A greve dos servidores de Florianópolis foi um rico período de experiência de poder da classe trabalhadora. Ao parar os serviços, abandonar os postos de trabalho, confiando no coletivo, a categoria teve força para derrotar um prefeito aparentemente forte, apoiado pela grande mídia.
Ricardo Senese | Coordenação Nacional do MLC
TRABALHADOR UNIDO – O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) é formado servidores da Prefeitura capital catarinense. Nos últimos anos, os trabalhadores lotados na Compac (Autarquia de Melhoramentos da Capital), que responde pelos serviços de limpeza urbana, asseio e conservação, lideraram fortes greves em defesa de seus direitos e contra às terceirizações. A Verdade fez cobertura dessas lutas, ressaltando que, em 2022, a greve deste setor derrotou o crescimento das terceirizações e conquistou mais direitos e melhores salários.
Por outro lado, a Prefeitura é governada por um fascista e patrão de grandes empresas, Topázio Neto (PSD), apoiador de Bolsonaro, cuja política é de elitização da cidade e de exclusão do povo ao direito à moradia e à cidade. O Plano Diretor, aprovado recentemente, beneficia empreiteiras, a especulação imobiliária e desconsidera recomendações dos órgãos de preservação ambiental. Sua gestão aumentou as passagens de ônibus de R$ 4,38 para R$ 6,00. E seu principal objetivo é privatizar, terceirizar e conceder todos os serviços municipais às corruptas Organizações Sociais (OSs).
Topázio, além de prefeito, é dono de um grande call center, e possui histórico de exploração de seus empregados. Os trabalhadores em teleatendimento de sua empresa sofrem com um regime de escravidão assalariada, com metas altas, pressão psicológica voraz e recebem baixos salários. Se não bastasse, o fascista responde por incontáveis processos trabalhistas. As reclamações listam exposição de seus funcionários à Covid-19, falta de pagamento de verbas rescisórias, 13º salário e horas-extras.
A greve
A greve dos servidores de Florianópolis foi um rico período de experiência de poder da classe trabalhadora. Ao parar os serviços, abandonar os postos de trabalho, confiando no coletivo, a categoria teve força para derrotar um prefeito aparentemente forte, apoiado pela grande mídia.
Durante 15 dias, a classe trabalhadora foi dirigente política e manteve um enfrentamento aberto e organizado contra a classe dominante. O sindicato pautou os roteiros da mídia burguesa, que demonstrou fraqueza ao publicar inúmeras mentiras que o prefeito proferiu sobre a greve. A Justiça, por sua vez, conhecida no Brasil por sua lentidão, teve sua falsa neutralidade desmascarada quando atendeu ao pedido de ilegalidade da greve em menos de 24 horas.
Além da ofensiva política contra às OSs e às terceirizações, a greve conquistou vitórias como aumento de 4% sem parcelamento; reajuste de 8% no auxílio-alimentação; incorporação da gratificação de R$ 600,00 dos auxiliares de sala no salário; avanços no plano de carreira; prorrogação de concursos públicos vigentes e abertura de novos certames.
No último período, a ponta de lança nas lutas ligadas às cidades são as greves de servidores municipais em todo o país. Segundo o Balanço das Greves de 2022, documento elaborado pelo Dieese, no ano passado ocorreram 430 greves na esfera municipal, cujas mobilizações pautaram principalmente salários, cumprimento de acordos e melhorias nos serviços públicos.
Já em 2023, a Coordenação Nacional do MLC avalia que as greves municipais pelo país, cujas pautas dos servidores seguem similares, demonstram potencial de organização e crescimento dessas lutas e podem afirmar o programa popular, desde que aliem as lutas econômicas e as lutas políticas.
Matéria publicada na edição nº 274 do Jornal A Verdade.