Falhas viraram rotina no metrô de São Paulo desde privatização de linhas. Empresas privadas fornecem serviço ruim e péssimas condições de trabalho a empregados. Governo de SP pretende piorar cenário privatizando mais linhas.
Giovanna Massafera | São Paulo
BRASIL – Desde a concessão cedida à Via Mobilidade pelo governo do estado de SP, no começo de 2022, o número de ocorrências de falhas registradas chegou a 132. Um aumento significativo em relação à gestão da CPTM.
De janeiro a março de 2022, no início da operação da empresa, as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda apresentaram 30 falhas. Este trecho é responsável por transportar cerca de 1,1 milhão de passageiros por dia nas regiões Oeste e Sul da cidade de São Paulo.
Falhas na circulação, velocidade reduzida, descarrilamentos, acidentes com trabalhadores, princípios de incêndio e até batidas se tornaram rotina para as pessoas que frequentam estas linhas. O Ministério Público chegou a realizar um pedido de rescisão do contrato de concessão após o registro do terceiro descarrilamento de um trem na linha Diamante.
Há relatos, também, sobre o tempo de preparação dos trabalhadores que operam as linhas. Anteriormente, a CPTM exigia entre 6 a 8 meses de treinamento dos funcionários, e até dez meses para os maquinistas. A realidade hoje para as linhas 8 e 9 é de um treinamento de no máximo quatro meses de duração. É importante levar em consideração a carga horária diária de 12 horas de trabalho dos funcionários da empresa.
Acidentes em linhas privatizadas ameaçam vidas de trabalhadores
Esta realidade interfere não somente nos serviços prestados aos milhões de passageiros que atravessam a cidade diariamente, mas também um risco iminente aos trabalhadores da Via Mobilidade – concessionária pertencente ao grupo CCR. Em março de 2022, um jovem haitiano trabalhador do setor de manutenção da empresa, morreu eletrocutado enquanto prestava um serviço de reparação em um transformador.
A empresa tenta se ausentar da responsabilidade da situação, jogando a culpa na CPTM, mas não explica porque depois de quase um ano e meio de concessão ainda não adequou o funcionamento das duas linhas. E pior, o cenário coloca em xeque o discurso de que a privatização serve para melhorar o serviço prestado às pessoas.
O Grupo CCR, que está presente em concessões de rodovias, aeroportos, serviços e mobilidade em vários estados do país, teve um lucro líquido registrado no 4º semestre de 2022 de 182,6 milhões de reais. Junto a isso, o número de reclamações dos passageiros que percorrem as linhas todos dias também aumentou.
Governo de SP quer privatizar o transporte público
O desmonte do transporte público ferroviário (e de outras áreas como educação e saneamento) promovido pelo governo do estado de São Paulo – iniciado pela gestão Dória/Rodrigo Garcia (PSDB) e continuado hoje pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) – pretende realizar tais concessões tanto de linhas da CPTM quanto do Metrô de São Paulo.
Este plano tem a pretensão de “esticar” essas concessões para as linhas 7 e 10 da CPTM (e também a futura linha 14-Ônix), que ligam o ABC à Jundiaí. Também estão inclusas as linhas 11-Safira, 12-Coral e 13-Jade que atendem a região da Zona Leste e Alto Tietê. Este pacote de entregas significaria a extinção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM.
Em carta aberta distribuída à população nas estações no começo de março, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de São Paulo ressalta: “O Governo deve investir para melhorar, mais ainda, a CPTM e não deixar o transporte de passageiros na mão de quem piora o funcionamento do sistema. Essa é uma luta de todos em defesa do patrimônio do povo e em defesa de uma melhor qualidade nos serviços prestados aos cidadãos.”
É necessário que se coloque força na campanha junto à categoria ferroviária e à população na luta contra esta entrega dos serviços estatais de transporte e também na reestatização das duas linhas que hoje estão nas mãos do setor privado. A concessão das linhas da CPTM faz com que o dinheiro público seja destinado ao lucro da grande burguesia e dos empresários, e como consequência o povo paga do próprio bolso a prestação de um serviço cada vez mais precário, colocando em risco a vida de passageiros e trabalhadores, além do aumento abusivo das tarifas.