Queops Damasceno | Salvador (BA)
O 7º Congresso Nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) aconteceu de 26 a 29 de outubro em Salvador (BA). A mesa de abertura, presidida por Raimundo Bonfim, contou com a participação de ministros do Governo Federal, do governador da Bahia, de Leonardo Péricles, presidente da Unidade Popular (UP), de Poliana Souza, coordenadora do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), dentre outras representações.
Para Leonardo Péricles, além das lutas históricas por Reforma Agrária e Urbana, a CMP tem o papel de lutar imediatamente pelo direito à vida do povo negro e pela desmilitarização das Polícias no Brasil. “Eu estou aqui no Estado da Bahia e não posso deixar de denunciar que essa é a Polícia que mais mata no Brasil. Só no mês de setembro, 68 pessoas foram assassinadas aqui e os responsáveis não foram punidos”.
Já Poliana Souza aproveitou a presença dos ministros de Lula para afirmar que, apesar do avanço que representa retomar o Minha Casa, Minha Vida, tal programa não é capaz de resolver o problema habitacional do país. “A maior parte do recurso fica para as empreiteiras. As casas não têm a qualidade que deveriam e são construídas longe de tudo. Já os movimentos sociais, que têm maior interesse em conquistar casa de qualidade, próxima aos equipamentos públicos, têm que disputar entre si menos de 10% de todo o orçamento”.
No segundo dia de congresso, uma questão bastante discutida, pautada pelas intervenções da militância do MLB, foi a questão dos imóveis públicos subutilizados, que poderiam ser usados para atender às necessidades de moradia, mas que o governo também reserva para favorecer as construtoras. Para Natália Lúcia, coordenadora geral da CMP de Pernambuco, “enfrentar a especulação imobiliária é fundamental, especialmente diante dos alarmantes números de prédios vazios e pessoas sem-teto no Brasil. São mais de oito milhões de famílias que não têm onde morar, enquanto existem mais de 18 milhões de imóveis abandonados”.
O terceiro dia foi para debater as teses e com ela, a democracia interna da entidade. Selma Maria, coordenadora geral do MLB de São Paulo, defendeu que a CMP deveria ser reorganizada pela base e que, além disso, deveria ser profundamente democrática, independente e estar na linha de frente da luta contra o fascismo: “Para recuperar seu trabalho de base, voltar a mobilizar milhões de brasileiros e cumprir com suas tarefas históricas, precisa enfrentar as práticas oportunistas dentro dos movimentos vinculados à Central, garantir a mais ampla participação e pluralidade, lutar para realmente realizar uma unidade entre os movimentos sociais”.
Nas defesas de teses, ficou clara a divergência que há no seio do movimento sobre o tema da entidade ser independente do Governo Federal. De um lado, o MLB defendia a mudança da política econômica do Governo, defendendo a revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos (chamado de arcabouço fiscal), o aumento imediato de 100% do salário-mínimo, a punição aos fascistas da Ditadura Militar e a prisão de Bolsonaro e seus generais golpistas. Do outro, a direção majoritária, composta por militantes do PT, afirmava que o congresso não podia reconhecer qualquer crítica ao Governo Lula e que isso era uma tentativa de fazer a CMP ir para a oposição ao Governo, favorecendo os fascistas.
Apesar desse espantalho ter sido levantado diversas vezes, o MLB conseguiu aprovar seis destaques na tese e perdeu a votação em apenas um. Também foram aprovadas todas as moções apresentadas pelo MLB, inclusive uma em apoio à resistência do povo palestino.
Na plenária final, foram eleitos seis membros do MLB para comporem a Direção Nacional da CMP, que é composta de 41 diretores. Kleber Santos, dirigente nacional do MLB e da CMP, afirmou na defesa da chapa: “É preciso reorganizar a CMP para que, no próximo período, sega organizando o povo brasileiro em luta pelos seus direitos, enfrentando o fascismo e, principalmente, resgatando a luta pelo socialismo e pelo poder popular dentro da entidade”.
Matéria publicada na edição nº 282 do Jornal A Verdade