O celular ativa continuamente o Sistema de Recompensa, estrutura do cérebro que recebe toda atividade prazerosa. Clicar em notificações, ficar rolando infinitamente as timelines das redes digitais sem buscar algo determinado e resolver tudo pelo WhatsApp geram estímulos satisfatórios rápidos. Com isso, o cérebro começa a parar de treinar a concentração por um tempo maior, diminuindo nossa capacidade de concentração.
Bia Martins | Psicóloga e Secretária Nacional de Comunicação da UP
SOCIEDADE – O celular tem, cada vez mais, tomado a nossa atenção e é considerado hoje como “melhor amigo do homem”. Usamos o celular para trabalhar, estudar, se divertir, pagar contas, armazenar documentos, se conectar com as pessoas e muitas outras coisas. Segundo uma pesquisa internacional feita pelo site ElectronicsHub, os brasileiros são recordistas em tempo conectado a telas de celulares ou outros eletrônicos. Por aqui, a população fica, em média, nove horas e meia por dia utilizando esses aparelhos. Acontece que isso está acabando com a nossa capacidade cerebral de sentir prazer e estimulando que tomemos decisões impulsivas.
O celular ativa continuamente o Sistema de Recompensa, estrutura do cérebro que recebe toda atividade prazerosa. Clicar em notificações, ficar rolando infinitamente as timelines das redes digitais sem buscar algo determinado e resolver tudo pelo WhatsApp geram estímulos satisfatórios rápidos. Com isso, o cérebro começa a parar de treinar a concentração por um tempo maior, diminuindo nossa capacidade de concentração. Ao mesmo tempo, eleva a quantidade necessária de estímulos que trazem prazer.
Tudo isso é um processo químico, que ocorre dentro do nosso cérebro através da dopamina, um neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para as várias partes do corpo.
Na dose certa, essa substância – conhecida como um dos hormônios da felicidade – quando liberada, provoca a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação. Agindo de forma desordenada, pode viciar e desregular diversas funções cerebrais, podendo gerar alguns transtornos psiquiátricos, como depressão, burnout, ansiedade, abuso de substâncias ilícitas, personalidade antissocial e déficit de atenção ou hiperatividade. Também o desenvolvimento da nomofobia, um novo transtorno caracterizado pelo medo de ficar sem o celular. Longe do aparelho, o indivíduo fica ansioso, com a sensação de estar perdendo informações importantes ou ainda excessivamente entediado e impulsivo.
Outro prejuízo é a dificuldade de sociabilização, isolamento e a nossa capacidade de entender melhor o outro. Por sermos seres de relações sociais acentuadas, principalmente através da linguagem verbal e corporal, comunicar-se somente por mensagens – que são “mudas” – e sem contato humano direto, aumenta a dificuldade de se relacionar socialmente.
Temos ainda outros problemas que a tela e a luz do celular podem causar. Quando usamos o aparelho antes de dormir, a luz azul do aparelho “diz” ao cérebro que ele deve ficar alerta e, assim, pode gerar insônia. O mesmo ocorre quando usamos o celular imediatamente após acordar, pois nossos olhos e nosso cérebro ainda não estão preparados para imagens e informações complexas logo que acordamos.
É preciso reconhecer as facilidades que o celular nos trouxe, mas é preciso aumentar a vigilância sobre o uso dele. Devemos realizar atividades sem o celular, nos questionar se aquela mensagem que eu estou enviando é realmente urgente ou pode esperar para ser dita pessoalmente. O uso excessivo do celular é um grande problema e merece a atenção de todos.