Reacendemos a esperança de termos uma presidência negra em nosso país, plantamos sementes e quando visitamos cidades em todo país, mesmo com todo o boicote que sofremos no processo eleitoral, vemos que arvores já começaram a crescer e começam a gerar já, alguns frutos, pois somos reconhecidos nas ruas. Além disso e mais importante, a UP dobrou de tamanho e foi o partido que mais cresceu, proporcionalmente em nosso país.
Leonardo Pericles | Presidente nacional da UP
BRASIL – Para começar, o racismo é um obstáculo para nós negros e negras não apenas em um processo eleitoral, mas praticamente em tudo na vida. As marcas de quase 400 anos de escravidão, a “libertação” formal, que nunca nos garantiu direitos e nunca puniu efetivamente o opressor, nos leva a esta situação nos dias atuais. Isso explica, por exemplo, o primeiro desafio que enfrentamos no processo eleitoral: nossa presença neste espaço, Samara Martins e eu fomos uma das poucas chapas 100% negras a disputar as eleições presidenciais na história do Brasil. Esta candidatura da Unidade Popular foi o resultado de cerca de um ano de debates internos ocorridos em nosso partido, dos núcleos de base ao Diretório Nacional. Tratou-se de uma importante e histórica decisão coletiva, que reafirmou nossa democracia interna e a ousadia e a determinação do partido mais jovem do Brasil!
A segunda questão é que vimos no processo eleitoral que não fomos convidados para os debates e a UP, não teve direito ao horário eleitoral gratuito na televisão e rádio e nem acesso ao fundo partidário. Isso aconteceu não por sermos negros, pois o que me impediu foi uma lei antidemocrática e que contraria princípios da própria constituição, chamada Cláusula de Barreira, ou Emenda Constitucional 97, de 2017, aprovada pelo chamado “centrão”, a mando dos seus ricos patrões, os donos do Agronegócio, dos Bancos e grandes empresas de nosso país, que tornou as campanhas ainda mais caras, bilionárias e fortaleceu o próprio centrão e demais partidos de direita e da extrema direita fascista.
No entanto, onde o racismo se manifesta neste processo? Para um negro se candidatar já é difícil, para ser candidato à presidente então, ainda mais complexo, basta ver os números já relatados aqui. Neste sentido, a imensa maioria de nós negros, para sermos ouvidos e respeitados em um partido no Brasil, este partido precisa ser popular, ou seja, realmente de esquerda.
E quando analisarmos o conjunto dos partidos, veremos que há pouquíssimos partidos que se enquadram neste critério. Deste modo, se um partido popular destes, como é a UP, é impedido de participar da mesma forma e com os mesmos direitos que gozam os demais, que em média representam os mais ricos com minoria negra, significa que a parcela oprimida, neste caso nós população negra, que somos a imensa maioria da população, permaneceremos excluídos em maioria de representação política e de, inclusive, almejarmos nos tornar, por exemplo, presidentes da República.
Mas essa situação se dará com outros setores oprimidos, como as mulheres, a população LGBTIA+, indígena e na representação de classe, com o conjunto da classe trabalhadora. Esta questão é um dos grandes problemas em nosso atual sistema político foi um dos temas centrais das grandiosas jornadas de Junho de 2013 e acabou sendo mais uma pauta popular golpeada pela já citada lei da Clausula de Barreira.
Destaco também, o racismo nas eleições, manifesto nos ataques que sofremos, muitas mensagens pelas redes sociais nos mandando “voltar para senzala”, que aquele “não era nosso lugar’, que nós parássemos de falar contra o racismo, dentre outros. Este foi um momento muito tenso e difícil, mas que superamos com o trabalho coletivo do nosso partido, com a força da nossa militância e com a solidariedade de milhares de apoiadoras e apoiadores do nosso trabalho e das nossas lutas.
Não podemos esquecer jamais que a luta pela destruição do racismo em nosso país passa pela destruição do próprio capitalismo, que foi formado e se fortaleceu com o mesmo, através da escravidão, da segregação, de todas as formas de opressão e violência. Usando destas armas para impor sua dominação ideológica e com estas bases, instituir uma super exploração sob a maior parte da população, a classe trabalhadora e criar essa sociedade desigual, excludente, machista, homofóbica, racista e antipovo que temos atualmente.
Lutamos por uma revolução socialista, que é a única forma de quebrar esse sistema e dar condições para que a população explorada e oprimida, assuma o volante dessa riquíssima nação e resolva de uma vez por todas, os graves problemas sociais que vivemos e que acontecem não por uma maldição de algum ente sobrenatural, mas por conta das classes e ricas responsáveis por este sistema atual.
Mais vale o que será
Reacendemos a esperança de termos uma presidência negra em nosso país, plantamos sementes e quando visitamos cidades em todo país, mesmo com todo o boicote que sofremos no processo eleitoral, vemos que arvores já começaram a crescer e começam a gerar já, alguns frutos, pois somos reconhecidos nas ruas. Além disso e mais importante, a UP dobrou de tamanho e foi o partido que mais cresceu, proporcionalmente em nosso país.
No entanto, lembremos que, da forma como está montado o sistema eleitoral em nosso país, as condições para nos apresentarmos a toda a população ficaram muito difíceis, porém não impossíveis. Para superar este estado de coisas e o tal do “voto útil” lá nas próximas eleições, temos que agir agora.
A nossa saída é a velha e atual “rádio peão”, “rádio favela”, a “imprensa alternativa”, o velho e bom panfleto, somada as novas iniciativas, podcasts, canais e lives, batalhas de rap, bailes, sarais e ligados de forma permanente à articulação de bairro em bairro, fábrica a fábrica e empresa, organização de redes entre movimentos negros de base e os núcleos da UP e lutas populares em cada região periférica e interior desse país. A UP e nosso projeto trabalham para sermos milhões! E seremos! Você está convocado a nos ajudar nessa luta! Bora colar junto? Afinal, como disse o grande poeta de minha terra, Milton Nascimento, na belíssima canção “O que foi feito devera”: “Se muito vale o que já feito, mais vale o que será”.