Isabel Cristina: “Luta conquista justiça por Beatriz!”

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O jornal A Verdade entrevistou Isabel Cristina, mãe de Beatriz, jovem assassinada em novembro 2020, em Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Beatriz tinha 26 anos e estava grávida de três meses, quando teve o corpo queimado e abandonado às margens de uma rodovia do município.

Redação PE


ENTREVISTA – Preso preventivamente desde janeiro de 2021, o assassino foi levado a júri popular, no último dia 18 de setembro, e condenado a 50 anos de prisão por homicídio qualificado (sendo o feminicídio umas das qualificações), ocultação de cadáver e fraude processual. Ele alegou que cometeu o crime porque Beatriz se negava a abortar.

Com o apoio do Movimento de Mulheres Olga Benario e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Dona Isabel, como é conhecida, organizou atos ao longo desse período para exigir justiça por Beatriz, inclusive, na porta do Fórum Criminal de Cabo de Santo Agostinho, onde ocorreu o julgamento.

A cidade onde Beatriz foi morta ocupa o posto de cidade mais violenta de Pernambuco, sendo a quinta mais violenta do país, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

A Verdade – Dona Isabel, a senhora é um exemplo para várias mães por essa luta em prol de justiça por sua filha. Conte um pouco sobre sua luta.

Dona Isabel – Depois que aconteceu esse caso com a minha filha, eu fiquei uns sete meses com depressão. Não tinha condições de agir com nada. Pra começar, ela ficou dois meses e quinze dias no IML sem poder ser enterrada. Tinha que fazer o exame de DNA nela e no bebê. Depois que eu melhorei, comecei a correr atrás, vi que ele estava preso, mas, quando perguntei para o oficial de Justiça, descobri que havia chance de ele ser solto. Tive que lutar muito para conseguir ajuda.

Aí, quando saiu uma reportagem na TV, a repercussão foi grande. Com isso, teve uma boa audiência, ele continuou preso, depois teve mais três audiências, oito testemunhas e dois anos de investigações, para só agora ser marcado o júri popular.

Foram quase três anos de muita luta para chegar até aqui. O que a senhora está sentindo após sair a condenação?

As provas eram muito fortes. Primeiro, tenho fé que ele agora vai vai passar um bom tempo preso. Porque ele é um psicopata, já estava estudando como matar mulheres. O próprio delegado falou isso. Minha filha, infelizmente, foi mais uma vítima dele. Se um dia ele se sair de lá, ele vai fazer isso com outras mulheres. Muita gente me disse que não iria dar em nada. A maioria dizia assim: “Entrega na mão de Deus”. Outros diziam: “Isabel, deixa isso pra lá que a Justiça vai resolver”. E eu simplesmente falava: “Você queria estar no meu lugar?”. Eu sei que minha filha não volta mais, mas o que eu pude fazer por justiça, eu fiz. Ele não matou só ela, ele tirou a paz da minha casa, destruiu a vida de inocentes.

Quero agradecer a todo o apoio que o Movimento deu. Ainda estou muito abalada, não estou bem. Vou começar a me recuperar agora porque hoje foi o dia que eu realmente enterrei minha filha.

Que mensagem a senhora deixa para outras vítimas de violência contra mulheres? 

Eu digo que é pra denunciar. Por mais que, às vezes, a gente ache que a Justiça não faça nada, o certo é denunciar. Quando a mulher fica sendo oprimida sem denunciar ou conseguir ajuda, o resultado é isso que aconteceu com minha filha. Por isso, é importante lutar como o MLB e o Movimento Olga Benario. Eu acho muito importante os movimentos porque eles ajudam quem muitas vezes não tem ajuda de ninguém.

Entrevista publicada na edição nº279 do Jornal A Verdade.