CNPq muda forma de avaliação de pesquisadoras mães após denúncia

120

 Julia Poletto e Ketelyn Karina


O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é um órgão federal ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para incentivar a pesquisa brasileira através da concessão de bolsas e auxílios financeiros. Na última semana de dezembro de 2023, a professora e pesquisadora Maria Carlotto, da Universidade Federal do ABC (UFABC), teve sua bolsa negada pelo CNPq por não ter feito pós-graduação no exterior, constando no parecer que “provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas”. 

Desta forma, o CNPq manifesta, mais uma vez, a misoginia dos ambientes acadêmicos ao penalizar uma mulher pelo fato de gestar. É revoltante que as mulheres tenham oportunidades negadas em um cenário onde não há nenhum apoio para as mães e crianças, expondo as mulheres em suas vidas pessoais na academia e colocando sobre elas um “ônus da maternidade”. A pesquisa e o meio acadêmico são hostis às mulheres, mesmo com suas grandes contribuições científicas, com um recorte de raça, classe e gênero.

O caso repercutiu nacionalmente através de denúncias realizadas por diversos setores da educação e movimentos sociais. No dia 06 de janeiro, o CNPq anunciou uma alteração na forma em que as pesquisadoras mães serão avaliadas. Agora, o período de avaliação da produtividade científica dessas pesquisadoras será estendido por dois anos “para cada parto ou adoção que ocorrer dentro do prazo estipulado na chamada”, diz a nota publicada pela instituição.

Colocada em prática, essa medida se torna uma vitória importante para as pesquisadoras. “As mudanças apresentadas pelo CNPq são apenas um pequeno passo para chegarmos a um patamar de equidade, sendo necessária ainda muita atenção e cobrança para que tais mudanças realmente se façam valer”, diz Fernanda, mestranda da UFABC. 

A conquista dessa alteração demonstra que somente através da luta somos capazes de mudar nossa realidade. Para que todos os espaços sejam acolhedores para as mulheres e crianças e para que a ciência brasileira seja popular, feita pelo povo e para o povo, é preciso que estejamos organizadas na construção de uma sociedade livre de todos os preconceitos e opressões.

Matéria publicada na edição nº 285 do Jornal A Verdade