O 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi realizado entre os dias 12 e 16 de julho, na UNB, em Brasília, com o lema “Estudantes do Brasil por educação, soberania, direitos e democracia”. O evento reuniu cerca de 10 mil participantes de todo o Brasil para debater os rumos do movimento estudantil universitário nos próximos anos.
Lucas Marcelino | Brasília
JUVENTUDE – A mesa de abertura do Congresso foi dirigida por três mulheres, entre elas, a secretária-geral da UNE e militante da Juventude Rebelião, Isis Mustafá, que declarou: “Gostaria de saldar a presença de estudantes de todos os cantos do país porque foi esta geração que derrotou o governo dos fascistas e antidemocráticos. Mas, como sabemos, não basta celebrar, precisamos lutar pela prisão de Bolsonaro para fazer justiça ao genocídio e aos demais crimes que ele cometeu”.
Em seguida, foi realizada uma homenagem a Honestino Guimarães (presidente da UNE assassinado pela ditadura militar), que contou com a presença de seus familiares. Honestino era estudante de Geologia e presidente do DCE da UnB, além de militante clandestino na luta armada contra o regime fascista. Seu corpo está desaparecido até hoje, 50 anos após sua morte, ocorrida em 1973.
Representando a família, Ubirajara Berocan Leite afirmou: “Tenho uma emoção muito forte de ver tantas pessoas com a imagem dele na camiseta. Isso mostra que a luta do Honestino venceu”.
Transformar o Brasil e a universidade
Os dois dias seguintes foram preenchidos com debates sobre a conjuntura e a educação, atos e manifestações. A principal mesa, sobre o combate ao fascismo no Brasil, contou com Leonardo Péricles, presidente nacional da UP, que, além de defender a revogação do Novo Ensino Médio, ressaltou que “para combater o fascismo, é preciso revogar a Reforma Trabalhistas que escraviza a classe trabalhadora brasileira, revogar a Reforma da Previdência, que impede a aposentadoria, e revogar o teto de gastos, mas não com arcabouço fiscal que corta investimentos. Tem que parar de pagar a dívida pública”.
Foram realizados também um ato no Ginásio Nilson Nelson, com a presença do presidente Lula e do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, e uma manifestação em frente ao prédio do Banco Central contra a alta taxa de juros, política que só favorece aos banqueiros e especuladores.
Maior bancada da história
Consolidada, há anos, como a maior força de oposição na UNE, o Movimento Correnteza denunciou o imobilismo da direção majoritária da entidade durante o Congresso, mas, acima de tudo, vem demonstrando, ao longo dos últimos anos, como deve ser um movimento estudantil combativo e organizado, com inúmeras lutas travadas nas universidades e ruas de vários estados. Foi assim que o Correnteza alcançou a maior bancada de sua história, com mais de mil estudantes presentes no ConUNE.
Esta é uma grande vitória, pois, mesmo com fraudes e manipulações nas eleições de delegados capitaneados pelos reformistas da UJS (PCdoB), o campo da Oposição de Esquerda ampliou sua presença no Congresso com uma ampla agitação e pautando os principais debates.
“Conseguimos pautar a luta pela renovação da Lei de Cotas, a luta pelo fim do vestibular e o livre acesso à universidade e o combate aos tubarões do ensino privado. Além de mostrar como o arcabouço fiscal do Governo Lula reduz o dinheiro da educação e o investimento nas áreas sociais. Isso fez com que diversos estudantes procurassem o Correnteza para conhecer nossa política”, afirmou Miguel Hauer, diretor da UNE pela oposição.
“Agora é hora de voltar para nossos estados e organizar os próximos passos na luta pela educação, contra o fascismo, em defesa da democracia e por uma UNE independente de governos. Assim deve ser o movimento estudantil, combativo e com uma pauta permanente de lutas dentro e fora das universidades”, aponta Jéssica Nathália, presidente da União dos Estudantes de Pernambuco UEP.
Ampla agitação política
Durante o 59º ConUNE, a militância da União da Juventude Rebelião (UJR) cumpriu um papel fundamental de difundir a teoria comunista e espalhar a ideologia revolucionária para as mais de 10 mil pessoas presentes. Foram vendidos quase 1.500 livros e livretos com textos clássicos do marxismo-leninismo na banca das Edições Manoel Lisboa e mais 360 exemplares do jornal A Verdade nas brigadas. Os destaques nas vendas foram as reedições recém-lançadas de Sobre o Movimento Estudantil (PCR) e O Falso Socialismo Chinês (Luiz Falcão).
O lançamento da terceira edição de Sobre o Movimento Estudantil aconteceu no dia 15 e contou com as presenças de Pedro Laurentino (poeta, ex-diretor da UNE e ex-presidente da UEP na década de 1970); de Stalin Martinez (Partido Comunista do Trabalho – República Dominicana); Heron Barroso (Redação Nacional de A Verdade); e Kate Oliveira (Coordenação Nacional da UJR).
Laurentino, que participou ativamente das lutas retratadas no livro quando era estudante e militante em Recife, citou vários exemplos de mobilização da massa estudantil, mesmo debaixo de grande repressão, risco de prisão e até morte. Entre esses, esteve a organização da grande greve estudantil pela libertação de Edival Nunes Cajá (último prisioneiro político torturado pelo regime militar fascista), que paralisou universidades em todo o país.
“Este é meu livro de cabeceira. Um livro para ser estudado e aplicado na prática. Porque prática sem teoria não chega em lugar nenhum e teoria sem prática só gera intelectuais”, afirmou Pedro.
Outro destaque foi a publicação de livretos com textos clássicos, porém menos conhecidos e difundidos no Brasil. Foram disponibilizados mais de 35 títulos de autores como Jack London, Georges Politzer, Alexandra Kollontai, Clara Zetkin, Pablo Miranda e Amílcar Cabral.
Matéria publicada na edição nº 275 do Jornal A Verdade.