendo do horário é um por hora, e por isso, fica superlotado e não conseguimos nem sentar”.
Além disso, sobre as “melhorias” apresentadas pela empresa, estão a conexão Wifi e entrada USB para carregar aparelhos celulares, das quais a Sogil alega serem demandas da população. Porém, a conexão Wifi está disponível apenas na frota “midi”, em que a passagem custa R$7,35. Como se não bastasse as tarifas exuberantes das linhas intermunicipais (R$ 5,35, R$ 9,20 até a capital e R$ 13,15 nos ônibus executivos), os e as passageiras, além dos motoristas, correm o risco de serem assaltados à mão armada.
Carine da Silva, estudante e trabalhadora de clínica médica na cidade disse ao Jornal A Verdade: “Meu vizinho foi assaltado dentro do intermunicipal, os assaltantes entraram na parada do Carrefour e foram até a parada do Shopping de Gravataí pegando os celulares e as coisas de todo mundo”.
Mais dinheiro para o barão do ônibus de Gravataí
Já em outubro desse ano, foi votado o Projeto de Lei 106/2022, que prevê mais de R$10 milhões em repasses para a Sogil em 2023. De 20 vereadores presentes, 13 deles votaram de forma favorável ao PLE 106/22, dentre eles Alan Vieira (MDB), Alex Peixe (PTB), Policial Evandro Coruja (PP), Márcia Becker (MDB) e Dila (PDT). Isso demonstra, mais uma vez, que aqueles que deveriam representar os interesses da população gravataiense, em sua maioria não votam a favor do povo.
Enquanto isso, movimentos sociais e partidos políticos, como a União da Juventude Rebelião e a Unidade Popular, discutem na cidade a falta do passe livre estudantil, de elevadores para cadeirantes e a ausência de linhas em seus bairros. Por isso, é indispensável que a população de Gravataí se organize para combater a vontade de políticos e empresários que colocam como prioridade o lucro acima das necessidades básicas dos e das gravataienses.