Nesta última semana, o Movimento Correnteza na Paraíba provou que é só com luta que se conquista. Após um ano inteiro de mobilizações, conquistamos a abertura do RU do campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), assim como a reabertura do RU do campus sede da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) pelo menor preço do estado (R$ 5.75).
Beatriz Firmino* e Guilherme Queiroz** | Campina Grande (PB)
JUVENTUDE – Uma das políticas de assistência estudantil mais essenciais é o Restaurante Universitário (RU). Essencialmente, os RU’s devem servir refeições a preço simbólico ou gratuitamente para grande parcela das pessoas que estudam a fim de garantir a permanência e combater a insegurança alimentar na universidade. Porém, as perspectivas na Paraíba caminhavam para o completo fechamento dos restaurantes, ou preços absurdos para não bolsistas.
Nesta última semana, o Movimento Correnteza na Paraíba provou que é só com luta que se conquista. Após um ano inteiro de mobilizações, conquistamos a abertura do RU do campus V da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), assim como a reabertura do RU do campus sede da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) pelo menor preço do estado (R$ 5.75). Essas vitórias só foram possíveis com o amplo envolvimento das diversas representações estudantis presentes nos Centros Acadêmicos (CAs) em ambas as universidades, bem como por conta da luta desenvolvida pelo Diretório Central dos Estudantes da UFCG e pelo Movimento Correnteza ao longo do ano.
Um DCE combativo para mudar a UFCG
No final de 2022, a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (PRAC), responsável pela assistência estudantil na UFCG, anunciou através de uma reunião virtual que estava sendo planejada a reorganização dos RUs sob o modelo de licitação. De acordo com a PRAC, seria adotado um modelo igual ao da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com preço estimado em R$ 10,00.
Neste mesmo período, as eleições do DCE-UFCG ocorreram e o Movimento Correnteza, junto de diversos Centros Acadêmicos, encabeçou a chapa vencedora e iniciou, desde já, um processo de mobilização e luta por um RU acessível, entendendo que R$ 10,00 não era um preço justo em acordo com a assistência estudantil.
No início do ano, e consequentemente da gestão, o DCE-UFCG distribuiu 10 mil jornais da entidade em diversos campi da universidade denunciando o abuso planejado pela PRAC e organizando um abaixo-assinado com mais de 1.500 assinaturas reivindicando a diminuição do preço do RU. Além disso, foram organizadas feijoadas com valor simbólico em R$ 2,00 e R$ 3,00 para evidenciar o descaso, e para aumentar ainda mais a pressão, foi organizada uma ocupação em uma das reuniões do Conselho Universitário, com venda de feijoada na saída a preço acessível.
A Pró-Reitoria recuou, fruto das mobilizações, e não realizou mais nenhum debate público sobre RU até agosto, mês em que foram publicadas às licitações das empresas que vão gerir os RUs da UFCG; já constando o subsídio de 50% do valor em uma certa quantidade de refeições, só então confirmado no mês de outubro. Após o subsídio, nenhuma refeição ultrapassará os R$ 6,00, o menor valor da Paraíba.
A reabertura de todos os RUs da UFCG com subsídio de 50% nas refeições é uma vitória do movimento estudantil da universidade. Essa mudança na perspectiva de preço só foi possível depois de um grande processo de pressão sobre a administração da UFCG que se viu obrigada a recuar e a atender a reivindicação, mesmo que de forma parcial.
UEPB luta pela reabertura do RU
A precarização da assistência estudantil, também uma dura realidade para estudantes da Universidade Estadual da Paraíba. Em Campina Grande, por exemplo, é cobrado um dos valores mais caros do estado (R$15,00) e nos demais campi, com exceção de Catolé do Rocha, o RU sequer existe.
Sabendo disso, desde o semestre passado, o Movimento Correnteza junto de estudantes do Campus V, em João Pessoa, se mobilizaram para denunciar a ausência do RU através de feijoadas a preço simbólico de R$ 2,00, realizadas no mês de Junho de 2022. Fruto disso, conquistou uma Comissão de Trabalho para estudar possibilidades dentro da realidade do campus. Esta comissão realizou uma pesquisa acerca da insegurança alimentar no campus e constatou que cerca de 71% das pessoas que responderam a pesquisa vivem esta realidade.
Após meses de luta, uma importante conquista. Através de um plano piloto de subsídio de refeições para 100 estudantes, junto de uma articulação entre a Pró-Reitoria e a Direção do Campus, na última terça-feira (14/11), o RU foi inaugurado e 117 estudantes foram contemplados. Essa conquista é uma resposta às constantes denúncias sobre a insegurança alimentar enfrentada pelos estudantes, que, muitas vezes, precisavam se deslocar para refeições fora do campus onde o preço do almoço é extremamente caro.
A falta de um RU no campus V da UEPB representava um grande obstáculo para os estudantes, pois além de enfrentarem custos elevados para se alimentarem fora, também precisavam lidar com a falta de tempo e a dificuldade de se locomoverem para buscar refeições adequadas. Essa realidade comprometia a saúde dos estudantes e a qualidade do ensino, uma vez que ninguém produz ciência com fome.
Agora, a luta é para que todos os campi da UEPB tenham RU a um preço acessível.
Organizar o Movimento Estudantil e defender o que é nosso!
Essa experiência recente das conquistas do Movimento Estudantil na Paraíba nos mostra que é possível que estudantes se organizem e lutem para mudar suas realidades onde estudam. Se continuarmos dependendo da vontade daqueles que negligenciam a assistência e a permanência estudantil jamais avançaremos nas nossas reivindicações. A luta estudantil organizada avança e faz com que nossas reivindicações sejam ouvidas.
*Diretora de Universidades Públicas da UNE
**Presidente do DCE-UFCG