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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Atlas da Violência 2023 escancara o genocídio do povo negro como projeto da burguesia

Divulgado no último dia 05, o relatório revelou que a cada 10 pessoas mortas de forma violenta no Brasil, 8 são negras. Esta triste realidade deve-se ao projeto político das classes dominantes brasileiras de impor uma verdadeira guerra contra o povo negro e pobre para garantir sua dominação. 

Gabriel GB | Redação RJ


BRASIL – Na última terça-feira (05), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), junto ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicou o Atlas da Violência 2023. O relatório revelou que em 2021 a população negra foi vítima de 36.922 homicídios, o que corresponde a 79% do total de pessoas assassinadas. 

Ainda segundo o relatório, a desigualdade racial aumentou, e o risco de uma pessoa negra ser assassinada de forma violenta subiu de 2,6 para 2,9 entre os anos de 2019 e 2021. Em números gerais, isso significa que a cada 10 pessoas que morrem de forma violenta no Brasil, 8 são negras.

De fato, basta olhar os jornais para se deparar cotidianamente com episódios violentos que têm como alvo principal pessoas negras. Casos como o de Ágatha Félix, de 8 anos, atingida e morta por um tiro de fuzil que partiu da arma de um PM no Rio de Janeiro em 2019 e o do jovem Gabriel, 18 anos, assassinado covardemente por 4 policiais no Rio Grande do Norte, compõem essa lamentável estatística.

A violência e o racismo são projetos da burguesia

O que os meios de comunicação da burguesia não noticiam é que o genocídio do negro brasileiro é um projeto e esta marca não foi atingida por acaso. O Brasil foi fundado em cima da mão de obra negra escravizada. O tráfico humano e o trabalho forçado nos engenhos garantiu enormes lucros para os colonizadores e para a burguesia, branca, que se formava no país. Com a abolição da escravidão oficial deu-se início a escravidão assalariada e o povo negro que até então havia construído todas as riquezas sem sequer ter direito a humanidade, foi excluído sem nenhuma reparação, jogado a margem da sociedade, no exército de reserva do capitalismo. 

Para Marx, fundador do Socialismo Científico, o exército industrial de reserva trata-se da gigantesca massa de trabalhadores desempregados, ou no subemprego, que são colocados nessas condições para garantir o acúmulo de capital por parte dos patrões. Ou seja, para lucrar cada vez mais, o capitalista necessita rebaixar as condições de vida da classe trabalhadora. Dessa forma, a grande parcela de desempregados funciona para ele como uma trava nas reivindicações por melhores condições de trabalho, uma vez que existem milhões de outras pessoas dispostas a ocupar o mesmo posto, recebendo menos. 

Em uma sociedade atravessada diretamente pela herança da escravidão e por uma abolição que não garantiu direitos, o povo negro representa a maior parte desse exército industrial de reserva. De fato, entre os mais de 21 milhões de brasileiros desempregados, negros representam 65% do total, e mesmo quando trabalham, ganham menos, como mostra pesquisa do IBGE que revela que mulheres negras recebem 57% menos que homens brancos para exercer a mesma função. 

Genocídio do povo negro é queima do exército industrial de reserva

Acontece que no sistema capitalista o que prevalece é a anarquia da produção. Ou seja, a produção é feita de forma desenfreada, sem visar o desenvolvimento da sociedade, mas o lucro da minoria que é dona dos meios de produção. 

Por esse motivo o capitalismo sofre com crises cíclicas. Durante os períodos de crises, para manter os lucros, o capitalista recorre a uma série de medidas que prejudicam os trabalhadores. São promovidas demissões em massa, fábricas são fechadas, direitos trabalhistas são arrancados (vide as reformas trabalhista e da previdência) e até guerras são proclamadas com o intuito de realizar a queima da produção ou da força de trabalho, para assim “aquecer” novamente a economia.

É nesse contexto que o genocídio do povo negro brasileiro se encontra. Com o avanço da crise, somado aos anos do governo fascista de Jair Bolsonaro, o estado brasileiro intensificou seu projeto de extermínio do povo negro, em especial da juventude. Para ter carta branca para matar, o estado usa a desculpa da guerra às drogas, invade as favelas e bairros pobres de norte a sul do país e promove a queima do exército industrial de reserva. Uma guerra interna, não contra as drogas, mas contra o povo favelado. 

Exemplo disso é a morte do menino João Pedro, assassinado dentro de casa, em São Gonçalo (RJ), durante uma operação policial em 2020. Houve ainda a conhecida chacina de Costa Barros, na Zona Norte do Rio, em que policiais mataram com 111 tiros 5 jovens que voltavam para casa após comemorarem o primeiro emprego de um deles. 

Esses e muitos outros casos escancaram o racismo do estado brasileiro. Para dar fim a este projeto não basta apenas pedir por mais representatividade como quer fazer crer a burguesia através de seus veículos de propaganda. É preciso construir uma forte campanha pela desmilitarização das polícias, contra a guerra que ocorre nas periferias para, a partir daí, atacar a raiz do problema: o modo de produção capitalista. Somente substituindo esse sistema atrasado, que fez da carne negra “a mais barata do mercado”, pelo socialismo, sistema em que não existe exército industrial de reserva, poderemos, de fato, ver o povo preto vivo.

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