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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Vítimas da mineradora Braskem são criminalizadas após protesto

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Famílias decidiram ocupar, na última terça (12), as portas da empresa Braskem para exigir indenizações justas e realocação de suas moradias após o desastre causado pela mineradora na capital alagoana. 

Thatiana Machado e Jardel Wandson | Maceió


BRASIL – Nesta segunda (18), representantes da Unidade Popular (UP) e do Movimento nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) fizeram uma visita em solidariedade às famílias acampadas dos bairros do Bebedouro, Flexais e do Bom Parto, em Maceió. Estas famílias fazem parte da população atingida pelo maior crime ambiental urbano do mundo cometido pela mineradora Braskem. No caso delas, trata-se do problema do isolamento que transformou seus locais de moradia em verdadeiro bairros fantasmas.

Famílias decidiram ocupar na última terça-feira, 12/09, as portas da empresa Braskem para exigir indenizações justas e realocação de suas moradias. As famílias em questão são de pessoas que estão isoladas nas margens, ou ainda parte, dos bairros afundados que segundo os laudos técnicos, muitos até questionáveis, estariam fora de perigo no que se refere ao afundamento do solo.

Como já é amplamente sabido, cerca de 70 mil pessoas em Maceió foram atingidas pela mineração criminosa ao longo de 40 anos na capital alagoana. A maioria teve suas casas literalmente afundadas e foram expulsas dos seus bairros, recebendo indenizações baixíssimas por parte da empresa.

A questão, porém, é que os atingidos não se resumem aos que literalmente caíram no buraco, mas inclui ainda aquelas pessoas que sofrem as consequências de terem ficado isoladas em bairros que antes tinham todas as condições de moradia e hoje não mais as oferecem, além do risco permanente de desmoronamento do solo. Há indícios de que a mineração continua apesar da determinação judicial de suspenção da extração do mineral na capital.

Segundo o morador do Flexal, Tiago, o ato começou na terça (12) devido a falta de transparência nesses acordos que estão acontecendo sem a participação da população. Querem revitalizar dois pedaços de rua onde não se tem nada. De um lado é barreira, do outro é a lagoa, no final é a mata, a área de ‘APA’, protegida. Já ‘amputaram’ o bairro em si, o Bebedouro realmente já acabou, a gente ficou lá realmente isolado de tudo, não temos posto de saúde, não temos hospitais… isso aí, nem se tentar trazer, ainda vai trazer sorriso para as pessoas, a felicidade realmente que as pessoas tinham antigamente, porquê se acabou o bairro não tem como ficar dois pedaços de rua nesse sofrimento…”.

Para piorar a situação, a empresa Braskem, achando pouco os crimes que ela vem cometendo, teve a capacidade de abrir processo jurídico exigindo a retirada dos familiares acampados da porta da empresa, ameaçando multa diária. Na prática decidiu criminalizar as vítimas da sua mineração criminosa.

Essas famílias não estão pedindo nada além do que elas têm direito, que é uma vida digna, uma casa que não esteja com rachaduras, um bairro com segurança que não é mais o caso desses citados. 

Segundo Rosilene, moradora do Bebedouro, “o que a Braskem está fazendo, o prefeito também, JHC, está fazendo com a gente aqui, da Marquês de Abrantes, é algo absurdo. Não temos mais privacidade, violência, assalto. Nossos filhos estão à mercê porque não tem mais praça, não tem parque”

Os reflexos da mineração vão muito além do afundamento e isolamento das casas, como relata Ubiratã, morador do bairro atingido adjacente à grande lagoa local, fonte de renda e vida, que também foi afetada pela mineração.

“Essa lagoa aqui que há muitos anos, mais de 200 anos, matou a fome de muita gente no bairro bebedouro, hoje você não pesca um camurim, não tem uma curimã, o sururu que era o carro chefe, eles detonaram, a Braskem acabou com nosso sururu. Enfim, nós estamos aqui completamente isolados de tudo, entendeu? Na situação na qual se encontra o nosso país hoje na carestia danada, hoje em dia não se sabe o que é comprar uma 1kg de carne pra comer, e essa lagoa aqui matava nossa fome…”, afirma o morador.

Outro morador lamenta as dificuldades diárias de viver em um bairro sem estrutura nenhuma, afastado de tudo que antes existia.  Para Henrique, seus “filhos e filhas estudavam no Flexal de Baixo, hoje foi realocado, removido. É lá no Pinheiro agora, longe, distante demais. E é daquele jeito, uma padaria… eu tenho que chamar, pedir a uma criança que tenha uma motinha, uma bike pra comprar um pão porque tudo é distante. O posto de saúde que atendia a população bebedourense aqui em baixo hoje é na Chã da Jaqueira, e se a gente sai daqui pra lá precisa de transporte e não tem transporte pra isso, porque até o transporte ficou escarço aqui em Bebedouro, tudo difícil, tudo ruim.” 

Ao final da visita, foi sugerido às famílias que discutissem entre elas a possibilidade de construirmos um ato no centro da cidade a fim de tornar público ainda mais essa situação de descaso por parte dos poderes representativos que estão deixando as famílias de lado como também denunciar a tentativa de criminalização das vítimas da mineração realizada pela própria empresa.

Essas famílias e tantas outras, foram vítimas da ganância capitalista. A Braskem precisa pagar por todos os seus crimes. É necessária uma auditoria da Braskem, com a indenização justa a todas as famílias e relocação imediata das que ficaram isoladas nas comunidades dos Flexais, Bebedouro e do Bom Parto. 

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