Na noite de 11 de novembro, um incêndio destruiu mais de quinze barracos na Comunidade do Limite, no bairro Jardim Santa Maria em Osasco. Cinco meses atrás, outro incêndio havia atingido o mesmo local.
Ayla Merli | Osasco
SOCIEDADE| Os recorrentes incêndios poderiam ter sido evitados se houvesse eletrificação, saneamento básico e um projeto urbano que atendesse aos interesses do povo trabalhador. Mas o prefeito Rogério Lins só se importa em enriquecer os muito ricos enquanto posta vídeos nas redes digitais fingindo que se importa com o povo: um marketeiro de primeira!
Em depoimento para o jornal A Verdade, Valter, que perdeu tudo no desastre, relatou o caso: “Eu estava dormindo, estava desde o começo, quase que eu morri queimado. Foi um sufoco danado para nós, perdemos tudo, não tenho mais nada, nada. Saí só com a roupa do corpo.”
Outra moradora, que trabalha até às dez horas da noite, perdeu o seu cachorro. Valter nos conta: “não tinha quem salvasse, o filho dela tentou salvar e queimou as pernas”. E continua: “o pior é que quando nós ‘arrumar’ as coisas devagarinho na luta, eles vão falar que eles que arrumaram”.
Os moradores se organizaram para reconstruir a moradia, mas o local está cheio de entulho e cinzas e nenhum órgão do Estado enviou sequer um caminhão para retirar. Além do descaso depois da destruição é importante lembrar que esses incêndios são consequências da falta de políticas públicas que atendam a necessidade da população.
A luta pela reforma urbana é urgente
Raimundo, pastor na comunidade e que também perdeu sua moradia nas chamas, disse que a igreja foi quem mais doou material para a reconstrução. A prefeitura não fez nada, apenas disponibilizou um auxílio aluguel – por um ano e meio – de míseros R$400,00, o que é insuficiente para pagar um aluguel na região.
Segundo o pastor: “é só um ano e meio e corta, aí o senhor não tem direito à moradia. Quer dizer, e o que perdeu aqui? Podia ao menos mandar telha pro pessoa. Isso é ajudar; não chegar aqui e falar ‘vai morar aonde?’, um ano e meio depois você vai pra rua. É só pra baixar a poeira?”.
A cidade de Osasco é refém da busca por lucro das empreiteiras e construtoras como a Dubai, a ZAFIR e outras que enriquecem com a falta de moradia digna para a população. Para ilustrar, no último trimestre de 2023, a construtora EzTec teve lucro líquido de R$31,5 milhões, mas nada dessa quantia voltou para habitação popular.
Fica claro que o prefeito só se preocupa em agradar as construtoras. Para as trabalhadoras de Osasco e região resta morar em condições precárias, com risco de saúde e de vida, passando pelo perigo de sofrer mais um incêndio e perder o pouco que tem. Por isso, a luta pela Reforma Urbana é urgente!
Reforma Urbana vai muito além de exigir moradia digna. Segundo o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). também significa: garantia de emprego, alimentação, transporte público, educação, cultura e lazer, eletricidade nas casas, saneamento básico, acesso à creche e morar perto do trabalho são também bandeiras de luta.
Mas em uma sociedade em que o poder de comprar do salário é cada vez menor, em que milhões de brasileiros vivem de “bicos” sem contrato de trabalho, que a polícia cultua a propriedade privada dos ricos mas assassina a juventude, como alcançaremos moradia digna?
Somente com a luta pela reforma urbana – que não tem um fim nela mesma, mas é um meio para alcançarmos uma sociedade livre de exploração em que o Estado não seja um instrumento dos grandes ricos e das construtoras, mas esteja nas mãos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Para construir essa sociedade é importante que a gente se organize em movimentos sociais, em associações de moradores e partidos políticos de esquerda. Só o povo salva o povo, e nessa luta revolucionária a organização é a nossa maior arma.