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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Heroína do povo: 49 anos de imortalidade de Jane Vanini

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Conheça a história de Jane Vanini, o maior nome de Mato Grosso e um dos maiores do Brasil na luta contra repressão e violência das ditaduras militares na América do Sul.

Arthur Piva* e Rayssa Piovani** | Cuiabá


HEROÍNAS DO POVO – No último dia 6 de dezembro, completaram-se 49 anos da imortalidade de um dos maiores exemplos de coragem e bravura: a guerrilheira Jane Vanini. Essa revolucionária nasceu em Cáceres, cidade localizada no Centro-sul de Mato Grosso, a mais ou menos 200km da capital Cuiabá. Filha de José Vanini Filho e Antônia Maciel Vanini, Jane estudou no Colégio Imaculada Conceição, onde já na juventude demonstrava seu interesse pelo envolvimento político, fazendo parte do grêmio estudantil. 

Em 1966, mudou-se para São Paulo, onde ingressou na Universidade de São Paulo (USP), onde se matriculou no curso de Ciências Sociais e, nessa época, se envolveu ativamente no movimento estudantil, contribuindo para a formação do grêmio do seu curso. 

Ao se juntar à Ação Libertadora Nacional (ALN) a partir de 1969, Jane atuou principalmente em atividades de suporte à organização. Já nos anos 70, ela começou a enfrentar perseguição da Ditadura Militar Fascista que assolava o Brasil naquela época, forçando-a se exilar do país passando pelo Uruguai, Argentina, Europa e em Cuba. Lá, Jane foi uma dos 28 militantes que fundaram o Movimento de Libertação Popular (Molipo). Depois desse período, a corajosa militante retorna  ao Brasil de forma clandestina, para lutar contra a ditadura militar, demonstrando um ato de extrema valentia. 

Dois anos depois, lutando de forma ativa e intensa contra a repressão, ela foi julgada à revelia pela 2ª Auditoria Militar de São Paulo e condenada a cinco anos de reclusão, além de sofrer a perda dos direitos políticos por uma década. 

Após o assassinato criminoso ou exílio forçado da maioria dos membros que formavam o Molipo, Jane mais uma vez deixa o país, partindo em direção ao Chile na época governado pelo presidente de esquerda Salvador Allende. 

No Chile, ela militou pelo Movimiento Izquierda Revolucionaria (MIR). No entanto, com a chegada do fascista Augusto Pinochet ao poder, depois do golpe militar de 11 de setembro de 1973, Jane voltou à clandestinidade, com o intuito de continuar lutando contra a ditadura, mesmo fora de seu país, ela se mudou para a cidade de Concepción, localizada a 500 km de Santiago. 

Na noite do dia 6 de dezembro de 1974, Jane Vanini foi brutalmente assassinada pelas forças de repressão do governo chileno. Ela resistiu heroicamente, sozinha, por quatro horas em sua casa aos avanços de dezenas de homens dos órgãos de repressão chilena, destruindo todos os documentos que conseguiu e lutando até o último disparo. Suas últimas palavras foram: “Perdão meu amor, foi a última tentativa de te salvar”, deixadas em um bilhete para o seu então marido, o jornalista José Tapia Carrasco.

A história de Jane Vanini só veio ao público 18 anos após sua morte. Ela, hoje, é reconhecida como uma heroína na luta contra a ditadura, a repressão e a violência tanto no Brasil quanto no Chile. Seu nome agora está imortalizado em ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, em uma praça na cidade de Concepción e até mesmo homenageada no campus da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) em sua cidade natal de Cáceres. 

No entanto, seu legado mais importante foram as 37 cartas que escreveu durante seu exílio no Chile. Nestas correspondências, Jane descreve as dificuldades de viver clandestinamente, fazendo reflexões sobre como é ser uma mulher em um ambiente dominado por homens e sobre a violência da repressão e da perseguição política. Vanini registra suas angústias, ansiedades, esperanças e as saudades que sentia de seu país.

Jane Vanini, sem sombra de dúvida, representa o maior exemplo de Mato Grosso na luta internacional contra a repressão, contra o sistema capitalista e contra a injustiça. Sua história serve de inspiração para pessoas do país todo e seu nome deve ser lembrado entre os heróis que deram sua vida pela libertação do nosso povo, junto com Manoel Lisboa, Carlos Marighella, Manoel Aleixo, Pedro Pomar entre inúmeros outros. Viva a luta por memória, verdade e justiça! Jane Vanini vive!

*Membro da comissão provisória da Unidade Popular de Mato Grosso

**Militante do Movimento de Mulheres Olga Benário de Mato Grosso

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