Empresas de tecnologia passam por demissões em massa em um movimento coordenado com o mercado financeiro, buscando manter lucro e consequentemente trazendo precarização e insegurança aos trabalhadores.
Núcleo Centro-Sul da Unidade Popular
TRABALHADOR UNIDO – Apesar dos anúncios de lucros bilionários, temos visto diversas notícias de demissões em massa em empresas de tecnologia pelo Brasil e pelo mundo. Em um movimento coordenado com o mercado financeiro, as mais diversas empresas de tecnologia têm anunciado demissões de forma recorrente desde o final de 2022.
O iFood chegou a demitir 355 funcionários no dia 01 de março, enquanto o Nubank anunciou demissões em 1º de fevereiro e 10 de março. Nesta empresa, houve até mesmo pagamentos para que funcionários demitidos não a criticassem publicamente.
Estas demissões não estão acontecendo porque as empresas estão com problemas financeiros. Em 25 de abril, a Microsoft anunciou um lucro de 18,3 bilhões de dólares, o que representa aumento de 9% no lucro líquido. Em janeiro a empresa havia anunciado demissão de 5% da sua força de trabalho e cortou cerca de 10.000 empregos.
Ao final do mês de abril a Meta, empresa detentora do Facebook e Instagram, anunciou receita de 28,6 bilhões de dólares e aumento no lucro líquido em relação ao trimestre anterior. Suas ações subiram 9% e ainda assim anunciou uma nova rodada de demissões horas após anunciar os lucros.
Em sites como https://layoffsbrasil.com vemos também que diversas empresas brasileiras de tecnologia passaram por demissões em massa nos últimos meses.
Diminuição de demanda pós-pandemia não justifica tantas demissões
Algumas empresas trazem como motivo principal para demissões o mundo pós-pandemia. Tentam se justificar dizendo que a demanda por serviços e plataformas virtuais está caindo conforme as pessoas voltam a sair de casa e as contratações feitas durante a pandemia se mostram hoje exageradas.
Quanto à demanda, é no mínimo estranho que as empresas tragam esse argumento quando elas mesmas possuem controle sobre o preço de seus produtos e serviços. Se a demanda vinda da população diminuiu, era de se esperar então que as empresas diminuíssem seus preços para que se mantivessem competitivas.
Isso, no entanto, não aconteceu. Pedidos feitos pelo aplicativo da empresa iFood, por exemplo, não ficaram mais baratos com a diminuição dos números da pandemia. E a lógica é simples: os donos de empresas não querem deixar de lucrar de jeito algum.
Grandes investidores pressionam empresas a encerrarem produtos e serviços
Investidores costumam apostar em diversas empresas mais jovens do setor, as chamadas “startups”, com a expectativa de que retornem lucros milionários e até bilionários sobre suas apostas. Tais investidores são pessoas ou empresas que detêm capital e podem investir tranquilamente milhões e até mesmo bilhões em várias empresas ao mesmo tempo.
Ocorre que recentemente houve aumentos nas taxas de juros dos bancos centrais do BrasiL e dos Estados Unidos. Com juros maiores, títulos públicos ficaram mais rentáveis do que investir em algumas empresas e afastou investidores.
Empresas de tecnologia costumam pedir por mais investimento, tanto em termos de infraestrutura quanto em termos de formação necessária para seus trabalhadores.
Além disso, se uma empresa não consegue mostrar que algum produto ou serviço trará não só lucro à empresa, mas também mais lucro aos investidores do que os títulos públicos, os investidores simplesmente param de investir na empresa. Quem comanda esses investimentos é parte da burguesia contemporânea.
Com isso, empresas se veem fadadas a encerrarem produtos e serviços inteiros por falta de investimento. Os funcionários passam, da noite para o dia, a não ter mais o que fazer na empresa. O mais comum de acontecer neste momento é uma demissão, motivada justamente pelos investidores.
Tais demissões agravam a marginalização no setor. Iniciativas de diversidade e inclusão de minorias costumam ser imediatamente cortadas das ações de recrutamento da empresa.
Um desenvolvedor de software, que preferiu não se identificar, comentou que foi demitido de sua empresa junto com as duas únicas mulheres desenvolvedoras de software da empresa, na semana do 8 de março.
Junto às demissões em massa, percebe-se também um movimento das empresas para a redução de salários.
Em janeiro deste ano, após um anúncio de demissão de funcionários na Google, um fundo de investimento enviou um comunicado ao CEO da empresa, Sundar Pichai. Foi sugerido não só a demissão de mais pessoas da empresa, mas que “materialmente reduzissem” os salários e bônus dos funcionários da área de tecnologia.
Trabalhadores de Tecnologia precisam se organizar
É difícil ir às ruas protestar e reivindicar direitos quando a preocupação maior é se haverá dinheiro para sobreviver. Quanto maior a ajuda para recolocação no mercado de trabalho, menores os danos causados por estes investidores burgueses.
Trabalhadores empregados ou atentos a vagas no setor de Tecnologia devem indicá-las a trabalhadores demitidos e trabalhadores do setor devem questionar ofertas de emprego sem carteira assinada. Contratos no regime CLT protegem o trabalhador e compensam com verbas rescisórias demissões sem causa, como é o caso das demissões em massa.
Motivamos também a associação a sindicatos do setor de tecnologia. Eles podem e devem auxiliar em negociações com as empresas, trazendo assistências financeiras e jurídicas quando empresas realizam demissões. Devemos pressioná-los a reagirem contra elas.
Finalmente, é necessário lutarmos pela revogação da contra-reforma trabalhista do ex-presidente Michel Temer em 2017. Esta reforma não gerou empregos como prometido, reduziu a renda, e precarizou o trabalho de todas as categorias. Os direitos trabalhistas foram minados, e os sindicatos estão enfraquecidos.
Devemos cobrar o governo e, principalmente, organizar os trabalhadores da tecnologia para reivindicar nossos direitos.