A retórica da energia renovável e o massacre ao povo congolês

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A exploração de minas que extraem cobalto e cobre para baterias recarregáveis levou a despejos forçados e a violações dos direitos humanos, incluindo agressões sexuais, na República Democrática do Congo. Tal fator, impulsionado pelas chamadas tecnologias de energia limpa, têm destruído milhões de vidas congolesas, que já sofrem há anos com a exploração internacional das grandes empresas capitalistas.

Victório Wagner | UJR Goiana – PE


INTERNACIONAL – A exploração humana e ambiental serve de base para a existência do capitalismo, afinal sem ela o sistema não pode se desenvolver, nem mesmo garantir a existência de sua classe dominante, a burguesia. Pela lógica da propriedade privada, a burguesia explora e controla o proletariado nacional e internacional, aumentando seus lucros em bilhões, enquanto os trabalhadores apenas têm seu salário reajustado periodicamente para acompanhar a inflação. Na República Democrática do Congo, empresas privadas americanas, como Apple, Google, Tesla e Microsoft, lucram diariamente com trabalho infantil e mal remunerado feito pela mão de obra congolesa.

A necessidade da indústria tecnológica por cobre e cobalto se mostrou mais evidente nos últimos anos, quando a onda de energia renovável entrou em pauta como uma alternativa para frear os irreversíveis danos ambientais causados pela exploração extensiva da natureza. A combinação desses com outros metais resulta em uma liga resistente que está presente, principalmente, nas baterias recarregáveis de celulares, carros e outros dispositivos eletrônicos. Hoje, a República Democrática do Congo tem as maiores reservas de cobalto do mundo e a sétima maior de cobre. 

Com o discurso ecologicamente sustentável, a lógica capitalista segue à risca seu principal método de reprodução: trabalho escravizado, péssima remuneração, situação de trabalho degradante e devastação ambiental. Em relatório publicado em setembro de 2023, a Anistia Internacional denunciou graves violações aos direitos humanos, principalmente de crianças e mulheres, com relatos sobre soterramento em minas e túneis, salários miseráveis de um ou dois dólares por dia, violência sexual, física e mental. 

Além disso, a expansão das minas acontece por meio da intimidação e ameaças para que a população abandone suas casas.  “O conflito e a escalada da violência desencadearam um número recorde de 6,9 milhões de pessoas deslocadas internas na República Democrática do Congo”, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional, alerta que “os despejos forçados que ocorrem enquanto as empresas procuram expandir projetos de mineração de cobre e cobalto à escala industrial estão a destruir vidas e devem parar agora”.

O silêncio da grande mídia nacional e internacional sobre isso é tão ensurdecedor que nos faz ter certeza que há um interesse maior em manter esses acontecimentos por debaixo do tapete. O capitalismo não quer que as pessoas saibam que estão sendo exploradas e, diariamente, a ideologia burguesa é empurrada aos nossos cérebros para fazer que achemos a nossa exploração e a de nossos contemporâneos algo comum, e até necessário.

Congoleses refugiados em Angola

Por conta da propaganda europeia que promete vida boa, emprego e bons salários, muitos congoleses viajam até Angola para servir de ponte migratória para a Europa. Mas a quebra de expectativa já começa antes mesmo deles viajarem. Em conversa com uma pessoa residente de Luanda, capital de Angola, ela relatou para o jornal A Verdade que “eles [congoleses] aceitam se submeter a situações miseráveis, ao ponto de ficarem sem comer, isso tudo para conseguirem juntar dinheiro para chegar à Europa. As coisas ficaram bem mais complicadas desde que o número de congoleses aumentou em Angola.”

“Sabe o tipo de trabalho que ninguém aceita fazer? Eles fazem. São capazes de viver em um espaço minúsculo com 8 ou 9 pessoas por causa da renda. Usam a mesma roupa por dias e partilham a tal roupa para não gastarem dinheiro.”

A mídia dos países africanos pouco noticia sobre os acontecimentos no Congo por conta de suas ligações com as empresas e os países capitalistas. “Não só empresas, mas os países imperialistas fazem isso e a única forma que o povo africano consegue obter informações do tipo é por meio das redes sociais, o que é um pouco perigoso”, finaliza a relatora.

O imperialismo roubou os recursos dos países africanos, roubou sua riqueza e impediu a autodeterminação dos povos, e hoje tenta vender, por meio de falsas promessas, a solução para os problemas que ele mesmo criou. O massacre ao povo congolês é apenas uma das ferramentas para a manutenção do capitalismo. Portanto, para impedir que as empresas capitalistas continuem saqueando os países africanos, oferecendo baixos salários ao seu povo e utilizando da produção proletária para promover o seu sistema fracassado e contraditório, é preciso uma mudança brusca no modo de produção, de forma que essa lógica seja substituída por uma verdadeiramente justa e sustentável, a do sistema socialista.