… entrevista com o organizador e fundador da Batalha da Escadaria, o Luiz “DuRap”, com o objetivo de entender mais sobre a batalha e a visão dele sobre o movimento hip hop e suas contribuições para as pessoas que são diariamente marginalizadas perante a sociedade burguesa.
Jesse Lisboa e Luiz Calaça, militantes da UJR – PE
Dentro das periferias, onde a população é marginalizada e sofre diariamente um processo de genocídio, uma das maiores armas para a sobrevivência é a cultura. Dessa forma, uma das expressões mais atuais da cultura periférica é o hip hop (rap), movimento que nasce da cultura negra e latina nos EUA. Evidentemente, o movimento tem como objetivo ser a voz dessas populações historicamente excluídas e servir de instrumento de sobrevivência, já que o direito à vida dentro dessas comunidades é negado a todo tempo.
Tendo isso em vista, percebe-se a importância social do rap, e aqui no Brasil não é diferente. O rap surgiu no Brasil, principalmente, na década de 80, abordando temas como a criminalidade e muitos outros problemas das favelas brasileiras. A partir disso, temos grandes ícones como o Sabotage, Racionais MC, Negra li e muitos outros, e todos com a característica principal de tratar da realidade das periferias, abordando temas muito importantes e quebrando estigmas sociais. Para além disso, ocorre também o surgimento das chamadas “batalhas de rap”, um espaço onde há disputa de rimas, trazendo cultura e lazer para as comunidades e para a população jovem.
Nesse contexto, quando olhamos a cena do hip hop atual, temos muitas diferenças desde o seu início, especialmente devido à popularização do gênero no Brasil. Assim, temos novos símbolos de combate às opressões que carregam o legado do hip hop, como Djonga, Marechal, Sant e muitos outros. Conjuntamente com a popularização do estilo de música “da rua”, se popularizam as batalhas de rima, surgindo muitas por todo o Brasil, como exemplo a Batalha do Conhecimento no RJ, Batalha do Museu no DF e, a mais famosa, a Batalha da Aldeia em SP.
Consequentemente, esse processo também ocorre no estado de Pernambuco, tendo inclusive forte influência do movimento Mangue Beat, com grupos como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Faces do Subúrbio e o grande ícone da cena, Chico Science. Da mesma maneira, também cresce muito a cena das batalhas pernambucanas, com grandes exemplos atuais como a Batalha da Duque, em Goiana, Batalha dos Bruxos, em Arcoverde, e a principal representante da capital, a Batalha da Escadaria em Recife, existente desde 2008.
Tendo isso em vista, resolvemos fazer uma entrevista com o organizador e fundador da Batalha da Escadaria, o Luiz “DuRap”, com o objetivo de entender mais sobre a batalha e a visão dele sobre o movimento hip hop e suas contribuições para as pessoas que são diariamente marginalizadas perante a sociedade burguesa:
A Verdade — Como surgiu a batalha da escadaria e qual é a história dela?
Luiz – A batalha da escadaria surgiu assim: eu fazia parte de um grupo de rap que, na humildade, era conhecido no Brasil todo. Em 2007 a gente decidiu acabar, todo mundo é amigo até hoje, mas o grupo acabou. Mas eu queria dar uma continuidade para que meu estado continuasse com a mesma visibilidade, e eu já tinha ideia de criar uma batalha, mas aí como o grupo acabou foi, de certa forma, um incentivo a mais, porque era uma correria a menos pra surgir a correria da batalha, sabe? E eu criei ela em 2008, esse ano ela vai fazer 15 anos, para que meu estado continuasse com a mesma relevância de que já tinha antes dos grupos, como Faces do Subúrbio, Sistema X e Os inquilinos que era o grupo que eu fazia parte, continuar com a mesma história só que dessa vez com batalha de MC, que era uma parada bem inovadora, que não existia aqui no Norte-Nordeste, da forma da Escadaria.
A Verdade — Qual o real intuito da batalha?
Luiz – Ser hip hop, né? Porque uma batalha qualquer pessoa pode fazer, mas se você for ver na Escadaria, ela não é melhor do que a de ninguém, de nenhuma outra batalha que existe, mas ela tem um diferencial, e ela é falada por vários MCs do Brasil. Por ser das poucas batalhas que levam o hip hop a sério. A gente é o estado que há 10 anos consecutivos vai MC pra BH, onde acontece o Duelo Nacional.
A Verdade — Já que você falou que a motivação é o hip hop, o que é o hip hop pra você?
Luiz – O hip hop é um modo de vida, mano. É uma luta de resistência das negras e dos negros, das periferias do mundo. É o grito dos excluídos, né?
A Verdade — Como você se mantém motivado para poder fazer esse corre, essa organização, o evento, tudo isso?
Luiz – É, são 15 anos né. Sozinho a gente chega em algum lugar, acompanhado a gente chega mais longe. Eu fundei e organizo, mas tem vários amigos e amigas que me ajudam, como hoje que a gente vai fazer uma edição no Skatepark da Aurora que é a última seletiva pro festival, que vai ter Batalha da Escadaria, Djonga, Racionais, BaianaSystem, no mesmo palco, tá ligado? Os caras que tão andando aqui de skate são das antigas e fazem por amor, e aí é a consequência, do amor que você faz e as coisas vão acontecendo.