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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

A volta às aulas e o sucateamento das escolas públicas

Isabella Gandolfi (RJ) e Isabelle Vaz (SP) | Diretoras da UBES

Ao longo do mês de fevereiro, milhões de alunos do ensino básico começaram a retornar às salas de aula após as férias. Apesar de ingressarem num novo ano letivo, encontraram velhos problemas ao chegarem às escolas.

O Brasil ocupa os últimos lugares nos rankings internacionais de Educação. Em 2023, o país foi um dos mais mal avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ligado à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos em áreas como leitura, matemática e ciências. Segundo o estudo, 73% dos alunos tinham conhecimento de matemática abaixo do nível 2, o que significa que 7 em cada 10 jovens de 15 anos não sabem resolver problemas simples de matemática, como converter moedas ou comparar distâncias.

Mas esse desempenho fraco não é por que nossos estudantes são incapazes ou menos inteligentes que os de outros países. Ao contrário, é resultado de décadas de negligência do Estado em relação à educação pública, que se comprova no baixo orçamento destinado às escolas, nos problemas de estrutura, na ausência de políticas eficazes de assistência estudantil e em inúmeros projetos que pioram a qualidade do ensino, como o famigerado “novo” ensino médio, que abre portas para a privatização da educação pública.

Escolas sucateadas

Em outubro de 2022, o Tribunal de Contas da União avaliou nacionalmente a infraestrutura das escolas e contabilizou que 57% das salas de aula são inadequadas. Exemplo disso é a Escola Estadual Jaime Alencar de Oliveira, em Fortaleza (CE). No último dia 10 de fevereiro, após fortes chuvas, os estudantes encontraram quase todas as 12 salas completamente danificadas. Mesmo com o forro do teto rompido, os alunos foram submetidos a assistir às aulas sob o risco de que mais partes do teto caíssem sobre suas cabeças. 

“Algumas lâmpadas estão quase caindo sem o forro e temos muita infiltração nas paredes e goteiras no teto. Sem contar o medo que temos de que, se chover durante uma aula, um pedaço do forro pode simplesmente cair sobre nossa cabeça”, disse, revoltada, a estudante Darlin Paredes.

Segundo o Grêmio Estudantil, a Secretaria de Educação do Ceará foi acionada e chegou a visitar a escola para avaliar a estrutura, tirando algumas partes do teto. Entretanto, após a visita, o refeitório foi interditado pela direção escolar por risco de desabamento do teto.

No Rio de Janeiro, a situação não é diferente. Na Zona Oeste, os estudantes do Colégio Estadual Colecchio, estão enfrentando dificuldades relativas à climatização. Localizada em Bangu, um dos bairros mais quentes da cidade, a escola não possui ar-condicionado nas salas de aula, fazendo com que muitos professores e alunos passem mal de tanto calor. Segundo o presidente do Grêmio Estudantil, Davi Nascimento, que também é diretor da Associação Municipal dos Estudantes do Rio de Janeiro (Ames-Rio), “essa semana estava tão quente que tivemos que chamar a ambulância para um aluno. O Grêmio está organizando um abaixo-assinado para entregar à Secretaria de Educação. A maior parte dos estudantes da escola já assinou. Além disso, queremos mostrar para comunidade o que está acontecendo”. 

Em Minas Gerais, uma das maiores escolas do Estado, o Instituto Estadual de Educação de Minas Gerais (Iemg), teve salas de aula incendiadas devido à ausência de manutenção nas estruturas de uma das salas que servia de depósito de carteiras escolares e móveis velhos. Ao todo, 39 alunos foram levados ao hospital por inalarem a fumaça.

Infelizmente, esses não são casos isolados, ocorrem cotidianamente de norte a sul com muitos estudantes em nosso país. Por outro lado, temos quase metade do dinheiro público sendo pago para os banqueiros e grandes ricos acionistas através da dívida pública.

Educação não é mercadoria!

Como se não bastassem todos esses os problemas, a reforma do ensino médio, vendida como a “solução” para os problemas da educação brasileira, intensificou o sucateamento do ensino público em todos os seus pilares. De acordo com pesquisa do Sesi/Senai, em parceria com o Instituto FSB Pesquisa, a evasão escolar cresceu desde a pandemia e apenas 15% dos estudantes brasileiros com idade acima de 16 anos afirmam estar na escola. O “novo” ensino médio, proposto pelo deputado federal Mendonça Filho (DEM) durante o governo do golpista Michel Temer, foi financiado por grupos capitalistas que lucram com o ensino privado.

Em defesa da Educação!

Os estudantes secundaristas precisam avançar em sua organização e nas lutas para transformar essa realidade. Por isso, a formação de grêmios, a participação em congressos e manifestações é fundamental para transformar o ambiente escolar num espaço mais acolhedor para os alunos, através da realização de atividades culturais, esportivas, debates e palestras. O movimento estudantil tem como principal objetivo organizar a luta pelo direito de todos terem um ensino de qualidade, sendo os estudantes os protagonistas dos verdadeiros avanços na educação dentro das escolas.

Precisamos, assim, aumentar a mobilização nas escolas para conquistar a construção de uma escola que seja um espaço livre das opressões, um espaço em que os estudantes possam opinar no seu funcionamento, que tenha condições dignas de estrutura para estudar, que proporcione mais políticas de permanência estudantil, que prepare os estudantes para ingressar na universidade e desenvolva seu pensamento crítico.

Matéria publicada na edição nº 287 do Jornal A Verdade

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