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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Cecilia Jaramillo: “As mulheres demonstram sua força e organização em todas as lutas do Equador”

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Durante o ano de 2022, o povo equatoriano foi exemplo de luta para os povos da América Latina. Num estopim causado pelo aumento dos combustíveis, milhares de pessoas marcharam e ocuparam a capital do país, para exigir soberania e uma vida digna. A Verdade conversou com Cecilia Jaramillo, professora do Departamento de Filosofia da Universidade Central do Equador, que foi candidata ao governo da província de Pichincha, situada na capital, Quito, pela Unidad Popular (UP). Cecilia é integrante do Movimento Mujeres por el Cambio e do Comitê Preparatório do 3º Encontro de Mulheres da América Latina e Caribe.

Indira Xavier, Coordenação do Movimento Olga Benario


A Verdade – No último ano, o Equador foi palco de uma grande revolta popular, com ampla participação de indígenas, trabalhadores, mulheres e jovens. Qual a avaliação desse processo de luta? 

Em junho de 2022, foi realizada em nosso país uma grande Paralisação Indígena e Popular, convocada pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), juntamente com a Frente Unitária dos Trabalhadores (FUT) e a Frente Popular. Somaram-se a estas as principais organizações sociais e políticas, de caráter anti-imperialista e de esquerda, urbanas e rurais. Esta paralisação contou com grande adesão do povo, que se mobilizou durante 18 dias em todas as províncias. Esta importante jornada de lutas enfrentou as políticas neoliberais aplicadas pelo presidente Guillermo Lasso, que é o representante dos interesses dos setores de direita e dos grandes grupos econômicos capitalistas.

Apesar da grande ofensiva midiática e da violenta repressão, que custou a vida de seis combatentes e feriu centenas de manifestantes, a combatividade dos diversos setores populares se intensificou e essa luta obteve uma grande vitória porque o governo teve que recuar. Conquistamos: a revogação do decreto 095, que propunha a expansão da fronteira petrolífera; barramos o aumento dos combustíveis; conquistamos um decreto de emergência para investimentos na área da saúde; impedimos o avanço na exploração desenfreada do nosso minério; além de impor um processo de diálogo com o movimento indígena para concretizar as reivindicações levantadas na plataforma grevista.

Apesar de os processos de diálogo não terem sido cumpridos, o povo conseguiu uma grande vitória contra o neoliberalismo, demonstrando que a luta é o caminho que os povos têm para conquistar seus direitos.

Como foi a participação do movimento de mulheres nesta luta?

A paralisação contou com um grande contingente de mulheres indígenas, camponesas, trabalhadoras, estudantes, jovens, etc. Este contingente foi decisivo para a conquista das vitórias alcançadas. Observamos uma participação massiva das mulheres em todas as províncias, com grande grau de combatividade e presença marcante na linha da frente do combate. Foi um dia em que as mulheres estiveram na primeira fila e demonstraram sua força e capacidade de organização e luta. Foram inúmeras as experiências de mobilização, heroísmo e liderança das mulheres. Também ficaram evidentes as diversas formas de solidariedade e atenção à segurança dos manifestantes, bem como o envolvimento com a logística de alojamento e alimentação para garantir a mobilização dos milhares de camponeses que marcharam para a capital do país. Além de cuidarem das crianças das mulheres que estavam na linha de frente da luta. Os movimentos de mulheres tiveram uma grande presença e constituíram um dos pilares essenciais para a luta do povo pela sua emancipação. Nossa organização Mujeres por el Cambio, como parte da Frente Popular, teve uma presença marcante, sendo reconhecida como uma organização que luta pelos direitos das mulheres.

Qual foi a resposta do governo de Guillermo Lasso?

O governo de Lasso sofreu uma grande derrota com esta mobilização, mas, ao invés de cumprir os acordos que determinavam a suspensão da paralisação, persistiu na aplicação de medidas antipopulares. A partir de 22 de junho, o governo passou por um processo de desgaste permanente, que atualmente é evidente na grave crise política em que vive o Equador e na instalação do julgamento que prevê a cassação do presidente. É um governo que tem os maiores índices de rejeição, contando com apoio de apenas 9% da população, e o descontentamento cresce devido aos graves conflitos causados ​​pelo aumento da criminalidade, do narcotráfico e da insegurança. A saúde e a educação estão em crise e cresce a mobilização de trabalhadores, camponeses, jovens e de diversos setores populares.

Como avaliam o resultado das eleições que aconteceram em março? Como ficou a representação dos movimentos de mulheres?

Os resultados das eleições de postulantes para os governos provinciais consistiram em uma grande vitória para as forças políticas de esquerda e democráticas. O Movimento de Unidade Plurinacional – Pachakutik, que é o braço político da organização indígena Conaie, agora é a segunda força política do país.

A UP cresceu enormemente, sendo hoje uma força política com vitórias nas 24 províncias do país, com candidatos eleitos para diferentes cargos. Elegemos dois governos de províncias, 13 prefeituras, 101 vereadores municipais e mais de 350 representantes nos conselhos de participação popular camponesa em todo o país. Uma vitória muito importante!

É importante destacar que as forças correístas também obtiveram vitórias, que se expressam como força de esquerda perante um importante setor do povo equatoriano. Portanto, precisamos trabalhar entre os diversos setores populares para esclarecer seu verdadeiro caráter direitista e populista, pois são corresponsáveis pela atual crise no país devido aos efeitos das políticas estabelecidas durante o governo de Rafael Correa.

Neste processo eleitoral, os partidos e movimentos políticos foram obrigados a designar 50% das suas candidaturas a mulheres, além de uma percentagem significativa de candidaturas de jovens, de indígenas e de pessoas dos setores populares, de acordo com as normas estabelecidas para garantir a igualdade de gênero.

Nosso movimento teve candidatas aos principais cargos em muitas províncias. Em Pichincha, que é a província onde fica a capital, Quito, as principais candidatas foram as lideranças das Mujeres por el Cambio e o apoio eleitoral foi muito importante. Hoje, temos muitas camaradas eleitas para os diferentes cargos, nos dois governos provinciais que elegemos da UP, assim como nos demais espaços de decisão política das prefeituras locais.

Em julho, haverá o Encontro de Mulheres da América Latina e do Caribe. Como o movimento de mulheres do Equador tem se preparado para participar? 

Sediamos o 2º Encontro, em outubro de 2018, e esta valiosa experiência nos comprometeu a trabalhar pela organização e sucesso do 3º Encontro. Trabalhamos nesses anos de forma responsável e sistemática. Organizamos um encontro com as mulheres da região Andina, em agosto de 2022, para fortalecer o processo de participação das mulheres dos setores populares e da esquerda.

Em quase todas as províncias foram organizados os Comitês Preparatórios do 3º Encontro e realizamos muitas atividades temáticas de debate, também estudamos a convocatória e o regulamento e estamos desenvolvendo campanhas de financiamento para as participantes chegarem até o Brasil. Teremos uma delegação ampla e unitária, de diferentes províncias, composta por diferentes organizações de mulheres, sindicatos, camponesas, indígenas, estudantes, donas de casa, acadêmicas, etc. É uma delegação que expressa a diversidade do movimento de mulheres dos setores populares do Equador.

Realizamos fóruns e eventos, presenciais e virtuais, durante os anos de construção entre um Encontro e outro; participamos ativamente das jornadas de luta contra a violência contra a mulher, em novembro; nas mobilizações do dia 8 de Março e do Dia Internacional do Trabalhador, 1º de maio. Também participamos das lutas pelas reivindicações pelos direitos das mulheres, das mobilizações contra os feminicídios, pela aprovação da Lei do direito ao aborto legal e seguro, por segurança, emprego, educação e saúde para as mulheres.

Divulgamos as lutas e ações de nossas companheiras de diferentes países e nos preparamos para participar com entusiasmo deste 3º Encontro, porque sabemos da importância que tem para o fortalecimento de um movimento de mulheres anti-imperialista, anticapitalista e antipatriarcal na América Latina e no Caribe.

Matéria publicada na edição nº269 do Jornal A Verdade.

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