Há em curso hoje, no norte da Bahia, o surgimento de áreas desérticas, assim como o avanço do clima semiárido para regiões onde não havia, modificando totalmente o regime de chuva.
Gabriel Reis | Feira de Santana
MEIO AMBIENTE – No dia 27/11 aconteceu em Feira de Santana um encontro promovido pelo Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar para debater sobre as dificuldades dos pequenos produtores frente à seca, desta vez potencializada pelas mudanças climáticas, assim como a formação de um grupo de trabalho para pressionar o poder público a tratar o assunto com a urgência que lhe é devida.
Um dos focos principais do debate foi o caráter permanente das mudanças climáticas, que modificam estruturalmente toda a dinâmica da agricultura familiar. Está curso hoje no norte da Bahia o surgimento de áreas desérticas, assim como o avanço do clima semiárido para regiões onde este antes não existia, modificando totalmente o regime de chuva.
“Entre as áreas que agora estão sendo consideradas semiáridas e antes não eram, a gente tem principalmente vários municípios do oeste do Piauí, também tem alguns municípios no oeste da Bahia, assim como norte de Minas Gerais, alguns no norte e oeste do Espírito Santo e alguns poucos municípios no Rio Grande do Norte e em Alagoas”, explicou Rogério Macedo, professor do curso de geografia na UNEB de Serrinha. Por conta da intensificação da semiaridez de uma forma geral, uma boa chuva hoje em dia não é garantia de uma boa colheita.
Frente a essa situação, mais de 120 municípios baianos decretaram estado de calamidade porque seus habitantes enfrentam a seca e a fome. Segundo Maria Conceição Borges Pereira, presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar, estima-se que pelo menos 500 mil pessoas se encontram em situação de emergência.
Ela também destacou a gravidade dessa seca em relação às anteriores. “Eu posso garantir que tem mais de 20 anos que a gente não vive uma seca com essa severidade. Tem mais de 20 anos que a gente não constata mortalidade de animais e não observa as famílias vendendo seus pequenos animais por qualquer preço, pra não assistir eles morrerem de sede e fome, e tem um tempo que a gente não vê essa disputa do humano com o animal por resto de água que ali existe”, afirma a presidente do sindicato.
O caráter de classe da crise climática
Apesar do consenso de que a crise climática é causada pela ação humana e que afeta todo o planeta, é sempre importante ressaltar qual é a classe que de fato destrói o meio ambiente e qual classe sofre pelos efeitos da crise. Por um lado, tem o agronegócio, cujo modelo de produção depende exclusivamente da destruição contínua do meio ambiente, da invasão de terras indígenas e do uso crescente de agrotóxicos, os quais contaminam o solo e os trabalhadores. Esse setor produz somente para enriquecer a burguesia nacional e internacional e para eles não há tempo ruim, pois recebem todo tipo de ajuda do Estado. Do outro, há os produtores da agricultura familiar, cujo financiamento está muito aquém comparado ao do agronegócio e é o setor que mais sofre com a destruição do meio ambiente e a fome. Mas é justamente da agricultura familiar de onde vêm os alimentos consumidos pela população brasileira.
A organização da classe trabalhadora se faz cada vez mais necessária para enfrentar os desafios postos na atualidade. Frear a barbárie do sistema capitalista é também frear a catástrofe climática.