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sexta-feira, 10 de maio de 2024

O genocídio negro muitas vezes é silencioso

A morte precoce de artistas negros, como MC Marcinho, evidencia o impacto do racismo na saúde. Negligência estatal na periferia, falta de acesso à saúde e violência policial perpetuam desigualdades.

Well Gomes | Recife


LUTA POPULAR – No último dia 26, o cantor MC Marcinho, ilustre figura do funk dos anos 2000 e 2010, morreu em consequência de problemas cardíacos, aos 45 anos. Infelizmente, é mais um artista preto e marcante no ramo musical que encontrou seu fim antes de completar 5 décadas. MC Catra morreu aos 49 anos por um câncer gástrico, MC Sapão faleceu aos 40 devido a uma pneumonia, MC Kátia teve complicações com um mioma e morreu aos 47 anos.

Essas mortes precoces evidenciam como o racismo consegue matar mesmo que indiretamente. Quando não é pela opressão policial, é pela negligência na saúde.

Já são frequentes notícias de falecimentos de artistas pretos renomados na cultura negra, tanto no Brasil quanto no exterior. Tais casos não possuem relação apenas com uma rotina agitada de artista, e também não são casos exclusivos de famosos. É um projeto burguês que age na estrutura social desde o nosso nascimento. E que nem alcançando uma condição de vida melhor por meio do trabalho se torna completamente evitável. Artistas negros, quando saem de seus holofotes efêmeros, são negligenciados pela sociedade. 

Se a situação já é dificultosa para grandes figuras públicas que conquistam o povo com seus trabalhos, pior é a situação da população da periferia, que é invisível aos olhos do Estado.

Os cuidados com a saúde da criança preta são negligenciados pelos governos, perpetuando por toda a vida e dificultando ainda mais o acesso. Hoje ainda é difícil para o preto periférico ir até o hospital ou o posto de saúde sempre que necessário, a distância e a falta de tempo consomem as pessoas, de forma a secundarizar as suas necessidades médicas em prol de trabalhar incessantemente por um salário insuficiente para viver.

As unidades de saúde públicas próximas às periferias constantemente estão em déficit de mantimentos, medicamentos e médicos, o que torna cada vez difícil o cuidado com a saúde da comunidade. Em paralelo, é nas zonas periféricas onde ocorre o maior número de operações policiais assassinas, ceifando milhares de vidas inocentes todos os anos por um falso ideal de combate à criminalidade.

Isso acontece pois o país não resolveu seus problemas em relação ao racismo, que perduram desde a fundação dessa pátria. Ainda hoje, grande parte dos negros não têm completo acesso à educação básica, não possuem cobertura de saúde suficiente e são vítimas da necropolítica e da violência policial. Essa tendência discriminatória contribui para a manutenção desse sistema opressor.

No Brasil, as maiores vítimas de hipertensão, diabetes, doenças renais e cardíacas são as pessoas pretas e periféricas, tais relações são desencadeadas por hábitos ruins (físicos, mentais, alimentares e de saúde), que são reflexos da vulnerabilidade financeira e social.

Brancos são maioria na fila para transplante pois os negros tendem a ter menos acesso à diagnósticos desse tipo. Os maiores doadores de órgãos são negros pois o sistema capitalista nos subjuga e nos aproxima da morte diariamente. A maioria das pesquisas relacionadas a esse tema não analisam o viés da raça, e, portanto, dificultam a tomada de medidas acerca dessa questão.

Uma pesquisa realizada em hospitais públicos do Espírito Santo apontou que 60% dos doadores de órgãos foram pessoas racializadas. Em 2007, a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos concluiu que, mesmo sendo as maiores vítimas de doenças cardíacas, negros recebem apenas 10% das doações de coração.

Não escapamos do genocídio negro ao alcançar estabilidade financeira, nem ao envelhecer, e assim perdurará até o momento em que conquistarmos a revolta popular, o fim do capitalismo e, por conseguinte, a queda dos preceitos racistas fundamentais para essa sociedade que conhecemos.

Dessa forma, se faz a necessidade de alcançar a verdadeira democracia, combatendo todos os conceitos de discriminação enraizados em nossa sociedade, de maneira a rejeitar o sistema opressor pregado pela burguesia branca em detrimento da população racializada. Sendo assim, é preciso que todos estejam organizados para pautar a luta de classes, dialética ao processo de emancipação do povo negro e periférico. A relação intrínseca entre raça e classe é fundamental para a revolução brasileira e será com isso em vista que conquistaremos a unidade do povo pelo socialismo!

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