Confira a nota do Partido Comunista dos Trabalhadores Franceses sobre o recente golpe de estado no Níger, país do oeste africano.
Partido Comunista dos Trabalhadores da França (PCOF)
Membro da Conferência Internacional de Partidos Marxista-Leninistas (CIPOML)
Níger: O exército francês tem que ir embora, chega de interferência direta ou indireta do imperialismo francês
No Níger, um golpe de estado derrubou o presidente Bazoum. Os oficiais de alta patente responsáveis pelas forças armadas, como o general Tchiani, chefe da guarda presidencial, suspenderam a constituição, fecharam as fronteiras e estabeleceram em seu lugar um comitê nacional de proteção da pátria (CNSP).
Uma grande parte da oposição aos regimes de Issoufou (2022-2021) e seu sucessor Bazoum, se aliou à CNSP. As manifestações de apoio aconteceram na capital Niamey e em outras cidades, mas a grande massa da população está “esperando para ver”.
A população está exausta: não suportam mais a miséria, num país rico em minerais de todos os tipos, saqueados pelas multinacionais como Orano (ex Areva), que exploram as minas de urânio por décadas. Não aguentam mais a presença das tropas militares francesas do dispositivo militar Barkhane redobrado no Níger, depois da saída forçada das tropas francesas do Mali, e então de Burkina Faso. A “situação de segurança”, ou em outras palavras, a presença e abusos dos grupos jihadistas continuam importantes apesar dos 1500 soldados e as bases francesas, as unidades especiais dos EUA com seus drones e os instrutores alemães e italianos… É por isso que uma das palavras de ordem das manifestações é “Derrotar os militares franceses, derrotar Barkhane”.
O imperialismo francês e seus aliados da União Europeia não aceitam ver seu “aliado” nigeriano, “parceiro privilegiado” da UE no Sahel, se distanciar: eles exigem o restabelecimento do chefe de estado demitido e a organização de um bloqueio econômico financeiro e comercial deste país sem litoral, para fazer pressão. Mas as primeiras e principais vítimas desse bloqueio são as populações, tanto das cidades como do campo.
Macron declarou que ele “não tolerará nenhum ataque contra a França e seus interesses, e responderá de maneira imediata e intratável”. Mas ele sabe que uma intervenção militar direta provocará uma resposta popular no Níger, faria a oposição crescer com a presença do imperialismo francês em outros países da região e arriscaria também enfrentar uma oposição na própria França. Por isso, ele mobilizou os chefes de estado e os governos dos países da CEDEAO, ao menos aqueles que permanecem aliados do imperialismo francês, para que eles organizem não somente o bloqueio criminoso no Níger, mas que eles também preparem uma intervenção militar conjunta, cujo princípio foi discutido no início de julho, durante uma cúpula da CEDEAO, presidida atualmente pela Nigéria, para “pôr um fim aos golpes de Estado” naquela zona da África.
Como em Mali e Burkina, as bandeiras russas são agitadas nas manifestações. É a prova, para os dirigentes franceses e aqueles países da UE engajados no Sahel (Alemanha e Itália) que os manifestantes são instrumentalizados pela Rússia. É evidente que a Rússia está tentando tirar parte das dificuldades do imperialismo francês para ampliar sua influência e assumir o controle das riquezas do Níger, como já faz em outros países da Africa. É a manifestação concreta da guerra de repartição imperialista entre as potências, especialmente na África. O povo não tem nada a ganhar ao se alinhar atrás de um ou de outro e, para nós, isso significa que devemos denunciar “nosso” imperialismo e exigir a retirada das tropas.
Não ao bloqueio criminoso que ameaça o povo nigerense.
Retirada das tropas francesas do Níger.
Não a interferência imperialista no Níger.
*Comunicado publicado em 1 de agosto de 2023. Traduzido por Myrrha Veiga.