Um terço dos professores da rede pública sofrem com transtornos de saúde mental

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Uma pesquisa realizada pela UNIFESP revelou um dado alarmante: quase um terço dos professores da rede pública sofrem com a Síndrome de Burnout. Caracterizada por um estado físico, emocional e mental de exaustão, despersonalização e redução do senso de realização pessoal, a síndrome é uma resposta à exposição prolongada a situações de estresse no trabalho.

Renan Almeida* | Diadema


SAÚDE – O estudo aponta que cargas horárias exaustivas, competitividade e situações emocionalmente desgastantes são as principais causas dessa condição, considerada uma doença ocupacional.

Dados da Secretaria da Previdência Brasileira indicam que episódios depressivos são o principal motivo de afastamentos não decorrentes de acidentes no trabalho, representando uma parcela de 30,67% dos auxílios-doença.

Os professores da rede pública de ensino em São Paulo enfrentam uma realidade de trabalho difícil. Com salas de aula lotadas e pouca valorização salarial, esses profissionais são obrigados a se desdobrar em múltiplas tarefas ao longo do dia, muitas vezes tendo que trabalhar em mais de uma escola para completar sua carga horária.

De acordo com dados oficiais, só em 2019, mais de 27 mil educadores foram afastados devido a transtornos mentais e comportamentais. A sobrecarga de trabalho é uma realidade entre os professores paulistas, que dedicam, em média, 13 horas extras semanais para tarefas administrativas e de planejamento.

Apesar disso, os salários não condizem com a importância da profissão: a grande maioria dos professores com carga horária de 40 horas semanais recebe um salário base de R$2,5 mil, valor muito abaixo do salário-mínimo calculado pelo DIEESE, que é de R$ 6.575,30.

É importante destacar que a maioria dos professores são contratados de forma temporária, pois o último concurso para a categoria foi realizado em 2013.

Essa situação gera uma pressão psicológica adicional sobre esses profissionais, uma vez que até mesmo faltas com atestado podem colocar em risco a continuidade de seus contratos. Além disso, trabalham com a incerteza se atribuirão aula no ano letivo seguinte e não possuem acesso ao Hospital do Servidor, o que agrava ainda mais a situação.

O descaso com as condições de trabalho dos professores é um reflexo do sistema econômico capitalista que prioriza o lucro em detrimento da qualidade de trabalho e de salários dignos.

A falta de concursos públicos para contratação de professores cria diversas categorias e leva os docentes a trabalharem sobrecarregados, o que dificulta a mobilização para lutas e greves, enfraquecendo a capacidade de mobilização política de uma das categorias com maior potencial de mobilização da população contra as injustiças vividas pelos trabalhadores.

O capitalismo não apenas explora o trabalho da classe trabalhadora, mas também compromete a saúde e o bem-estar daqueles que trabalham sob suas condições. Como professores, é nosso dever nos organizar e lutar contra esse sistema que nos oprime e, assim como na década de 80, realizar greves em defesa do trabalho digno.

Devemos seguir os ensinamentos do professor Paulo Freire que indica o papel pedagógico da greve “A greve é um momento de reflexão sobre a importância do trabalho dos professores e sobre a necessidade de investimentos na educação. É uma oportunidade para os professores se unirem e reivindicarem seus direitos”.

Portanto, é fundamental transformarmos cada uma das escolas em locais de resistência e organização para a retomada dos direitos retirados e por melhor condições de trabalho.

*Professor da rede estadual de São Paulo