Carol Vigliar e Larissa Mayumi | Coord. Mov. Olga Benário
MULHERES – 8 de Março é marcado como Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras com atos e manifestações políticas no mundo todo. Mas, afinal, como surgiu esta data?
Na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhagen, em 1910, a dirigente comunista Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional de Luta da Mulher, sem definir uma data. Anos depois, outra militante comunista, Alexandra Kollontai, propôs que a data fosse 8 de março em homenagem às mulheres russas que, em 8 de março de 1917, fizeram uma gigantesca greve e marcharam por pão, paz e terra. Essa greve desencadeou uma grandiosa insurreição, que culminou na derrubada do czar na primeira etapa da Revolução Russa.
Antes disso, mulheres trabalhadoras realizavam greves e manifestações por melhores condições de trabalho, mas sem uma data definida. Portanto: é fundamental lembrar das raízes dessa data: não é um dia de comemoração, mas sim um dia de luta das mulheres trabalhadoras, socialistas e comunistas.
O socialismo é uma luta das mulheres?
Vejamos a situação hoje: No terceiro trimestre de 2021, de acordo com o DIEESE, a taxa de desocupação feminina aumentou de 2019 para 2021 de 14,3% a 15,9%. Segundo o IBGE, apenas 54,6% das mulheres estão inseridas no mercado de trabalho. Das que trabalham, a renda média das mulheres é cerca de 20% menor que a dos homens, podendo chegar até a metade, se comparamos mulheres negras com homens brancos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres dedicam de 21 horas semanais ao trabalho doméstico, enquanto os homens, apenas 11 horas. Além disso, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, 11,6 milhões de mães tiveram que criar seus filhos sozinhas no Brasil, sendo a maioria negras (61%).
Nosso país é campeão em feminicídio e violência contra as mulheres. Lidera o ranking de estupro, gravidez na adolescência e é um dos mais atrasados do mundo na legislação que proíbe o aborto. A falta de creche e horário reduzido de permanência das crianças nas escolas é uma realidade para a maioria das mães.
Não há como pensar em igualdade e fim da opressão das mulheres nos marcos deste sistema. Com o trabalho realizado na esfera doméstica, trabalho infindável e invisível, o Estado e os patrões podem reduzir salários e deixar de investir em políticas sociais (restaurantes comunitários, mais escolas, creches, melhorias na saúde), já que todo esse trabalho é realizado de forma gratuita pelas mulheres.
Após a Revolução Russa, com a construção do socialismo na União Soviética, as mulheres tiveram ampla participação política, contribuindo decisivamente para reorganizar toda a sociedade. A nova legislação socialista apresentava direitos como divórcio, direitos especiais para as mães, direito à amamentação, legalização do aborto e responsabilidade do Estado no planejamento familiar, creches nos locais de trabalho, programas de saúde, lavanderias coletivas e restaurante comunitários, a fim de tirar das mulheres a sobrecarga com os trabalhos domésticos.
Já no capitalismo, que é um regime de exploração da maioria do povo e de privilégios para uma minoria, as mulheres são duplamente exploradas: enquanto mulher e enquanto trabalhadora.
É necessário lutar para ampliar os direitos das mulheres: salários iguais, melhores condições de trabalho, vagas em creche, enfrentamento à violência, legalização do aborto, etc. Porém, para acabar com a opressão das mulheres, é preciso acabar com o capitalismo, que se alicerça sob a dupla exploração das mulheres, mais ainda das mulheres negras.
Matéria publicada na edição impressa nº 266 do jornal A Verdade