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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Por que vamos às ruas no 8 de Março?

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Coordenação Nacional Olga Benario


“Em 1917, no dia 08 de março, no Dia das Mulheres Trabalhadoras, elas saíram corajosamente às ruas de Petrogrado. As mulheres – algumas eram trabalhadoras, algumas eram esposas de soldados – reivindicavam ‘pão para nossos filhos’ e ‘retorno de nossos maridos das trincheiras’. Nesse momento decisivo, o protesto das mulheres trabalhadoras era tão ameaçador que mesmo as forças de segurança czaristas não ousaram tomar as medidas usuais contra as rebeldes e observaram atônitas o mar turbulento de ira do povo. O Dia das Mulheres Trabalhadoras de 1917 tornou-se memorável na história. Nesse dia, as mulheres russas ergueram a tocha da revolução proletária e incendiaram todo o mundo. A revolução de fevereiro se iniciou a partir deste dia.”1

Pelos últimos cem anos, desde que, por sugestão de Clara Zetkin, iniciaram-se as comemorações do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, estas têm sido protagonistas das lutas em defesa de suas vidas, mas, sobretudo, pelos direitos de toda a classe trabalhadora. Isso ocorre porque vivemos debaixo do sistema capitalista e este, por sua vez, vive em função de explorar, até a última gota, o sangue e o suor do nosso povo.

Miséria, fome e falta de perspectivas

A miséria e a fome são uma realidade cotidiana para mais de 90 milhões de brasileiros, sendo mulheres e crianças as mais afetadas. Segundo o DataSus, somente em 2020, cerca de quatro mil crianças morreram de fome no país. “Todo mundo que vai ao supermercado e fica revoltado com o preço das coisas. Quando a gente pega esse carrinho é um sofrimento, porque tem que cortar as compras. Num país que é exportador de carne, tem mais cabeça de gado que gente no Brasil. E aqui ninguém comeu carne nos últimos dias”, relata Alana do Nascimento, de Sergipe, em ação do Natal Sem Fome do MLB.

Mesmo para as mulheres que tentam enfrentar as barreiras que são colocadas, não há sossego. “Tem dia que eu passo mais de 12h dentro dessa universidade e eu não tenho o mínimo pro meu filho aqui dentro. E aí você vai lá perguntar o ‘porquê não’ e eles falam assim: ‘não tem verba’”, denuncia Vitória Maria2. “Quem faz faculdade à noite, não tem nada! A gente tem que ficar com nosso filho dentro da sala de aula. A gente tem que aguentar exclusão de professor ou ficar contando com a bondade alheia, sabe?! De ‘será que a gente vai ser bem recebida em tal aula, em tal disciplina’. É um estresse, um sofrimento psicológico muito grande, que dá muita vontade de desistir”, afirma Thais Suzan Takamura2.

O fato é que “o Estado não cumpre sua responsabilidade, fazendo com que milhares de crianças, todos os dias, não tenham o direito de poder estar nas creches recebendo atenção adequada, recebendo educação, alimentação, livre de vários perigos que as nossas crianças sofrem todos os dias. Eu sou mãe, eu tenho um filho que agora tem 13 anos. E o Miguel não teve direito a uma creche, assim como várias crianças no nosso país e na nossa cidade. Eu era moradora da cidade Duque de Caxias e, durante muito tempo, fui até as prefeituras, até as secretarias, participei de atos, participei de cadastros, fiquei em listas de esperas e o Miguel nunca pôde ter uma creche. Essa é a realidade de outras tantas crianças”, conta Juliete Pantoja, presidente da Unidade Popular no Estado do Rio de Janeiro em ato pelo direito à creche organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario.

Diante desse cenário, ter um movimento de mulheres combativo e que construa cotidianamente as lutas em defesa dos direitos das mulheres, mas, sobretudo, que organize as mulheres para pôr fim ao sistema que promove todos esses ataques à vida e aos diretos da classe trabalhadora é fundamental. Assim, convidamos cada mulher trabalhadora, da cidade e do campo, a se organizar conosco e a realizar uma grande mobilização entre as mulheres para que possamos ocupar as ruas no próximo dia 08 de março.

As crises econômicas, provocadas pelos ricos, são mais uma forma de ataque aos direitos do povo, pois apresentam como única alternativa para sua solução aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora à custa de salários mais baixos, retirada de direitos sociais e trabalhistas. “A reforma trabalhista provocou mais de cem alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa medida aprovada durante o governo do golpista Michel Temer, junto com a piora das condições de trabalho durante o governo Bolsonaro, tem deixado nosso povo na miséria. Hoje, 39% dos trabalhadores ativos do país estão no trabalho informal, dentre esses, 60% estão ganhando menos de um salário mínimo”, denuncia Thais Gasparini, da Coordenação Nacional do Movimento Luta de Classes.

As ameaças às liberdades democráticas é o outro caminho adotado pelas elites, exatamente para que a classe trabalhadora não questione todas as arbitrariedades. Um exemplo disso foi o que vimos durante todo o governo de Bolsonaro. “Nosso povo não vai aceitar que os fascistas coloquem as suas garras novamente no poder. Nós não vamos permitir que Bolsonaro e seus cúmplices passem ilesos. É prisão para Bolsonaro e seus cúmplices e pros generais que articularam, que mobilizaram e deram guarida pros golpistas em Brasília e em todo o país. Nós estamos aqui para impedir que os fascistas continuem implementando suas políticas”, afirma Vivian Mendes, da Unidade Popular.

Assim, neste 8 de março de 2024, nós mulheres iremos às ruas por nossas vidas, pelo direito ao nosso corpo, mas também para que seja feito o combate ao fascismo e às tentativas de golpe. Onde possamos exigir memória, verdade, justiça e reparação para as milhares de mulheres que foram vítimas da Ditadura Militar fascista, que, em 1º de abril, completa 60 anos do golpe, não possam ser esquecidas. Que estejamos nas ruas em defesa da soberania e da autodeterminação dos povos e contra o genocídio ao povo palestino, sobretudo as milhares de mulheres e crianças que estão sendo exterminadas. Que sigamos exigindo a revogação das reformas que atentam contra os direitos das mulheres trabalhadoras. Que defendamos as empresas públicas, pois privatizar água, luz e transporte é um crime.

NOTAS

  1. Informe de Alexandra Kollontai na 1º Conferência Internacional de Mulheres Comunistas, 1920. Antes da revolução socialista de 1917, o calendário russo contava 13 dias a menos que o calendário ocidental.
  2. Depoimentos de mães em ato organizado no último mês de fevereiro por permanência estudantil na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Matéria publicada na edição nº 286 do Jornal A Verdade

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