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domingo, 22 de dezembro de 2024

Qual o real significado das Jornadas de Junho de 2013?

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Manifestações populares de junho de 2013 completam 10 anos. Mobilizações históricas do povo colocaram em xeque os problemas do capitalismo no Brasil. Jornadas de Junho ainda são uma disputa na memória do país.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Neste mês lembramos dos 10 anos das manifestações de junho de 2013. O que começou como uma mobilização contra o aumento das passagens de transporte público, se tornou em poucos dias num questionamento geral ao sistema político do país.

Na época o país estava sob a presidência de Dilma Roussef (PT) e o Congresso era comandado pelo mesmo Centrão que hoje chantageia o novo governo Lula. A diferença é que, naquele ano, o Centrão era comandado pelo MDB de Michel Temer, Romero Jucá e Eduardo Cunha e não pelo PP de Arthur Lira e cia. 

Também vivíamos as consequências da crise financeira de 2008, que chegou no Brasil naquele ano com força. O governo da época, diante da pressão da Faria Lima e do Congresso cedia cada vez mais direitos sociais, ampliava privatizações e cedia ao agronegócio com o novo Código Florestal.

Revolta contra sistema de injustiças 

Muitos defensores da social-democracia no país inventam várias teses sobre o significado daquelas manifestações. Dizem que foi uma conspiração do imperialismo estadunidense ou uma mobilização golpista de setores fascistas. Mas a realidade é que faltou à esquerda reformista que estava no governo de então dar uma resposta séria aos anseios do povo.

Foram muitas palavras de ordem. “Não são só por 20 centavos”, “Passe livre já!”, “Não vai ter Copa” etc. Demorou 2 anos de falta de resposta concreta do governo de turno e inúmeras concessões ao Centrão e aos banqueiros para que a extrema-direita conseguisse capturar parte do espírito de 2013. 

O autor deste artigo esteve em todas as manifestações de 2013 no Rio de Janeiro. Sou da geração que iniciou a militância política naquele período. Esta geração viveu um longo período de paralisação das grandes lutas sociais. Entre os caras pintadas (1992) até 2013, a juventude brasileira foi excluída dos grandes debates políticos da sociedade.

Quando vimos centenas de milhares de pessoas nas ruas pedindo mais saúde, educação, moradia e direitos sociais ficamos entusiasmados. A disputa política saiu dos palácios  e foi para a rua. A imprensa burguesa foi colocada contra a parede.

A indignação daquele ano se expressava pelo fato do país do Pan-Americano do Rio de 2007, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 não resolver os problemas básicos do povo pobre. Só no Rio de Janeiro mais de 100 mil pessoas perderam suas casas ou foram deslocadas para dar lugar às obras dos grandes eventos. 

O país da autossuficiência em petróleo e do “Agro é pop” não conseguia resolver as contradições fundamentais do capitalismo brasileiro. 2013 era os 10 anos de PT na presidência e a social-democracia não tinha conseguido fazer a Reforma Agrária, a Reforma Urbana. Ao mesmo tempo fez a opção de abrir as portas do ensino superior aos grandes monopólios da educação privada, possibilitou os maiores lucros da história do capital financeiro e não reverteu as privatizações da era FHC.

2013 ainda está em disputa

Essa é uma pequena fração do pano de fundo que completava o quadro que levou aos atos de 2013. Não foi uma iniciativa do imperialismo ou da extrema-direita que levou a 2013. Foi sim a falta de vontade política da social-democracia em enfrentar o sistema dos ruralistas e do Centrão que deu espaço ao fascismo de recrutar milhares de pessoas naqueles atos.

A prova disso foi que 2013 possibilitou a organização do único partido legalizado na nova legislação eleitoral: a Unidade Popular. Partido de esquerda, revolucionário e que tem no coração da sua militância as demandas que o povo levou às ruas há 10 anos atrás. 

É verdade que a ausência de resposta concreta da social-democracia abriu espaço para a agenda golpista da Lava Jato e do Centrão. Ao escolher o caminho dos acordos e da conciliação, o PT da época só colheu golpe de estado e perseguição. 

Não foi 2013 quem pôs Michel Temer na vice-presidência, nem foi 2013 quem possibilitou o MDB e o Centrão ter tanta força que fortaleceu figuras como Eduardo Cunha. Isso tudo está na conta da conciliação de classes promovida pela social-democracia.

2013 apontou para a esquerda que a saída era a ruptura com o sistema que impedia o pleno desenvolvimento do povo. Quem não entendeu isso está fadado a cair no mesmo erro de novo.

Hoje, o país está submetido de novo às chantagens do Centrão e da Faria Lima. Estes são os descendentes das elites que sempre mandaram no Brasil. A saída mais uma vez é enfrentar este sistema e não conciliar com ele. O fascismo de Bolsonaro ainda está aí e não vai ser com emenda parlamentar nem com indicação de ministro para o STF que iremos barrar ele.

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