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domingo, 28 de abril de 2024

O Cinema Soviético, o realismo no filme “A Mãe” e o filme Zuzu Angel

O realismo socialista, movimento cultural ocorrido na URSS, influenciou obras cinematográficas e trazem a reflexão sobre a luta dos trabalhadores contra o capital.

Lili Anjos e Gabriel Cunha | Maceió*


CULTURA – A produção cinematográfica da União Soviética teve, em todas os períodos da sua história, influência direta dos fenômenos sociais, econômicos e da conjuntura histórica pelos quais passou. Desde a busca por uma identidade proletária e o confronto ao status quo com tendências da velha sociedade exploradora, que marcou a primeira fase de seu desenvolvimento, até a adoção de um realismo socialista que finalmente representou o sentimento comum da época que caracterizou o segundo período do cinema soviético.

O segundo período da história cinematográfica da URSS é marcado pela tendência do realismo socialista, que não se limita meramente à reprodução do que existe, mas na função participativa dos artistas na reprodução e na representação de uma nova realidade e de uma nova forma de sociedade. É colocada a reafirmação da revolução bolchevique por parte dos trabalhadores rurais e das cidades, camponeses e proletários. Não se trata, portanto, de mera propaganda soviética, mas na representação de um sentimento coletivo, comum ao povo soviético.

O realismo socialista da segunda fase do cinema soviético permitiu à produção cinematográfica exprimir a identidade do povo trabalhador da URSS, a união dos proletários e camponeses e suas vivências, além do orgulho soviético ao derrotar o nazifascismo na Europa durante a Grande Guerra Patriótica (2ª Guerra Mundial). 

Podemos enxergar um pouco do realismo soviético em um filme dirigido por Vsevolod Pudovkin (1893-1953), chamado A Mãe (1926), baseado no livro homônimo do autor Máximo Górki. A história se passa em um período pré-revolucionário, onde o enredo se desenvolve na construção de uma consciência de classe que a personagem principal chamada Pelágueia adquire ao decorrer do filme.

Em um primeiro momento, ela é a mulher oprimida, do lar, que sofre com a violência doméstica por parte do marido Mikhail Vlassov que é operário em uma fábrica e acaba falecendo. Nesse contexto, Pelágueia se encontra sem perspectiva e vendo a fome bater com mais rapidez em sua porta, já que mesmo oprimida, o trabalho do marido era de onde vinha seu sustento, seu filho Pavel se torna operário na fábrica de seu falecido pai. Em dado momento, Pavel chega em um dia de folga embriagado e sua mãe fica com receio do ciclo se repetir, buscando acolhimento na bebida para suportar a exploração e os baixos salários.

Após algumas semanas, Pavel ingressa em uma organização de trabalhadores em sua fábrica e sua consciência se altera, pois seus valores se modificam. O personagem passa a ajudar a mãe em casa, não fica pela rua a noite bebendo e se torna um dos líderes grevistas. Pelágueia, influenciada pelo exemplo de moralidade de seu filho, aos poucos ingressa na luta pela liberdade e contra as correntes de Czar.

Ela se torna umas das principais distribuidoras de folhetins da organização, embrulhada em marmitas nas fábricas, leva informações do partido bolchevique na prisão onde seu filho está preso e, ao final, marcha ao lado de outros operários em uma manifestação contra Czar e distribuindo panfletos de forma pública.

Essa obra é um exemplo das produções cinematrográficas da URSS do período, que buscavam colocar o que seria uma nova sociedade e no que se diferia a moral comunista para uma moral burguesa, que se baseava na opressão de um pelo outro.

O filme A Mãe, pode ser colocado ao lado do filme brasileiro dirigido por Sérgio Rezende, Zuzu Angel, de 2006, que conta um pouco a história de Zuzu Angel, estilista famosa e mãe de Stuart Angel, estudante de economia da UFRJ e integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), jovem que foi preso pela Ditadura Militar Fascista brasileira. Zuzu não adquiriu a consciência proletária como Pelágueia, porém possuía sua coragem e determinação de fazer frente a governos fascistas, inspiradas na luta por justiça e liberdade, no caso de Zuzu de não deixar que outras mães ficassem sem enterrar seus filhos.

*Lili Anjos é estudante de história da arte e militante da UJR, Gabriel Cunha é militante da UJR.

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