A tarifa zero, o aumento das frotas de ônibus, o investimento em transporte sobre trilhos, e a estatização do transporte coletivo são medidas que beneficiariam muito a população de Guarulhos. O transporte público deve ser realmente público – ou seja, para todas as pessoas –, e deve funcionar muito bem – ou seja, de forma rápida, segura, ecológica e confortável para toda a população.
Erick Levandoviski e Caio Forne
SOCIEDADE|A situação do transporte público em Guarulhos, a segunda cidade mais populosa do estado de São Paulo, é um retrato da falta de investimentos em infraestrutura e na qualidade de vida da população. Com cerca de 1,4 milhão de habitantes, a cidade sofre há anos com a ineficiência do sistema de transporte coletivo, que afeta principalmente a classe trabalhadora e as regiões mais periféricas. Essa é a consequência de um sistema de transporte que fica nas mãos de empresas privadas, que, como sabemos, funcionam para dar lucro, e não para oferecer o melhor serviço possível para a população.
A falta de sistemas de trem e metrô, linhas de ônibus ineficientes, o alto preço da passagem e a distância entre residência e trabalho são algumas das principais questões que afetam a rotina dos moradores e prejudicam sua qualidade de vida e o acesso a serviços básicos, como lazer, saúde e educação. A insuficiência de linhas de ônibus que consigam atender de forma satisfatória as demandas da classe trabalhadora é um dos aspectos mais recorrentes nas manifestações de descontentamento em relação ao transporte público.
As três empresas que operam o transporte municipal – Campo dos Ouros, Viação Urbana Guarulhos, e Vila Galvão –, oferecem um serviço de transporte em que os ônibus frequentemente se atrasam, ou estão superlotados. Há até uma linha que já ficou popularmente conhecida como “expresso do inferno”, por conta desses problemas.
A condição também é muito ruim para quem precisa se deslocar para a capital e outras cidades do estado de São Paulo. Os ônibus intermunicipais são geridos pela Guarulhos S/A, em contrato com a EMTU. Esses ônibus demoram muito para passar, geralmente estão lotados, e muitas tarifas chegam perto de R$10,00. Isso faz com que muitos passageiros sejam obrigados a optar pelo transporte intermunicipal clandestino, pois acabam sendo mais rápidos, apesar de estarem extremamente cheios, muitas vezes até com a porta aberta.
Para a estudante de direito da Universidade de São Paulo (USP) e moradora do bairro dos Pimentas, Beatriz Santana, “A gente acaba sendo excluído de São Paulo”. A estudante desabafa: “… Por mais que você se esforce todos os dias, você sente isso todos os dias. Nós temos que acordar muito mais cedo para chegar nos lugares, e na volta chegamos muito tarde em casa. O que acaba afetando toda sua saúde mental, você faz pior suas atividades, e trazendo para minha realidade de estudante universitária em uma faculdade elitista onde a carga de leitura é muito grande e os professores falam: ‘Vocês têm tempo de ler sim, é só ler no caminho’. Sim, eu super leria, se o ônibus não estivesse tão lotado que nem as portas se fecham, mas eu tô preocupada em me segurar e me manter de pé no momento”.
Essa situação é agravada pela falta de investimentos em infraestrutura e pelos problemas de trânsito na cidade. A Rodovia Presidente Dutra e o Trevo do Bonsucesso, o qual teve suas obras iniciadas em 2003, são pontos críticos de congestionamento que impactam diretamente o transporte público, dificultando ainda mais a vida dos moradores. O estresse diário causado pelo tempo gasto em engarrafamentos, o medo de se atrasar para compromissos e a sensação de impotência diante da falta de opções de transporte público são alguns dos fatores que podem contribuir para o surgimento de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse crônico.
Apesar de Guarulhos ter um plano de mobilidade urbana, pouco vem se cumprindo, e esse pouco se mostra ineficiente para a maioria da população, porque a criação de ciclofaixas e faixas de ônibus somente em bairros mais nobres da cidade não ajudam a população da periferia em nada na sua locomoção diária. Continuam faltando corredores exclusivos nos bairros que realmente precisam, e continua a superlotação e a falta de integração entre as linhas.
Enfim, a classe trabalhadora de Guarulhos fica obrigada a conviver com a ineficiência e precariedade do sistema de transporte coletivo municipal e intermunicipal da cidade. Essa é a consequência de uma gestão neoliberal que, apostando nas terceirizações e na mínima intervenção estatal, esconde da população o fato de que o transporte coletivo estatizado tem muito mais condições de oferecer um serviço público de qualidade, já que não funciona em função do lucro.
A tarifa zero, o aumento das frotas de ônibus, o investimento em transporte sobre trilhos, e a estatização do transporte coletivo são medidas que beneficiariam muito a população de Guarulhos. O transporte público deve ser realmente público – ou seja, para todas as pessoas –, e deve funcionar muito bem – ou seja, de forma rápida, segura, ecológica e confortável para toda a população.
Se a tarifa zero for implementada, com uma estratégia popular de financiamento público, que não pese sobre a classe trabalhadora, ela pode democratizar muito o acesso ao transporte coletivo. Aumentar as frotas de ônibus significa aumentar a oferta de transporte coletivo, o que diminui o tempo de espera nos pontos de ônibus, e também previne a superlotação. O transporte sobre trilhos gera maior agilidade e segurança no deslocamento dos usuários. Por fim, estatizar o transporte coletivo em Guarulhos seria arrancá-lo das mãos de empresários gananciosos que querem lucrar sobre o sofrimento do nosso povo.
O transporte público de qualidade é um direito da população e deve ser garantido pelo Estado. Nós, da Unidade Popular pelo Socialismo, entendemos que essas conquistas só podem ser alcançadas por meio da mobilização popular, e é isso que fazemos aqui em Guarulhos e continuaremos fazendo. Não faltam munícipes guarulhenses sentindo revolta com esse nosso transporte, e a nossa missão imediata é transformar essa revolta em mobilização popular para conquistar grandes melhorias no transporte coletivo.