Diante do cenário de constante violência às mulheres, a Rede Acolher foi fundada pelo Movimento Olga Benario no fim do ano de 2022 com um objetivo evidente: acolher mulheres vítimas de violência de gênero e, principalmente, denunciar o Estado capitalista, que é ineficiente em combater o machismo e o feminicídio.
Kivia Moreira* | Natal
MULHERES – O Brasil é o 5° país mais perigoso para mulheres, havendo assassinatos de mulheres entre um a cada quatro, conforme a Organização Mundial da Saúde. Segundo o antigo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, apenas, no primeiro semestre de 2022, houve 31.398 denúncias e 169.676 casos envolvendo a violência doméstica contra as mulheres.
Apesar desses fatos revoltantes da situação da violência às mulheres, as políticas públicas de combate ao machismo são ínfimas: no governo Bolsonaro, houve corte de 95% de programas e políticas de combate ao feminicídio e violência de gênero. Não é à toa, por exemplo, que diante desses cortes, houve o aumento discrepante de casos de morte e violência às mulheres.
Diante desse cenário, pouco o Estado Brasileiro faz pelas trabalhadoras. Até o momento, há apenas 492 delegacias especializadas em atendimento às mulheres no país, sendo somente 60 delas funcionando 24 horas.
A Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que, até o final do atual Governo Lula, em cada capital do país haverá uma Casa da Mulher Brasileira, que é uma casa de referência especializada em atendimento às mulheres vítimas de violência. No total, haverá 40 novas casas, somando-se às sete já existentes. Apesar da decisão importante para combater o cenário de violência constante sofrida pelas mulheres, isso não é o suficiente.
Afinal, como afirma a revolucionária e teórica soviética Alexandra Kollontai “ o reconhecimento formal dos seus direitos no capitalismo e na ditadura burguesa de modo algum a isenta de viver, na verdade, uma vida de serva para sua própria família; não lhe garante mais proteção contra os preconceitos, tampouco contra os costumes da sociedade burguesa; não a liberta da dependência de seu marido e, finalmente, o que é determinante, não a liberta da exploração capitalista.”¹
Diante do cenário de constante violência às mulheres, a Rede Acolher foi fundada pelo Movimento Olga Benario no fim do ano de 2022 com um objetivo evidente: acolher mulheres vítimas de violência de gênero e, principalmente, denunciar o Estado capitalista, que é ineficiente em combater o machismo e o feminicídio.
FUNCIONAMENTO DA REDE ACOLHER
A Rede Acolher funciona através de algumas atividades: plenárias, cursos de formação, patrulhas do Olga e plantões de atendimento. A rede compreende a importância da construção de uma consciência política das mulheres sobre a violência que sofreram ou sofrem. Violência doméstica não é caso isolado, mas sistêmico. Por isso, há construção de rodas de conversa, plenárias da Rede Acolher, além de cursos de formação para avançar politicamente as mulheres.
As duas principais atividades da rede consistem em patrulhas do Olga e plantões de atendimento. Atualmente, a rede constrói patrulhas mensais, que são visitas aos espaços de acolhimento feminino, a exemplo de delegacias e centros de referência. O intuito dessas visitas é conhecer o espaço, a estrutura e o funcionamento, além de criar relações com as assistentes sociais, psicólogas e coordenadoras desses locais. Contudo, a patrulha possui fundamento em denunciar a realidade da estrutura de atendimento às mulheres, com falta de orçamento devido à negligência do Estado, esses locais possuem limitações profundas – por exemplo, no estado do Rio Grande do Norte, há somente 40 vagas para casas abrigos, sendo sempre lotadas.
Acerca dos atendimentos, os plantões da rede funcionam de forma mensal em ocupações, escolas secundaristas e universidades. Para a divulgação, há passagens em sala, panfletagem, divulgação do atendimento nas assembleias das ocupações, entre outros. Para a construção do plantão, há preparação de uma semana para haver ampla divulgação do atendimento.
No dia do plantão, as voluntárias da Rede Acolher se dividem em quatro equipes: atendimento, recepção, divulgação e brinquedoteca. Na equipe de atendimento, ficam as profissionais: psicóloga, advogada ou assistente social, sendo responsáveis em acolher a demanda da mulher e dar acolhimento e orientações. Os atendimentos duram em torno de 30 minutos. Na equipe da recepção, fica a voluntária em entregar as fichas da ordem de chegada e controlar a ida e saída das mulheres nas consultas. Na equipe de divulgação, são as voluntárias que passam em sala, panfletam pelas ocupações e bairros vizinhos para comunicar a realização da atividade. Na equipe de brinquedoteca, geralmente necessária nos atendimentos em bairros, são as voluntárias que cuidam das crianças enquanto ocorre o atendimento.
CONSTRUÇÃO DA REDE PARA ORGANIZAR AS MULHERES CONTRA A VIOLÊNCIA
A Rede Acolher tem um papel fundamental, que perpassa pelo acolhimento às mulheres: a organização da luta contra a violência doméstica e o machismo através da coletividade.
Não pode haver ilusão. No sistema capitalista, a violência às mulheres continuará a ser uma realidade, pois “a discriminação que vitima mulher, assim como sua dependência, só poderão ser definitivamente superadas quando a sociedade adotar um novo sistema no qual a produção e o consumo coletivos substituam a propriedade privada – isto é, mediante a vitória do comunismo.” ²
Por isso, a rede é ferramenta de desmascarar as contradições do capitalismo para as mulheres, organizando-as pelo fim do sistema capitalista e lutando pelo socialismo, sistema que verdadeiramente libertará as trabalhadoras de toda a violência e machismo.
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¹ Movimento feminista e o papel da mulher trabalhadora na luta de classes – Alexandra Kollontai
² A origem da “questão das mulheres” – Alexandra Kollontai
*Coordenadora Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario no RN