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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Vestibular: uma barreira para o acesso à educação

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Fica evidente que essas entidades querem manter o vestibular como uma forma de elitizar o ensino superior público e garantir seus lucros com as universidades privadas e os financiamentos estudantis.

Jesse Lisboa | Recife


JUVENTUDE – O vestibular é uma prova que seleciona os candidatos a uma vaga na universidade. Porém, quando se trata das universidades públicas, essa seleção é baseada majoritariamente nas condições socioeconômicas dos estudantes que prestam a prova. Ou seja, quem tem mais chances de aprovação é quem pôde pagar por uma educação privada do ensino básico aos cursinhos preparatórios. Esses estudantes têm acesso a materiais didáticos, professores qualificados, aulas de idiomas, laboratórios, bibliotecas e outras facilidades que os ajudam a aprender os conteúdos cobrados nas provas.

Já os estudantes da rede pública, que são a maioria da população, enfrentam uma série de dificuldades para se preparar para o vestibular. Sofrem com a falta de infraestrutura, de professores, de recursos pedagógicos e de políticas públicas que garantam uma educação de qualidade. Além disso, muitos desses estudantes precisam trabalhar para ajudar no sustento da família, o que reduz o tempo e as condições de estudo.

“O fim do vestibular é uma forma direta de acesso do nosso povo à educação, qualquer que seja a cor, raça, etnia e classe. Num país onde a grande maioria recorre à educação privada e ainda trabalha para pagar a mensalidade, o livre acesso à educação torna o ensino superior muito mais democrático. Então, o Enem e outras formas de vestibulares funcionam como verdadeiras peneiras dos jovens pobres”, afirma Cassiano Bezerra, diretor de Assistência Estudantil da UNE.

Quem se beneficia com esse sistema?

Ora, os tubarões da educação, que lucram com a precarização do ensino e a privatização do conhecimento. Um dos exemplos mais claros é o Todos Pela Educação (TPE), uma ONG que se apresenta como defensora da qualidade da educação, que, na verdade, é financiada por grandes corporações e bancos. Um dos fundadores do TPE é Jorge Gerdau Johannpeter, um dos maiores bilionários brasileiros, dono de um império siderúrgico. Entre os mantenedores do TPE estão a Fundação Lemann, Itaú, Unibanco, Bradesco, Natura, Gerdau, Votorantin, Telefônica, Gol e Instituto Península. A Rede Globo, a maior emissora de TV do país, também é uma das parceiras do TPE.

A Fundação Lemann, inclusive, acabou tendo um papel central na definição das diretrizes da educação brasileira. Seu fundador é Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos maiores acionistas da ABInBev, a maior cervejaria do mundo. A Fundação Lemann atua fortemente, desde 2013, para a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento que estabelece o que deve ser ensinado nas escolas de todo o país.

Qual o objetivo dessas empresas?

Fica evidente que essas entidades querem manter o vestibular como uma forma de elitizar o ensino superior público e garantir seus lucros com as universidades privadas e os financiamentos estudantis. Eles querem uma BNCC que padronize o currículo escolar e limite a diversidade e a criticidade dos estudantes, de forma que a educação seja uma fábrica de mão de obra barata para o mercado, ao invés de formar pessoas conscientes e transformadoras da sociedade.

Outro exemplo de como o ensino superior é dominado pelos interesses privados é a concentração de matrículas em poucas instituições particulares, que oferecem cursos de baixa qualidade e alto custo. Apenas cinco instituições particulares concentram 27% de todos os alunos do ensino superior no Brasil, mais do que toda a rede pública. A maior parte das matrículas dessas instituições é na modalidade a distância, que teve uma expansão acelerada nos últimos anos devido à flexibilização das regras para a abertura de cursos. Essas instituições são: Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, Centro Universitário Leonardo da Vinci, Universidade Cesumar, Universidade Estácio de Sá e Universidade Paulista.

Essas e outras instituições não têm compromisso com a formação integral dos estudantes, mas sim com o lucro e a reprodução das desigualdades sociais. Elas oferecem cursos de baixa qualidade, com pouca interação entre alunos e professores, com disciplinas padronizadas e descontextualizadas, que não contribuem para o desenvolvimento crítico e criativo dos estudantes. Além disso, elas cobram mensalidades abusivas, que endividam ainda mais as famílias trabalhadoras e tornam os profissionais recém-formados dependentes de programas de financiamento público, como o FIES, que transfere recursos públicos para o setor privado.

Educação não é mercadoria 

A realidade é que a Educação vem sendo pautada pelos interesses privados que privilegiam os lucros em detrimento do direito à formação pública, gratuita e de qualidade. E o vestibular é uma ferramenta para garantir a manutenção da lógica mercantil.

Portanto, o fim dessa prova injusta e elitista é a solução para a exclusão social que impede milhões de jovens de terem acesso à universidade. Com essa medida, será possível que o recurso seja investido nas instituições públicas, ao invés de encherem os bolsos dos tubarões da educação.

Por uma universidade pública, gratuita e de qualidade!

Matéria publicada na edição nº284 do Jornal A Verdade

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