Maranhão continuou com histórico de mortes e violência no campo em 2022. Política fascista de Bolsonaro e apoio ao agronegócio pelos governos estaduais fortaleceram os conflitos nas áreas rurais. Indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais são os principais atingidos.
Afonso Sodré | São Luís
BRASIL – Os conflitos no campo, envolvendo fazendeiros, camponeses, trabalhadores rurais, povos originários e quilombolas é um problema histórico no Brasil. Com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, ocorreu um incentivo velado a grilagem de terras no país e as ameaças contra povos originários e quilombolas.
Desta forma esse problema tem crescido ainda mais. No Estado do Maranhão tal problema tem apresentado números alarmantes, que mostram que viver e trabalhar no campo tem sido uma luta pela sobrevivência.
Os conflitos pela terra no estado possuem um histórico de intensa violência, porém tem aumentado nos últimos anos e colocando a vida de mulheres, homens e crianças em risco. Segundo dados da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA), em 2021, mais de 200 pessoas sofreram ameaças de morte e 7 foram assassinadas, no mesmo ano o Maranhão foi o único estado a registrar mortes de quilombolas em decorrência de conflitos no campo.
Em 2022, foram registrados quatro assassinatos em decorrência de conflitos rurais, quilombolas e indígenas foram mortos. Ainda segundo balanço da FETAEMA 55 cidades registraram conflitos, envolvendo 35.180 famílias e 238 pessoas foram ameaçadas de morte.
Após o término das eleições presidenciais, o estado registrou ao menos oito casos graves contra comunidades quilombolas. Os casos envolvem ameaças de expulsão e de morte por parte de fazendeiros, incêndios e invasões.
Um dos principais casos ocorreu no quilombo Marmorana, em Alto Alegre do Maranhão. No final de setembro o poço artesiano que abastece o quilombo foi destruído, em 31 de outubro uma roça foi incendiada, já em novembro o quilombo foi atacado por homens armados e sofreu um novo incêndio. O caso foi registrado na delegacia, um fazendeiro é apontado como o responsável, mas o crime permanece sem solução.
Esses conflitos, têm sido marcados pela violência e pela impunidade. Segundo o relatório do Conselho nacional dos direitos humanos – CNDH, publicado em 2022, entre 1985 e 2021 foram assassinadas 185 pessoas, todas em decorrência de conflitos no campo. Dentre as vítimas estão líderes sindicais, trabalhadores rurais, indígenas e quilombolas. Muitos desses casos permanecem sem um desfecho, muitos não chegaram bem ao menos a serem investigados, mostrando o descaso do poder público com a situação que vem ocorrendo no estado.
Interesses de latifundiários e capitalistas estão por trás da violência no campo
Mas como explicar esse aumento da violência no estado? Essa escalada na violência e nos conflitos pela terra, estão diretamente relacionados ao modelo de “desenvolvimento” econômico adotado no Maranhão, com o crescimento do agronegócio em terras maranhenses a ganância dos empresários do setor tem sido implacável no avanço sobre os territórios ocupados por indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos camponeses.
Se acumulam os casos, em que empresas desse setor cometem algum crime contra os moradores do campo. Este foi o caso do avião agrícola que, em abril de 2022, lançou agrotóxicos sobre casas, escolas e pequenas roças em Duque Bacelar. Com o ocorrido as famílias perderam parte do seu sustento e alimentação, mais 300 crianças ficaram sem aula por 3 dias e os moradores ficaram doentes por conta da exposição ao agrotóxico.
A participação do governo federal e estadual, com suas políticas aliadas ao agronegócio incentivam ainda mais a presença de práticas que agridem os moradores dessas regiões e o meio ambiente. Segundo o INPE (Instituto nacional de pesquisas espaciais), em 2021 o Maranhão foi o estado que mais destruiu o cerrado.
A expansão do agronegócio no estado, é um processo que envolve uma violência assustadora. Expulsões, destruição do meio ambiente (afetando o cerrado e a floresta amazônica), contaminação de solos, das águas e das pessoas, além do aumento da desigualdade social são alguns dos crimes que acontecem todos os dias no estado. No governo do ex-presidente Bolsonaro esses conflitos só aumentaram, sobretudo na região sul e sudeste do Maranhão, região essa que é conhecida pela produção de soja e pela pecuária.
Todos esses conflitos e mortes evidenciam que o estado vive um momento de tensão e uma escalada de violência ainda maior no campo. As políticas neoliberais de incentivo ao agronegócio têm se mostrado como um ponto fundamental para o aumento dos assassinatos e de conflitos agrários no estado.
É necessário romper com este modelo que não só faz dos homens escravos dos próprios homens, mas também que os colocam como objetos descartáveis, podendo ser mortos a qualquer momento em nome do lucro de grandes empresários.