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domingo, 22 de dezembro de 2024

A transfobia enquanto fenômeno do capitalismo

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A transgeneridade é uma forma de resistir ao capitalismo, que impõe normas de gênero opressoras baseadas na exploração da classe trabalhadora. O socialismo é a única forma de sociedade que pode garantir as condições materiais para a nossa existência e desenvolvimento, além da diversidade, igualdade e a justiça para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.

Jesse Lisboa 


SOCIEDADE – A transgeneridade é resistência. Para entender isso, precisamos saber que gênero é uma construção social e cultural. Como o escritor Paul Preciado disse em seu discurso Eu sou o monstro que vos fala: “todos nós temos um lugar diferente em uma rede complexa de relações de poder.”

Esse mesmo discurso aponta a centralidade do “homem branco heterossexual burguês”, detentor do poder político, e cita a teoria da necropolítica de Achille Mbembe, que versa sobre o poder de decidir quem pode viver e quem deve morrer. Orientados ou não por políticas segregacionistas, pessoas que não seguem as normas de gênero podem ser sofrer transfobia, que é a aversão, discriminação ou preconceito contra pessoas trans ou cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo atribuído no nascimento.  

A transfobia é um fenômeno vinculado às estruturas socioeconômicas do sistema em que vivemos. No modo de produção capitalista, encontramos uma estrutura de opressões e discriminações que afetam diretamente à classe trabalhadora, e não é diferente com a comunidade LGBTIA+.

O capitalismo, enquanto sistema econômico vigente que a tudo regula, com a intenção de transformar matéria em mercadoria, exerce influência sobre os corpos de maneiras diversas, sob dominações e cadeias de poder. A relação entre transfobia e a manutenção da ordem capitalista está fundamentada na forma como as estruturas sociais e econômicas sustentam e perpetuam a violência contra pessoas trans. A transfobia, como expressão de preconceito e discriminação, é enraizada em discursos conservadores que reforçam a divisão sexual do trabalho e a exploração da classe trabalhadora.

A divisão sexual do trabalho, baseada em estereótipos de gênero, é um dos pilares que sustentam a ordem capitalista, pois estabelece expectativas e normas rígidas em relação aos papéis de gênero, reforçando a marginalização de pessoas cujas identidades de gênero não se encaixam nesses padrões. 

As regras da binariedade estão entranhadas no cotidiano, e foram validadas por tanto tempo, inclusive no meio científico, que uma “verdade” dita biológica pode parecer uma autorização implícita do uso da violência por pessoas que se sintam autorizadas, ao estarem ou se sentirem no centro da norma e influenciadas por discursos autoritários, violentos ou segregacionistas.

Isso ficou evidente recentemente, quando uma mulher cis foi agredida em um restaurante em Recife por ser confundida com uma mulher trans. A vítima disse: “Ele [o agressor] pensou que eu era uma mulher trans usando o banheiro feminino.” Esse caso mostra como a transfobia afeta não apenas as pessoas trans, mas também as pessoas cis que não se encaixam nos padrões de gênero da sociedade. A violência contra as pessoas trans e contra quem não faz parte das normas de gênero burguesas é uma forma de controle social que mantém a ordem capitalista baseada na heteronormatividade e na cisnormatividade.

A luta pelos direitos LGBTIA+ não pode ser separada da luta contra o capitalismo, pois esse sistema é o responsável pela opressão e exploração de todas as pessoas que não se encaixam nos padrões dominantes de gênero e sexualidade. O capitalismo se beneficia da divisão da classe trabalhadora em grupos marginalizados e privilegiados que impedem a unidade e a solidariedade entre os trabalhadores e trabalhadoras.

Nós precisamos nos unificar com a luta do conjunto da classe trabalhadora, que também sofre com as consequências do capitalismo, como a precarização, a desigualdade e a violência. Nós precisamos apontar que essa luta precisa ser contra o capitalismo, pois o socialismo é a única saída para os problemas da classe trabalhadora LGBTIA+. O socialismo é a alternativa que defende a liberdade, a diversidade, a igualdade e a justiça para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.

 

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