A pesquisa “Abrindo o livro caixa do garimpo”, do instituto Escolhas, revela que o garimpo fatura mais de R$ 13 milhões anualmente na Amazônia. A expansão da área de garimpo está associada a graves impactos ambientais, danos à saúde humana, violações de direitos humanos, invasão de áreas protegidas e violência contra os povos indígenas.
Joyce Melo | Macaé (RJ)
BRASIL – No final de junho, o instituto Escolhas publicou um estudo intitulado “Abrindo o livro caixa do garimpo”, onde mostrou que as atividades de garimpo na Amazônia requerem altos investimentos e possuem retorno garantido aos exploradores.
O estudo levantou números referentes às operações: garimpo de balsa, que acontece nos rios; e o garimpo de baixão, que acontece em terra, em áreas próximas ao leito dos rios. O trabalho utilizou como exemplo algumas atividades garimpeiras realizadas em Itaituba/PA, onde o recurso aplicado para a criação de garimpo de balsas é de R$3,3 milhões de reais, enquanto que para o garimpo de baixões, o valor do investimento é de R$1,37 milhão.
De 2012 a 2021, a área total dos garimpos na Amazônia duplicou, crescendo mais de 80 mil hectares. Esse tipo de atividade é beneficiada por uma legislação que faz poucas exigências ao autorizar as operações e encontra inúmeras facilidade para ocorrer, o que acaba não impedindo seu crescimento.
Outro destaque do estudo, é a transformação provocada pelo uso de retroescavadeiras. Antes, eram necessários 30 dias de trabalho para derrubar a floresta e abrir uma área de garimpo. Hoje, é possível fazer isso em apenas uma semana com o uso das retroescavadeiras.
A expansão da área de garimpo está associada a graves impactos ambientais (degradação de áreas de florestas e rios, que não se recuperam naturalmente), danos à saúde humana (utilização de substâncias tóxicas, como mercúrio) e violações de direitos humanos (invasão de áreas protegidas e a violência contra os povos indígenas).
Financiamento e informalidade
Maior que o custo de uma retroescavadeira, que pode chegar a custar mais de R$ 1 milhão, é a demanda de compradores para essas máquinas na região de Itaituba. Segundo o estudo, as linhas de crédito bancário para financiamento não são de fácil acesso, já que muitas operações garimpeiras podem acontecer à margem das regras, portanto, algumas lojas da região disponibilizam linhas de financiamento próprias e facilidades para a aquisição do maquinário. Além disso, oferecem contratos de aluguel e, muitas vezes, entram como “sócias” das operações.
Essas máquinas pesadas têm sido utilizadas, inclusive, dentro de áreas protegidas. Segundo estudo recente do Greenpeace, entre 2021 e 2023, 176 escavadeiras operaram ilegalmente nas Terras Indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó.