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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Solidariedade: uma questão de classe

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Com base nos dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), 108.4 milhões de pessoas forçadas à se deslocar mundialmente em razão de perseguição, conflitos, violência, violação dos direitos humanos e afins.

Fernanda de Melo | São Paulo


INTERNACIONAL – Comumente ouvirmos que a última grande guerra mundial ficou no século passado. Alguns teóricos ainda arriscaram dizer que a humanidade do século XXI seria uma sociedade pós-conflito globalizada movendo-se em direção à paz e prosperidade coletivas. No entanto, a classe trabalhadora não conheceu a paz.

Atualmente, estima-se que, pelo menos, oito guerras fatais ocorreram: no Congo, na Síria, no Sudão, no Iraque, no Afeganistão, na Nigéria, no Iêmen, e, agora, na Ucrânia. Caso desejarmos incluir os conflitos coloniais e territoriais, a lista seria ainda maior. Absolutamente todos estes conflitos foram causados na busca por riqueza, recursos naturais ou território. Isto é, respectivamente: em razão do capital, da exploração e da propriedade. Estes são alguns dos pontos essenciais para entender o que hoje se entende como uma das maiores crises humanitárias internacional: a crise dos refugiados, deslocados e imigrantes.

De acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), refugiados são pessoas que foram forçadas à fugir de suas casas e cruzaram uma fronteira internacional para encontrar segurança em outro país. No entanto, faz-se importante questionar: como encontrar segurança com caminhos tão incertos e inseguros? Como encontrar segurança quando frequentemente os governos recebem os refugiados com políticas de desemprego, marginalização e criminalização?

Ainda com base nos dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), 108.4 milhões de pessoas forçadas à se deslocar mundialmente em razão de perseguição, conflitos, violência, violação dos direitos humanos e afins. Dentre eles, 35.3 milhões são refugiados, 5.4 milhões procuram asilo, e 5.2 milhões precisam de proteção internacional. Metade destes são apenas crianças, ou seja, seres humanos desprotegidos de condições a direitos básicos fundamentais.

A situação escancara uma conjuntura internacional adversa para as populações mais pobres, mas, acima de tudo, revela que os esforços para resolução da questão são mínimos. Os países ricos, imperialistas, ofertam esforços mínimos e ineficazes para a resolução do problema. A Anistia Internacional publicou em suas plataformas, inclusive, que são os países de baixa e média renda fazendo muito mais do que sua parte justa – acolhendo mais do que o dobro do número de refugiados que os países de alta renda, sendo Aruba, Líbano e Curaçao os países que mais acolhem pessoas.

Quanto vale a vida de um rico

Podemos observar que a situação seria diferente caso estivéssemos falando de pessoas com origens burguesas. Recentemente, o incidente do submarino Titã, que submergia em direção ao Titanic com cinco milionários, levou a mídia tradicional a realizar diversas reportagens. Dentro do Titã, estava Stockton Rush, de 61 anos, diretor-executivo da empresa responsável pela expedição, a OceanGate Expeditions. Além do empresário, estavam também o bilionário britânico Hamish Harding, de 58, dono da empresa Action Aviation, e Paul-Henry Nargeolet, de 77, ex-comandante da Marinha Francesa que era considerado o maior especialista no naufrágio do Titanic. Junto deles, acompanhavam o paquistanês Shahzada Dawood, 48, e o filho dele, Suleman, de 19 anos, pertencentes à uma das famílias mais ricas do Paquistão, donas do Dawood Hercules Corporation Limited. As Marinhas e Guardas Costeiras dos Estados Unidos e Canadá iniciaram uma operação de resgate com pelo menos dez embarcações envolvidas nas buscas.

Em contraposição, simultaneamente, um navio grego se tornou um dos naufrágios mais fatais da história recente da região mediterrânea: 700 refugiados – provindos, principalmente, do Paquistão, Síria, Egito e Palestina – e sendo cerca de 15% dos passageiros crianças, afundou próximo da costa grega pela negligência deliberada da Guarda Costeira, segundo relato de sobreviventes. Dados afirmam que as autoridades estavam cientes do navio em perigo, pelo menos, 13 horas antes do acidente. Agora, centenas continuam desaparecidos. No início do ano, entre janeiro e março, a Organização Internacional para Migração (OIM) documentou 441 mortes no Mediterrâneo, conhecido como uma das rotas mais arriscada para refugiados.

Outro exemplo é o caso do preconceito e da xenofobia praticados pelo aparato policial, jurídico dos estados imperialistas na Europa em relação às populações de origem árabe e africana, e pelos Estados Unidos em relação aos latinos na sua fronteira com o México, alvo de perseguições, balas e prisões.

No final, a história não muda: o capitalismo enxerga que as vidas humanas variam de acordo com o valor que cada um carrega na conta bancária.

Matéria publicada na edição nº274 do Jornal A Verdade.

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