Os genocídios, de maneira geral, precisam desumanizar o povo que é oprimido. O Estado terrorista de Israel, com apoio do imperialismo norte-americano e da imprensa mundial, utiliza dessa mesma estratégia em relação ao povo palestino.
Ícaro Vergne | Salvador
INTERNACIONAL – Desumanizar o povo que está do outro lado é uma das principais estratégias dos imperialistas, colonizadores e fascistas para validar o seu genocídio. Assim fizeram os portugueses e espanhóis quando chegaram na América e consideraram os povos indígenas como “demoníacos” e “inferiores”. Considerados não humanos, era possível de acordo com a “moral cristã”, praticar as mais cruéis violências contra os povos nativos, o que também foi feito com os povos sequestrados na África e escravizados na América.
Vejamos como exemplo o recente genocídio à que o povo pobre brasileiro foi submetido em meio a pandemia da COVID-19. O fascista Bolsonaro, quando se manifestou, imitou falta de ar e deu risada enquanto o povo morria. As suas declarações buscavam desprezar o valor das vidas. Foi contra o auxílio emergencial, rejeitou o uso de máscaras respiratórias e negou o direito à quarentena aos trabalhadores. Orientou que a população continuasse trabalhando e incentivou a usar medicamentos sem comprovação científica como tratamento precoce. Recusou compras de vacinas e buscou naturalizar que iria “morrer gente”, mas que a economia não podia parar porque “a vida continua”. Resultado de sua política negacionista, mais de 700 mil pessoas morreram pela COVID-19 no Brasil, muitas mortes das quais poderiam ter sido evitadas.
E dessas mortes, a maioria eram trabalhadores, pobres e negros, como apontado pelas pesquisas do Instituto Polis e reafirmado pelo Relatório da CPI da Covid. Para o genocida, que muito antes disso já carregava o histórico de ser apoiador de grupos de extermínio e milícias fascistas que matam o povo preto nas periferias, essas vidas não tinham valor. Seus comentários eram uma forma de naturalizar o pensamento de que era inevitável, pessoas iriam morrer mas a economia não podia parar. Rejeitada a importância e o direito à vida do povo pobre, tornou-se oportuno transformar a pandemia em um projeto político para ampliar o genocídio já existente pelas armas em nosso país.
Os comunistas devem amar e ter um grande apreço à vida, à memória, à história, à cultura e à tradição dos povos oprimidos em todo mundo, afinal conhecemos bem o seu valor. O imperialismo e a burguesia, de outro lado, buscam apagá-las de todas maneiras, substituindo-as por seu modelo dito “civilizado”.
Pode-se dizer que isso acontece desde a disputa ideológica (influência de propagandas, redes sociais, filmes, séries, músicas, livros, etc.) até a espoliação de recursos e riquezas de uma nação. Há também a submissão e dependência por meio da dívida pública, a instalação de multinacionais e a construção de bases militares para exercer controle sobre outros povos, etc. Tudo isso encontra a sua forma mais explícita no genocídio, realizado hoje pelos estados terroristas de Israel e Estados Unidos na Palestina.
Expressão violenta do desejo do colonizador ou do imperialista, de impor a sua vontade, seu pensamento, sua política, forma de organização e estilo de vida sobre outros povos, de forma que eles sejam impedidos de existir, passando a exercer controle sobre determinada região, suas riquezas e trazendo consigo segregação racial e preconceito religioso onde antes não havia.
O que está em curso na Palestina, um massacre de proporções comparáveis ao holocausto que já matou 30 mil pessoas, a ampla maioria mulheres e crianças e que a grande maioria dos países do mundo e veículos de comunicação não só fecham os olhos e são indiferentes, como cinicamente apoiam ao inventar mentiras, tornam mais que atuais as palavras do revolucionário Che Guevara: “A bestialidade imperialista. Bestialidade que não tem uma fronteira determinada, nem pertence a um país determinado. Bestas foram as hordas hitleristas, como bestas são os norte-americanos hoje […] Porque é a natureza do imperialismo que bestializa o homem. Que os convertem em feras com sede de sangue, dispostas a degolar, a assassinar, a destruir até a última imagem de um revolucionário, de um partidário de um regime que caia sob seu coturno ou que lute por sua liberdade.” (Assembleia Geral da ONU, 1964)
Vejam o que tem dito o imperialista Joe Biden e o sionista Netanyahu, nas últimas semanas: “a guerra é contra o grupo terrorista Hamas!”. Tiveram início os primeiros bombardeios em Gaza e a imprensa afirmou: “foram bombardeadas bases do Hamas!”. Mentiram. Continuam mentindo. Veja agora os massacres que fazem indiscriminadamente, bombardeando prédios, casas, áreas civis, zonas de refúgio, igrejas, patrimônios históricos, mercados, padarias e hospitais. Um deles, responsável pela morte de mais de 500 pessoas num único bombardeio em que Israel assumiu a autoria, embora tenha apagado a publicação nas redes sociais após repercussão negativa, e promoveu festas aos militares para comemorar o ataque. Não é mais possível esconder.
Os povos em todo mundo tomaram as ruas em solidariedade ao povo palestino nos últimos dias e cada vez mais escancaram que não se trata de uma guerra contra o Hamas, mas do genocídio do povo palestino. Veja agora o que eles dizem: “todos em Gaza são ativistas do Hamas!”.
A narrativa que tinha, inicialmente, o caráter de desumanizar os ativistas do Hamas classificando-os como “terroristas” que merecem morrer, de forma a naturalizar as suas mortes, se estendeu a todo território palestino. Mesmo o que ocorre na Cisjordânia, onde o Hamas não exerce controle, revela que o verdadeiro objetivo sempre foi e continua a ser de exterminar todo o povo palestino, anexar mais territórios e se apropriar das suas riquezas e recursos naturais, como o gás e o petróleo. Não à toa, recente declaração do ministro sionista Gideon Sa’ar afirma que “a perda de terras é o preço que os árabes entendem”.
Essa campanha de ódio e mentiras sobre a Palestina é apoiada pelos grandes meios de comunicação que têm cumprido o papel de inferiorizar e desumanizar o povo árabe, associando-os ao terrorismo e a incapacidade de se organizar em Estado. Inferiorizam a sua cultura, retratando-a como atrasada e a sua religião, considerando-os como “inimigos de Deus” merecedores do castigo divino.
Dizem, nas palavras do Ministro da Defesa israelense Yoav Gallant, que estão “lutando contra animais”. O povo palestino vive sob ocupação militar, não tem acesso a água potável, energia elétrica, alimentação, medicamentos, etc. e a ajuda humanitária tem sido dificultada pelo Estado de Israel, que declarou por meio do Ministro da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir que “a única coisa que tem que entrar em Gaza são centenas de toneladas de explosivos da força aérea, nem um grama de ajuda humanitária”.
Mesmo as crianças palestinas, hoje o principal alvo dos ataques aéreos, têm sido desumanizadas para naturalizar um contínuo ataque de proporções similares à bomba de Hiroshima-Nagasaki no Japão. Não à toa, em manifestações de extrema-direita, os sionistas israelenses cantam: “Gaza, Gaza, Gaza, é um cemitério, não tem escolas em Gaza porque não têm crianças em Gaza”. A realidade diz o contrário: 47% da população de Gaza tem até 17 anos e a média de idade é 18 anos, sendo uma das populações mais jovens do mundo (Palestinian Central Bureau of Statistics) e das mais de 6 mil mortes confirmadas até o 18° dia de massacre, quase 3 mil eram crianças. Nessa mesma data o número de crianças mortas ultrapassou a quantidade de todos os últimos 23 anos na Palestina.
Che estava certo quando disse que “um verdadeiro revolucionário é guiado por sentimento de amor”. É uma grande verdade. Devemos amar e nos solidarizar profundamente com a causa do bravo povo palestino que resiste e luta por sua liberdade, para poder continuar em sua terra. E ao lado desse amor, devemos carregar ódio daqueles que nos impedem de amar, de sonhar, ser livres e no caso do povo palestino, de existir.
Desumano é não se indignar profundamente com o seu sofrimento. Milhares de vidas, histórias, memórias perdidas para sempre e que não voltam. Trabalhadores, idosos, mulheres, jovens e crianças com toda uma vida pela frente, mas tem o seu futuro arrancado à força pela covardia e brutalidade do Estado terrorista de Israel, apoiados pelo imperialismo norte-americano. Che também dizia que “em todos os países onde a opressão atinge níveis insustentáveis devemos erguer a bandeira da rebelião”. Hoje a bandeira da rebelião está erguida e representada em todo o mundo com as cores da Palestina.
Hoje todos gritam “Palestina livre, do rio ao mar!” e pelo fim do apartheid, da ocupação colonial e por um Estado palestino independente e soberano!