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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Burguesia lucra bilhões com a carnificina em Gaza e grande mídia é cúmplice

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Empresas de armas vendem bilhões de dólares em material bélico para Israel, que usa o massacre dos palestinos para lucrar. Tudo isso, com o apoio da grande mídia burguesa.

Rafael Freire | Redação


Gaza, dia 19 de novembro. “Está chovendo muito. Centenas de milhares de pessoas estão em tendas. Eles não têm para onde ir, nem mesmo para as ruas. Eu sou uma dessas pessoas. Está frio, está ventando e está chovendo.” Este relato é da jovem Wizard Bisan, que, desde o início do massacre em curso de Israel contra os palestinos tem publicado vídeos mostrando o drama de seu povo.

A tempestade agrava ainda mais a situação dos um milhão e meio de deslocados na Faixa de Gaza, obrigados a viverem nas ruas, abrigos e campos de refugiados, pois a inevitável aglomeração de pessoas favorece a circulação de vírus e bactérias em meio às tempestades.

Esta é uma pequena parte do terror vivido pelos sobreviventes. Já os números de quem perdeu a vida não param de crescer. Até o fechamento desta edição de A Verdade, o Ministério da Saúde da Palestina afirma que mais de 13.000 palestinos foram assassinados em Gaza, sendo 5.500 crianças (e ainda 1.800 desaparecidas nos escombros), além de mais de 30.000 feridos. Na Cisjordânia ocupada são mais de 200 mortos.

Desde 1948, o Estado de Israel põe em prática seu projeto genocida de limpeza étnica na região. Quando aconteceu o primeiro massacre, a Al-Nakba (“A Catástrofe”, em árabe), cerca de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas (85% da população). Mais de 500 cidades e aldeias foram destruídas para dar lugar aos assentamos de colonos judeus, que, armados, estupravam as mulheres, matavam e ateavam fogo nas pessoas em fuga. O Exército israelense era quem abria caminho com tanques e bombardeios aéreos.

Exatamente como está acontecendo agora na Faixa de Gaza, desde o dia 08 de outubro.

Prisioneiros antes da “guerra”

Não satisfeito com tanto sangue palestino derramado, o ministro da Defesa israelense Itamar Bem-Gvir apresentou ao Conselho Nacional de Segurança a proposta de aplicar pena de morte aos combatentes palestinos. Ressaltando que, segundo relatório oficial da ONU, de junho deste ano, o Estado sionista mantém cerca de 5 mil prisioneiros em seu território (incluindo 160 crianças), alegando “razões de segurança”. Destes, mais mil estão detidos sem acusação ou sem terem sido julgados.

Esse número duplicou, segundo autoridades palestinas, que estimaram em mais de 10 mil o total de detidos atualmente. Nas últimas semanas, segundo Qadura Fares, presidente da Comissão para as Questões dos Prisioneiros Palestinos, as forças de segurança israelenses prenderam cerca de 4 mil trabalhadores de Gaza que estavam em Israel quando houve a ação do Hamas, além de prenderem mais de mil pessoas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Esse tipo de proposta, aliás, é mais uma demonstração do caráter fascista do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele enfrentou, por três meses consecutivos, no início deste ano, grandes manifestações de rua da população israelense, contrárias à reforma do Judiciário, que previa a diminuição dos poderes da Suprema Corte e autorizava o Parlamento a revogar qualquer decisão judicial por maioria simples. Além disso, o projeto de lei previa imunidade e impunidade a qualquer crime cometido pelo próprio Netanyahu, na condição de primeiro-ministro.

A “Guerra contra o Hamas”, inclusive, foi de grande valia para o discípulo de Hitler no sentido de “unificar” o país em torno de sua liderança, mesmo que ao custo de milhares de vidas palestinas. Nada mais sádico.

Jorrando sangue e dinheiro

Seis das dez maiores empresas de armamento do mundo tiveram seu valor de mercado aumento em bilhões de dólares num único dia (09/10), horas depois de Israel iniciar o novo massacre. Suas ações dispararam em mais de US$ 23 bilhões nas bolsas de valores, de acordo com o ranking do portal especializado Defense News, publicado no Brasil pelo Money Times, portal de notícias com foco no mercado financeiro, pertencente ao banco BTG Pactual.

Dessas empresas, cinco são norte-americanas e uma é britânica. Elas produzem caças, mísseis e sistemas de defesa em geral. Juntas valem atualmente cerca de US$ 400 bilhões (R$ 2 trilhões).

A advogada Jamile Abdel Latif, do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino de Campinas, denuncia:

“Agora, eles estão testando novos equipamentos, novas bombas. O maior produto de exportação de Israel são armamentos. Isso não tem nada a ver com ataque de Hamas coisa nenhuma! Eles precisam testar as bombas, eles querem a Al-Nakba 2, querem esvaziar Gaza e mostrar aos palestinos da Cisjordânia que vai acontecer o mesmo com eles. A ideia é essa: esvaziar, matar e expulsar os palestinos de lá e, ao mesmo tempo, testar as armas. Israel vende armas, inclusive ao Brasil, para matar as pessoas na periferia. A propaganda armamentista diz: ‘Tecnologia contra insurgência e armas testadas em campo’. Ou seja: ‘Nossas armas foram testadas. Nossas armas funcionam!’. É algo nojento. E os EUA junto, porque também vendem armas. Aliás, quem são os produtores de armas? Também são os sionistas. Infelizmente, nós somos os ratos de laboratório. Mas as pessoas que não se iludam. Hoje, são os palestinos. Mas também as pessoas das favelas ou qualquer grupo que vá se insurgir. A indústria do armamento quer subjugar os povos que julga inferiores.”

Segundo a rede de comunicação árabe Al Jazeera, o Estado israelense já havia recebido, em 2023 (até setembro), US$ 3,8 bilhões em material bélico fornecido pelo Governo dos EUA e, após o 08 de outubro, recebeu mais US$ 14,5 bilhões. Segundo as informações oficiais do Governo de Israel, 300 mil soldados estão mobilizados na fronteira com Gaza, parte deles já ocupando as cidades do norte da região. 

E é por esses motivos que o Estado de Israel deve ser caracterizado como um braço armado do Estado Norte-Americano no Oriente Médio. Um posto-avançado, um cão-de-guarda. A política imperialista em todas as suas faces.

Basta observar também todas as votações na ONU (praticamente unânimes, com exceção dos votos destes dois Estados terroristas), condenando o bloqueio de seis décadas dos EUA a Cuba, para concluir que Israel é um Estado tutelado pelos EUA.

Lembremos ainda que, no início de 2020, Netanyahu e o então presidente dos EUA Donald Trump anunciaram o que eles chamaram de “Acordo do Século”, em que Israel anexaria o Vale do Rio Jordão, a 50 km da Faixa de Gaza, correspondente a 30% do atual território palestino.

Grande mídia é cúmplice

“Guerra em Israel”, “Guerra contra o Hamas”, “40 bebês decapitados”, “Túneis debaixo dos hospitais”, etc… Tudo isso, e muito mais, já foi usado pela grande mídia burguesa para justificar o massacre e tentar tirar a atenção das pessoas no mundo inteiro para as cenas chocantes de corpos dilacerados, especialmente de crianças e bebês palestinos martirizados.

O que esta mídia não explica – e nunca o fará – são as causas históricas das décadas de agressão e anexação, os interesses econômicos e geopolíticos por trás de tudo isso que temos assistido na TV.

Motaz Aziza, jornalista palestino que diariamente tem revelado ao mundo a crueldade deste massacre por meio de fotografias e vídeos muito fortes, feitos por ele diretamente das zonas mais perigosas, já teve quatro de seus cinco filhos mortos. Seus corpos estão sob os escombros, que ele mesmo cava com as mãos entre uma reportagem e outra.

“Recebi muitas ameaças de morte e ofertas financeiras para parar de fazer as reportagens, para ir embora, para me render. Mas nunca deixarei minha adorável Faixa. Se eu desaparecer, ficarão irmãos para continuar a mostrar ao mundo a realidade crua.”

Já chega a 45 o número oficial de profissionais da comunicação mortos em território palestino, mas essa mesma mídia mal menciona tal fato. Até porque são vidas palestinas, e estas “não importam”.

Os monopólios das redes digitais (Twitter, Facebook e Instagram) também estão nesta empreitada bélica e continuam apagando postagens e bloqueando perfis de usuários que defendem o povo palestino. Termos como “genocídio”, “Gaza”, “Palestina” e “do rio ao mar” têm o alcance limitado ou são deliberadamente proibidos.

Diferentemente, o jornal A Verdade sempre denunciou os crimes do imperialismo contra o povo palestino e apoia todas as ações de solidariedade que têm se espalhado por todo o mundo. São milhões de pessoas nas ruas de países do Oriente Médio, da Europa e da América Latina.

Aqui no Brasil, as manifestações precisam ganhar mais força e, para isso, toda a militância revolucionária, de esquerda e democrática deve se unir aos comitês de solidariedade organizados pela comunidade palestina nas capitais e nas grandes cidades brasileiras. Inclusive, é preciso cobrar do Governo Lula que rompa relações diplomáticas com o Estado Terrorista de Israel. Só a pressão popular sobre os governos pode deter o genocídio do povo palestino neste momento.

Matéria publicada na edição nº 283 do Jornal A Verdade.

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