Pela primeira vez há uma chapa totalmente negra para a reitoria da UFRJ. Chapa “Redesenhando a UFRJ: Democracia, Autonomia e Diversidade”, formada por Vantuil Pereira, como candidato a reitor, e por Katya Gualter, como vice-reitora, representa a política anti privatista de defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Daniel Gomes | Rio de Janeiro
BRASIL – Desde sua criação, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, nunca teve, como chefe máximo da instituição, um reitor negro. Essa realidade não reflete todas as pessoas que circulam pelos seus campis: 40% de todos os trabalhadores da UFRJ, são negros, inclusive técnicos e docente; cerca de 60% dos estudantes da universidade, são negros ou pobres.
A elitização da instituição vem sendo gradativamente mudada com as políticas de cotas, o que mostra o acesso de estudantes vindos de vários lugares do estado e até de outras regiões. A UFRJ está passando por uma transformação, e parte dessa metamorfose é a atual eleição para a reitoria da federal.
Com uma grande lista de negros famosos que se graduaram na universidade, tais como o primeiro bicampeão olímpico do país Adhema Ferreira da Silva, o cantor Emilio Santiago e a escritora premiada Conceição Evaristo, a Chapa 20, composta por 2 negros, o decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas Vantuil Pereira para reitor e a diretora da Escola de Educação Física e Desportos Kátia Gualter para vice, quebram a triste tradição de nunca antes ter acontecido uma chapa totalmente negra para o cargo máximo.
Para além da representação
Todos nós sabemos que representação ajuda muito no orgulho negro, mas é quando ela vem com motivação real de mudar algo engessado, que podemos mensurar o poder de transformação e progresso que uma chapa, se vencedora, pode realmente fazer.
A Chapa 20 salienta o caráter privatista e o desmonte da universidade pública e ainda deixa evidente o quão antidemocrática está sendo a atual gestão, que passou como rolo compressor dois grandes projetos: a EBSERH (com caráter privatista) e a venda de um terreno do Campus da Praia Vermelha, de pelo menos 15.000 m², por 30 anos.
A atual gestão parece querer acabar com a autonomia da universidade, abrindo espaço para projetos neoliberais, que podem sim manter pretos e pobres fora da universidade, continuando a triste tradição da elitização da UFRJ.
Foi silenciando estudantes em reuniões, vetando falas de conselheiros universitários nos CONSUNIS, não consultando os discentes, docentes e trabalhadores que se deu boa parte da atual gestão, que sai num momento em que o corpo da UFRJ pede mudanças nas estruturas de poder, mais bolsas e auxílios para permanência dos estudantes e mais diálogos com seus mais de 80 mil servidores docentes, técnico-administrativos, trabalhadores terceirizados e discentes.
Redesenhando a UFRJ
Em seu programa, a chapa 20 ressalta que a UFRJ e seu corpo precisam tomar suas decisões, inclusive da escolha de seu/sua reitor/a sem interferência do governo federal. Por isso, é defendido a paridade nas eleições, fóruns e espaços institucionais da federal, visando as eleições diretas na universidade e o fim da lista tríplice.
A chapa dos professores Vantuil e Katya, acontece em um momento onde se discute o anti racismo na instituição e também sobre a grave ameaça do avanço da extrema direita no país após o governo do fascista Jair Bolsonaro.
Para estabelecer de vez a autonomia da UFRJ, a chapa 20 se compromete com o acesso e permanência de pretos, pobres, transegeneros, pcds; projetos que visam manter o tripé de Ensino, Pesquisa e Extensão como foco principal da gestão e fomento de cultura e lazer – abrindo caminhos para possibilidades reais de progresso.
Os professores trazem em sua chapa, uma vontade de mudança do cenário, apostando no diálogo com a comunidade acadêmica, para ouvir seus anseios e superar os anos de desmonte e abertura de investimentos questionáveis da atual gestão que deixa o cargo em julho.
Estamos em um momento político onde o governo atual volta a investir em educação realmente para todos, com reajustes de bolsas e verba liberadas para as universidades. É nesse cenário que a “Redesenhando a UFRJ” tem as condições necessárias para prosperar e transformar a UFRJ de uma vez por todas.
Como é dito no programa da Chapa, “não existe a possibilidade de falarmos de democracia, democratização, cidadania, direitos humanos, anti racismo, antiLGBTQIAP+fobia, anti gordofobia e anti capacitismo sem que isso se torne uma prática interna. Mas a prática significa sair do discurso e se tornar ação concreta”.