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domingo, 24 de novembro de 2024

O futebol brasileiro e a política

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A facilidade de praticar o futebol o popularizou entre as massas e ele passou de um mero esporte para um dos principais entretenimentos da classe trabalhadora. Assim, o futebol se tornou um fator determinante na influência midiática no povo brasileiro e, por diversas vezes, o Estado e a mídia burguesa tentaram aparelhar clubes e a Seleção Canarinho para alienar as massas. Querendo ou não, futebol e política estão intrinsecamente ligados.

Well Gomes | Paulista – PE


BRASIL – O futebol, em seus primórdios, era um esporte aristocrata, no qual não era permitido negros praticarem, tendo direito de apenas assistir os homens brancos jogarem. Porém, a facilidade de praticar o esporte o popularizou entre as massas e cada vez mais times passaram a aceitar negros em seu elenco, ainda que times menores na época, como o Bangu e o Vasco, no Rio de Janeiro, a Ponte Preta, em São Paulo, e o Riograndense, no Rio Grande do Sul (que tem como um de seus fundadores um homem preto). Isso foi determinante para separar os times de bairros nobres e os times suburbanos.

Aos poucos, a massificação dos clubes foi tamanha que o futebol se tornou uma paixão nacional e, consequentemente, um esporte preto e periférico. A Seleção Brasileira conquistou suas taças mundiais com equipes comandadas no campo por jogadores negros e de origem proletária.

O futebol passou de um mero esporte para uma das principais formas do proletariado se entreter enquanto está longe dos empregos exaustivos e exploradores. O futebol se tornou um fator determinante na influência midiática no povo brasileiro e, por diversas vezes, o Estado e a mídia burguesa tentaram aparelhar clubes e a Seleção Canarinho para alienar as massas. Querendo ou não, futebol e política estão intrinsecamente ligados.

No ano de 1970, em plena ditadura militar e fascista, sob o comando de Médici, aparelharam completamente a Seleção Brasileira, ao ponto de perseguir e dispensar do cargo de treinador o comunista João Saldanha, a dois meses de iniciar a Copa do Mundo. Vários militares estavam envolvidos na equipe técnica da seleção, incluindo torturadores como o major Roberto Guaranys, homem de confiança de Médici. A conquista da terceira vitória da Seleção veio em meio a campanhas ultranacionalistas incansáveis para alimentar o patriotismo e tirar os holofotes dos crimes hediondos cometidos.

Ainda hoje o futebol tem influência tremenda na política, os posicionamentos dos jogadores sobre alguma polêmica se tornam manchetes. Porém, grandes futebolistas de posicionamentos progressistas, como Sócrates no Corinthians, Reinaldo no Atlético Mineiro e Afonsinho no Botafogo, estão cada vez mais raros no Brasil e isso se deve ao aparelhamento burguês que despreza qualquer tipo de pensamento crítico e se sustenta em ideais conservadores.

O suposto grande ídolo da seleção atual, o atacante Neymar, hoje, nada mais é do que mais um bolsonarista que se apequenou tanto no futebol quanto na idolatria nacional por aproximações a figuras fascistas e discriminatórias. Neymar, a cada dia, deixa de ser uma figura futebolista admirável para se tornar uma subcelebridade polêmica que secundariza o esporte por ideais desvirtuosos.

Atualmente, diversas figuras políticas possuem passagem no futebol, como ex esportistas, ex presidentes de clubes, ex campeões mundiais. Essa associação é utilizada para benefício próprio desses personagens da política brasileira. Aqueles que um dia representaram o povo dentro das 4 linhas, hoje representam os interesses dos grandes empresários nos parlamentos.

A influência dos times considerados grandes no país, por arrastarem multidões, também é algo a se destacar. Times como Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Vasco possuem inúmeros torcedores nas 5 regiões do país e muitos consideram ter um amor maior pelo seu time do que pela Seleção. Muito se deve ao fato do trabalho da imprensa e da mídia sudestina em nacionalizar essas marcas enquanto coloca as equipes locais em segundo plano. Hoje é comum que nortistas e nordestinos tenham como segundo time algum representante do eixo Rio-SP. Tendo isso em vista, Pernambuco vem como forma de resistência a essa massificação sudestina. O que chamam de “bairrismo” do estado permitiu o fortalecimento do Sport, do Santa Cruz e do Náutico nas massas da metrópole recifense, ainda que no interior a influência do eixo seja equiparada.

São as massas que mantêm a relevância do futebol na sociedade, porém, um esporte que outrora tinha se adaptado ao seu público pobre e periférico, está cada vez mais se elitizando enquanto segue tendências burguesas de visar o lucro e o dinheiro em detrimento da tradição esportiva e das conquistas. Diversas equipes se venderam a empresas e se tornaram apenas vitrines de jogadores, sem ambições reais de conquistas e taças, apenas o de arrecadar dinheiro com venda de jogadores. Times perderam sua essência futebolística, como o Bragantino, que se tornou apenas uma filial da Red Bull.

Ingressos e produtos oficiais que custam metade de um salário mínimo são exemplos de como o futebol está se distanciando das massas atualmente. A Seleção Brasileira quase não manda seus jogos em estádios brasileiros, e quando joga, é com preços inviáveis para a população que a tornou o que é hoje. Times tradicionais do interior estão entrando em falência pela falta de valorização local enquanto times autoproclamados “do povo” glorificam partidas que arrecadam valores que ultrapassam os milhões.

Entender a relação entre o futebol e a política no Brasil é entender o pão e circo utilizado na população brasileira e saber que é preciso combater esse viés de capitalização do esporte e do entretenimento.

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