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domingo, 22 de dezembro de 2024

Lagoa Dourada: 10 anos de descaso do MCMV em Jacobina

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Empreendimento do Minha Casa Minha Vida com investimento de R$ 21,4 milhões em Jacobina não garantiu creche, posto de saúde, obras de drenagem de água pluvial, Correios e foi construído em local afastado centro da cidade na rota da  lama de uma barragem de rejeitos de mineração que pode atingir quantidades superiores a 42 milhões de toneladas de rejeitos. 

Raí Macedo | Jacobina – BA


LUTA POPULAR – As duas entregas do Conjunto Residencial Lagoa Dourada em Jacobina pelo programa federal Minha Casa Minha Vida ocorreram respectivamente em 2014 e 2015 atendendo ao todo 724 famílias da região. O investimento total realizado pela construtora responsável LMarquezzo foi de R$ 21,4 milhões e as famílias contempladas tiveram parcelas entre R$ 25 a R$ 80 por mês para garantia da casa própria pelo programa. Desde as entregas, moradores e trabalhadores do bairro enfrentam problemas estruturais das casas: a empresa encarregada pela obra economizou em materiais como uma forma de garantir seus lucros, ocasionando rachaduras nas moradias entregues.

Além das questões estruturais, o bairro é um dos mais distantes do centro da cidade e não foi planejado para a quantidade de pessoas que moram lá: não há creche na região, drenagem de água pluvial, posto de saúde, Correios e muito menos transporte público de qualidade e acessível.

A falta de infraestrutura para drenar as águas pluviais faz com que moradores  do bairro sofram com água acumulada nas portas das casas por anos e anos. Isso, além  de gerar problemas estruturais, gera problemas de saúde com a proliferação de insetos e  outros animais nocivos à saúde humana. Residentes do bairro relataram, certa vez, a presença de uma cobra em um buraco enorme na Rua 05, e na ocasião uma das moradoras quase foi atacada por este animal na porta de sua casa. São  quase 10 anos sem resolver este e outros problemas, diversas gestões da Prefeitura já passaram e nenhuma solução é dada. 

A inexistência de posto de saúde e creche para atender moradores, trabalhadores e trabalhadoras não afeta apenas a Lagoa Dourada, mas também a Cidade do Ouro,  outro empreendimento do MCMV com 432 imóveis. As famílias deslocam seus filhos e  filhas num ônibus para outro bairro diariamente por não existir creche e escola nos próprios bairros, que tem mais de 2 mil pessoas residentes.

Nas nove ruas do bairro ainda existem lâmpadas queimadas ou quebradas, o que  gera uma situação de escuridão horrível, colocando em risco a mobilidade das pessoas,  principalmente idosos e de pessoas com pouca visão. O número de buracos nas ruas é  enorme, e se agravou pela falta de drenagem da água pluvial e pelo peso de carros  grandes, como o próprio ônibus escolar que passa nas ruas. Os Correios não atendem ao bairro, além das quadras estarem precisando de uma boa reforma para garantir lazer  para moradores e moradoras do local.

Os dois bairros do Minha Casa Minha Vida estão na rota da lama da barragem B2 da mineradora existente na cidade e assim nos perguntamos o porquê da existência de placas que indiquem rotas de fuga, sirenes ou treinamentos de evacuação do Plano de Ação Emergencial. A resposta é simples:  nenhuma barragem é 100% “segura”. Numa análise bem feita do documento  disponibilizado pela empresa Pimenta de Ávila Consultoria LTDA, de nome “Estudo de  Rompimento Hipotético da Barragem B2”, é observado que não é em 29 minutos – como foi afirmado no dia 17 de maio numa reunião no bairro com representantes da  mineradora – que essa lama chega nos bairros. Segundo o estudo, em caso de rompimento, em menos de três minutos essa lama chegaria no centro da cidade. Brumadinho e Mariana não romperam por conta de uma chuva  forte, mas sim pelo desejo insaciável de lucros pelos acionistas nacionais e internacionais da Vale que estavam acima da vida de milhares de pessoas.

MLB durante atividade de formação política em Jacobina (Foto: Jornal A Verdade).

Luta organizada dá resultado 

Desde março deste ano moradores e moradoras começaram a se organizar  no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Já foram realizadas reuniões,  formações  políticas, idas à Prefeitura e outros órgãos, solidariedade entre moradores e  trabalhadores. Estas são conquistas que devem ser valorizadas. 

Aos poucos é feita a luta política contra o pensamento individualista que nos é ensinado no sistema capitalista, expressado pelo ditado popular  “farinha  pouca, meu pirão primeiro”. Lutar coletivamente pela creche, pela obra da drenagem da água pluvial, pela iluminação, pelo Posto de Saúde: tudo isso é luta pela reforma urbana e pelo socialismo no nosso país! 

Há muito  o que se fazer, há muitas coisas para se lutar coletivamente e de forma organizada, e a capacidade de nosso povo para isso não é pouca. Avancemos!

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