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terça-feira, 7 de maio de 2024

Cerca de 2 milhões de uruguaios estão sem acesso a água potável

Localizado sobre o maior reservatório de água doce do mundo, o aquífero Guarani, drama dos hermanos evidencia disputa de potências internacionais pelos nossos recursos naturais.

Bruno Cerutti | Curitiba


INTERNACIONAL – Nas últimas semanas, moradores de Montevidéu e região metropolitana, território com mais de um milhão e meio de habitantes, estão recebendo nas torneiras de suas casas água com gosto estranhamente salgado.

A mudança veio depois de uma medida da Unidade Reguladora de Serviços de Água e Energia (URSAE), que aumentou temporariamente os níveis de sódio por litro de água que a OSE (Obras Sanitárias do Estado) pode fornecer aos habitantes da capital uruguaia, elevando de 200 para 440 miligramas. Mais que dobrando, o aumento deve permanecer por pelo menos até julho.

Entidades de acompanhamento e monitoramento da qualidade das águas no mundo, dentre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS), emitiram alerta sobre essas populações privadas de água potável. A comissão nacional em defesa da água e da vida se pronunciou através de seu presidente, o antropólogo Carlos Santos: “O Uruguai, que foi o primeiro país do mundo a incluir por iniciativa popular o direito humano a água em sua constituição, acaba de adotar uma série de medidas que determinam a não-potabilidade da água do sistema metropolitano”.

A medida veio como uma tentativa de contenção emergencial da crise hídrica que o país vem sofrendo.  A represa de Canelón Grande, a 61 km de Montevidéu, apresenta os menores níveis desde que se iniciaram os registros, em 1949. O país sofre com uma seca histórica pelo terceiro ano consecutivo, e movimentos sociais denunciam que não são fenômenos naturais como o el niño ou a la niña.

Milhares de pessoas foram às ruas da capital uruguaia para protestar pelo seu direito e cobrar as autoridades respostas concretas sobre as mais flagrantes contradições. Por que um país localizado sobre o maior reservatório de água doce do mundo, um país que tirou o seu nome justamente de um rio, que foi o primeiro a garantir água para todos na letra da Lei, infringe tamanho castigo ao seu povo?

A situação de seca inédita está sendo causada por empresas florestais, a principal delas, a estatal finlandesa UPM, que cultivam no solo uruguaio mais de 250 mil hectares, cerca de um quarto do território, de eucalipto para suprir enormes usinas de celulose que abastecem o mercado internacional. A vegetação invasora utiliza toda a capacidade de água do solo e não repõe, diminuindo consideravelmente o regime de chuvas da região.

Com as bacias hidrográficas não resistindo e se enfraquecendo, o mar avança muito mais adentro do Rio da Prata, causando o aumento da quantidade de sal da água, o que torna mais difícil e caro e seu tratamento. As plantas de dessalinização de água não receberam o investimento necessário para se adaptar, apesar dos muitos avisos, o que obrigou os órgãos reguladores a aumentar os níveis de sal na água para não cortar o abastecimento.

O governo de extrema-direita de Lacalle Pou recomendou através de seu ministério da saúde que “quem tiver condições, que consuma preferencialmente água engarrafada, especialmente pessoas com doença renal crônica, insuficiência cardíaca, cirrose e grávidas”.

Tudo isso somente evidencia a chaga colonial que carregam os países latinos sendo continuamente explorados por países que enriqueceram saqueando e escravizando esses e todos os outros povos do globo.

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