Exploração capitalista leva planeta a catástrofe ambiental, aponta relatório

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Capitalismo está levando o mundo a uma catástrofe ambiental de escala global. Relatório científico aponto que medidas paliativas hoje não estão paralisando o aquecimento global e a crise climática.

Pietro Morgado e Ramilly Moreira | São Bernardo do Campo-SP


INTERNACIONAL – No dia 20 de março de 2023 foi publicado o sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), incentivado pelas Nações Unidas (ONU). O documento reúne informações que foram estudadas, revisadas e formuladas por uma equipe de mais de 600 cientistas de diversos países do mundo.

As notícias contidas nas páginas do relatório são devastadoras. As metas globais que haviam sido estipuladas para a redução da emissão de gases de efeito estufa não foram alcançadas. Além disso, a demanda imposta após o Acordo de Paris, em 2015, era de que o aquecimento do planeta não ultrapassasse o limite de 1,5 °C até 2100 e, segundo o IPCC de 2023, as medidas adotadas pelos países nestes últimos anos nesse sentido, são consideradas insuficientes.

É fato que já estamos vivendo os impactos causados pelo aumento de 1,1 ºC na temperatura da Terra. Ventos climáticos cada vez mais intensos e desastrosos, aumento da temperatura do mar, recuo das geleiras, escassez de água para a população, mudanças em todos os ecossistemas do planeta e por aí vai. O relatório relata ainda que, na África, a produtividade agrícola diminuiu 33% desde 1961. Também, desde 2008 as inundações e tempestades extremas em África levaram mais de 20 milhões de pessoas a deixar suas casas todos os anos. 

As regiões costeiras do mundo todo também estão sofrendo com as mudanças climáticas. O aumento do nível do mar já obrigou milhares de famílias a abandonarem seus lares, além da extinção do primeiro mamífero extinto por conta do aquecimento global: Melomys rubicula, um roedor que habitava uma ilha que foi completamente imersa pelo aumento do nível do mar.

Mas quem é responsável por isso?

O IPCC atribui essas mudanças climáticas à exploração dos recursos da terra, como o uso insustentável de energia, a transformação de terras e a danificação desses espaços, os padrões de consumo e estilo de vida da sociedade. Porém, em nenhuma das páginas há o verdadeiro responsável por todos esses tipos de exploração: o sistema econômico que rege o mundo, o capitalismo.

Este sistema beneficia alguns, e gera diversas consequências negativas para muitos, inclusive para o planeta, como estamos observando. O capitalismo se sustenta a partir da exploração do planeta e dos trabalhadores, buscando altos lucros instantâneos, a curto prazo e deixando a longo prazo o fim do mundo como única herança.

O relatório menciona a existência de uma grande dificuldade no redirecionamento dos recursos financeiros para ações à favor do clima. Mas o que o relatório não quer apresentar é que, na verdade, para os donos dos meios de produção é mais fácil continuar investindo em fontes de energia não sustentáveis, ou em qualquer baboseira para inflar seus egos, do que planejar uma transição ecológica que garanta um futuro livre de desastres para as gerações futuras. Afinal, alguns desses burgueses desalmados já planejam a colonização de Marte, como se até mesmo um planeta pudesse ser descartável.

A injustiça climática no mundo capitalista e desigual

As mudanças climáticas já têm contribuído para o aumento da desigualdade social, e só vai piorar se não enfrentarmos o verdadeiro responsável pelas mudanças climáticas: o capitalismo.

10% das famílias mais ricas do mundo, as quais habitam países “desenvolvidos” (favoráveis economicamente por terem explorado diversos países no passado e nos dias de hoje), emitem mais de 45% dos gases de efeito estufa (GEE) que estão presentes na atmosfera do nosso planeta, destruindo uma atmosfera de todos. Por outro lado, 50% das famílias das rendas mais baixas, as quais estão em países em desenvolvimento, são responsáveis por apenas 15% das emissões de GEE.

Porém, por mais que as famílias mais pobres não carreguem a responsabilidade das mudanças climáticas, essas são as pessoas que mais sofrem com as consequências desses eventos. As comunidades mais pobres e marginalizadas são as mais afetadas pelas mudanças climáticas: sofrem com as inundações, deslizamentos, secas, desbarrancamentos, e pagam muitas vezes, com suas vidas.

Entre os anos de 2010 e 2020 a taxa de mortalidade devida às tempestades, inundações e secas foi 15 vezes mais alta nos países mais vulneráveis às mudanças climáticas do que nos países menos vulneráveis. Além disso, o relatório relata que cerca de 3,6 bilhões de pessoas vivem em locais altamente vulneráveis à mudança do clima, e o nordeste brasileiro é um dos pontos mais vulneráveis do continente.

De que forma o Brasil está inserido nisso?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na cidade de São Paulo há 335.756 domicílios em aglomerados subnormais nas áreas de encostas e margens de corpos hídricos. Estas são as construções de periferia de uma população vulnerável economicamente e ambientalmente. Uma questão habitacional e política não tratada pelo Estado, já que pela Constituição Federal de 1988 além de a moradia digna ser um dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros, o meio ambiente ecologicamente equilibrado também é de seu direito (Artigo 225). Porém, como vemos na realidade, nenhum modo de vida digno retratado na Constituição é prioridade para o governo.

O IPCC também provou fatos do descaso do governo com a população mais vulnerável: 40 milhões de crianças brasileiras já estão expostas aos riscos ambientais, as quais vivem majoritariamente nas periferias. Ou seja, é o direito das futuras gerações sendo negado pelas consequências do sistema econômico global. Além disso, em 2021 mais de 2 milhões de pessoas foram mortas, desaparecidas, desalojadas ou feridas pelos desastres ambientais no Brasil. E as mudanças climáticas desenfreadas colocaram em risco a segurança alimentar da população em 62% dos municípios da Amazônia Legal, um dos lugares mais vulneráveis economicamente no país, justamente o local com maior porcentagem de povos originários brasileiros.

A solução é construir o socialismo

O fato é que não existe saída dentro do capitalismo para esse problema. Os capitalistas sempre irão inventar todo tipo de desculpa para justificar a manutenção desse modo de produção exploratório, escapando a todo momento das reais formas de resolver as questões climáticas, que no fim da linha não estão entre as prioridades deles.

Apenas quando o poder estiver nas mãos do povo trabalhador, nas mãos daqueles que realmente sofrem com as mazelas do desequilíbrio climático, é que essas questões serão resolvidas de fato. É por isso que cada vez mais se torna urgente a construção de um novo mundo, regido por novas regras, que se caracterize por um modelo de produção que não priorize o lucro mas sim a vida.