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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Sarah, sua luta continua!

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Após um mês do assassinato de Sarah, estudante de arquitetura e dirigente da UJR, executor é preso em Santa Catarina, na noite do dia 21/02. 

Amanda Benedett  | Rio Grande do Sul

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Sarah Domingues, de 28 anos, foi assassinada em frente a um mercado enquanto conversava com o morador Valdir dos Santos Pereira, na Ilha das Flores, periferia de Porto Alegre, enquanto realizava as últimas fotos para a defesa do seu TCC. No local, dois homens em uma moto dispararam 15 tiros, e 2 atingiram a estudante, que morreu na hora. 

De acordo com as investigações realizadas pela Polícia Militar, o alvo do crime era Valdir dos Santos, que estava incomodado com o tráfico de drogas na região.

Na quarta-feira (21), a Polícia Civil prendeu Maicon Donizete Pires do Santos, conhecido como “Red Nose”, executor dos dois assassinatos que já tem registros de mais de 30 homicídios com sua participação em Porto Alegre, Alvorada, Viamão e Canoas. 

“Esse mandante busca, no ‘Red Nose’, apoio no grupo armado dele, para que vá nas ilhas e execute os homicídios. Ele traz matadores de fora, que são mais difíceis de serem reconhecidos naquela região, onde todo mundo se conhece, e fica mais difícil a formação da prova e o vínculo com ele. Ele usa essa estratégia dessa aliança, fazendo com que o Red Nose possa montar pontos de venda de drogas na região dele, e em troca manda os executores”, afirmou o delegado Rafael Pereira.

Além da prisão do criminoso Maicon Donizete; foram presos 5 suspeitos, três mandantes e demais executores. A polícia informou que outras cinco pessoas estão sob investigação por suspeita de terem participado do assassinato de Sarah e de Valdir.

Conheça a história de Sarah

Sarah mudou-se de Campo Limpo Paulista para Porto Alegre em 2015, quando, através da lei de cotas, passou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para realizar o curso de Arquitetura e Urbanismo. Além disso, ela morou na casa do estudante, em condições precárias de moradia.  

Através da realidade dura que enfrentava para permanecer na universidade, uniu diversos estudantes que assim como ela passavam pelo mesmo. Sarah auxiliou na construção do Movimento Correnteza, tornando-se diretora da União Nacional dos Estudantes e conselheira no Conselho Universitário da UFRGS, edificando um espaço de luta para a permanência dos cotistas nas universidades. 

Ela era a estudante que sempre estava rodeada de amigos e colegas, que não negava ajuda e ocupava todos os espaços para garantir que alunos não fossem expulsos da casa do estudante, que não perdessem sua matrícula na UFRGS, que tivessem direito a transporte e alimentação. Sarah lutava incansavelmente, desde 2015, para que todos estudantes tivessem direito à educação e diploma. 

O que Sarah estudava na região da Ilha das Flores?

Há alguns anos, Sarah estudava e olhava para as enchentes que têm acontecido anualmente no estado do RS. Assim, decidiu dedicar seu Trabalho de Conclusão de Curso para encontrar um plano urbanístico para a Ilha das Flores, região de vulnerabilidade social que registrou 41 mortes e diversos desaparecidos no segundo semestre de 2023. Segundo Sarah, em seu trabalho, de 1899 a 2023, houve 53 enchentes avassaladoras no arquipélago. 

 

 

 

 

 

 

    Foto: Maria Eduarda Fortes

“As comunidades localizadas em áreas de inundação sofrem com a intensificação recente destes  fenômenos ambientais, consequentes das catástrofes econômicas de um sistema que prioriza o lucro em relação à vida e à preservação do meio ambiente, revestidas de catástrofes ambientais e climáticas, que desabrigam grande parte da população de baixa renda, periférica e ribeirinha em todo o Brasil.

A Ilha das Flores encontra-se na região que sempre corresponde à primeira ou à segunda com maior vulnerabilidade institucional – aquela que carece de amparo institucional garantido por direito – de todo o município de Porto Alegre, segundo o IBGE (2010); o que fica nítido ao observar a organização espacial da região, se comparado ao restante do município. Não há um equilíbrio positivo no desenvolvimento local no que diz respeito às áreas social, econômica, ambiental e espacial.

O que significa que esta parte da população fica negligenciada, com pouco acesso à infraestrutura urbana ou até sem nenhum acesso, como A Ilha das Flores,  por exemplo, que não têm nenhuma instituição de saúde ou de ensino médio. Além da ausência de espaços de cultura, esporte e lazer em toda a região.” Afirmava Sarah, em sua pesquisa de TCC.

Sarah, sua luta continua

 

 

 

 

 

 

 

                                    Foto: Gustavo Ramos

Sexta-feira (23), em homenagem ao primeiro mês de falecimento e ao dia que ela defenderia seu TCC; a comunidade encontrou-se para realizar homenagens e debater que cidade se deseja a juventude brasileira. 

Nesse dia, foi apresentado pela sua orientadora de TCC,  professora Luana, na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, uma homenagem a ela e a importância do seu trabalho acadêmico.

Posteriormente foi realizado o debate sobre o papel da juventude na construção da cidade com a participação de Everaldo Santos de Oliveira (diretor da UNE), Samara Garcia (coordenadora do correnteza), Laura Neumann (diretora da UEE) e Gabriel Focking (assufrgs) e sobre a urgência de se construir políticas de segurança pública na periferia, para que mais nenhum jovem seja assassinado como a Sarah.

A comunidade acadêmica se comprometeu em conjunto as entidades com uma agenda de lutas pela criação de auxílios para pesquisas de saída de campo e pela construção de projetos de segurança pública para a periferia de Porto Alegre.

Foto: Gustavo Ramos

Sarah sabia que os problemas de vulnerabilidade social encontrados no arquipélago que dedicava-se a pesquisar, assim como a expulsão de mais de 1700 cotistas da UFRGS ou as diversas mortes por desastres naturais e os assassinatos consequentes do trafico de drogas, são politicas que beneficiam o sistema capitalista que vivemos. Sarah compreendia que a população vive em estado de negligencia social, sem direito a educação, a trabalho e sem direito a moradia.  

Por isso, ela destinou sua vida para a luta, Sarah defendeu os seus e dedicou-se inteiramente para que pudéssemos transformar o Brasil e o mundo em um espaço de direito a vida, em um território socialista.

Sarah, sua luta continua!

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