Claudiane Lopes | Porto Alegre (RS)
Com menos de um mês de governo empossado, o novo presidente da República da Argentina, Javier Milei, já foi alvo de uma ampla mobilização das centrais sindicais e de movimentos sociais contra as suas primeiras medidas anunciadas. Ele venceu a última eleição presidencial como um candidato abertamente da extrema-direita, defensor do Estado mínimo, da propriedade privada, das privatizações de órgãos e empresas públicas, ajuste fiscal duro e repressão aos movimentos populares e sindicais.
A situação atual do povo argentino é grave! O presidente apresentou um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) em que altera 380 artigos e leis e apresenta um Projeto de Lei denominado Omnibus, que modifica ou revoga outros cerca de 600 artigos e leis.
Estas leis beneficiam um punhado de proprietários de terras e monopólios imperialistas que estão representados dentro do governo. Se forem aprovadas, será um grande golpe para a classe trabalhadora e para o povo como um todo e empurrará milhões para a pobreza e a fome e entregará a soberania do país. Se este “pacotazo” for aprovado, concederá poderes extraordinários a Milei para governar por decreto, sem precisar passar pelo Congresso Nacional.
Ainda ameaça em seus discursos a liquidação de todas as liberdades democráticas, a destruição de todas as leis trabalhistas, de organizações sindicais, de obras sociais, nega a soberania nacional, a soberania nas Ilhas Malvinas e quer privatizar cerca de 42 empresas estatais.
Fruto dessas medidas autoritárias e impopulares, as Centrais Sindicais organizaram diversas manifestações, que tiveram início no dia 27 de dezembro, com uma mobilização no Palácio da Justiça, convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), pela Federação Nacional Camponesa, grupos estudantis e partidos políticos. No dia seguinte, foi decidida uma Greve Geral nacional para o 24 de janeiro.
“Vai ser uma greve histórica. Temos que pôr fim a este decreto e à lei geral porque o povo argentino não está disposto a entregar as conquistas que custaram tantos anos de luta, tanto sangue como o dos 30 mil desaparecidos durante o tempo da ditadura, daqueles que caíram nas Malvinas e vamos resistir”, aponta Jorge Henrique Smith, líder sindical do Estaleiro Río Santiago e Coordenador Nacional da Corrente “René Salamanca” – CCC (Corrente Classista e Combativa).
Maior inflação do continente
Outro fator preocupante é aumento dos preços, especialmente dos alimentos. O ministro da Economia, Luís Caputo, anunciou uma enorme desvalorização de mais de 120% do dólar oficial, o que gerou um aumento brutal dos preços. Obras públicas foram paralisadas, provocando milhares de demissões na construção civil, além da rescisão de contratos de milhares de empresas estatais. Tudo isso leva a que milhões de pessoas fiquem abaixo da linha da pobreza e centenas de milhares abaixo da linha da indigência.
Para María Rosario, do Partido Comunista Revolucionário da Argentina, “Milei chegou ao governo prometendo que iria baixar a inflação, que o reajuste seria custeado pela casta política e fez justamente o contrário. Os preços dispararam, sem tomar nenhuma medida a favor do povo. Milhões de cidadãos já não podem comprar pão, leite ou farinha. Milhões não têm onde morar porque não conseguem pagar o aluguel. Para eles a situação é desesperadora. A maioria da população passa por momentos difíceis, inflação crescente, insegurança, aumento dos feminicídios, crescimento das drogas nos bairros. Há demissões, salários baixos, trabalho precário, aposentadorias miseráveis”, afirma ela.
“Construir uma grande Greve Nacional no dia 24 de janeiro para derrotar o DNU e impedir a aprovação da Lei Omnibus. Promover a mais ampla unidade com diversos setores dos trabalhadores, dos camponeses pobres e médios e de outros setores populares, patrióticos e democráticos, para parar a ofensiva reacionária e fascista, para multiplicar as lutas em todo o país, avançar a luta por outra política e por outro governo e abrir um caminho libertador para o nosso país” é o chamado de Elena Hanono, vice-presidente Partido do Trabalho e do Povo (PTP).
Matéria publicada na edição nº 285 do Jornal A Verdade