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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Mulher da classe trabalhadora

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Tainan Bezerra Amaral* | Jaboatão dos Guararapes – PE


Acordar de madrugada pra arrumar casa, fazer comida, deixar tudo pronto pra quando o resto da família acordar. Dizem a ela que isso é papel de mulher. 

Olhar pra a casa e ver que precisa de vários reparos, os furos no teto, uma pintura, que nunca são feitos ou são feitos de forma tão lenta que nunca acabam. Dizem que ela deve dar conta de tudo da vida doméstica. 

As crianças acordaram, arrumar pra ir pra escola, dar comida, enquanto ela mesma, a mulher da classe trabalhadora, se arruma pra sair para ir trabalhar fora de casa. Dizem que é ela que deve educar e cuidar dos filhos, porque, afinal, ela é mulher.

O dia começa cedo e termina tarde pra essa mulher, e se repete de domingo a domingo, sem folgas, sem férias, sem trégua.

Entre uma coisa e outra, se preocupar com saúde, com a escola, com a relação entre irmãos e com outras crianças, se preocupar com roupa, com lanche, com o fato de que precisa dar carinho e atenção a essas crianças e em que tempo? Dizem que é com ela esse negócio de se preocupar. 

E assim se somam cobranças e mais cobranças, culpas e mais culpas. Dizem que ela se cobra de mais. 

Ao fim do dia, essa mulher está exausta. E o ciclo sem fim continua. Dizem que ela que quis ter filhos, casa e família.

A relação com o marido que não vai bem, e as violências sofridas dentro e fora de casa. Dizem que ela que escolheu ele como homem e pai de seus filhos. 

Disseram tantas coisas, e ela vive tantas coisas durante o dia, felizes e tristes, muitas vezes ao mesmo tempo, que fica tudo uma confusão dentro dela.

Ela começa a se sentir mal, mais triste, menos disposta, mais irritada, sem paciência. Dizem a ela: mulher ergue a cabeça e agradece.

Só não organizaram ‘ainda’ a sociedade, de forma que essa mulher da classe trabalhadora não seja explorada pelo capitalismo, para atuar sozinha na manutenção da força de trabalho (marido, filhos, casa…).

Não organizaram ‘ainda’ a sociedade, para que essa mulher não seja explorada e morta pelo patriarcado, que o homem divida as tarefas domésticas, de cuidado com os filhos, não seja violento e nem mais um fardo na vida da mulher. 

Não organizaram ‘ainda’ a sociedade para que ela tenha oportunidade e tempo para se olhar e se cuidar, da sua saúde física e mental.

Enquanto nós não organizarmos a sociedade pra nós e por nós, mulheres, continuaremos sofrendo, nós, nossos filhos e também os homens da classe trabalhadora, que são explorados e oprimidos, e reproduzem a mesma exploração e opressão dentro de casa e fora dela.

*Tainan é mãe de dois meninos, psicóloga e militante do Movimento de Mulheres Olga Benário

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