Manifestações do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras reúnem milhares de mulheres em todo Brasil. Com a palavra de ordem “Ditadura nunca mais: mulheres contra a violência e o fascismo!”, o Movimento de Mulheres Olga Benario participou das mobilizações.
Nana Sanches | Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario
MULHERES – Na última sexta, no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, dezenas de milhares de mulheres se mobilizaram em várias capitais e cidades do interior do país. As manifestações denunciaram a violência contra as mulheres no Brasil e reivindicou igualdade salarial e direitos para as trabalhadoras que hoje são obrigadas a cumprir dupla ou tripla jornada.
Os atos também ocorreram poucos dias após a manifestação fascista do dia 25 de fevereiro, provando que mesmo sem apoio de recursos milionários os movimentos populares e as mulheres trabalhadoras tem mais força que os fascistas.
Movimento Olga Benario mobilizou para os atos reforçando luta antifascista
O Movimento de Mulheres Olga Benario aprovou levar às ruas no dia 8 de março o seguinte mote: “Ditadura Nunca Mais: Mulheres contra a Violência e contra o Fascismo.”
A decisão parte da análise da conjuntura atual com o avanço do fascismo no país através da figura de Bolsonaro e dos militares do alto comando que comprovadamente tentaram dar um golpe no país, além do aumento da pobreza, fome e violência contra as mulheres, fruto dos cortes nas áreas sociais e de enfrentamento à violência de gênero, comuns em períodos de fortalecimento da ideologia fascista.
Desde fevereiro, nosso Movimento organizou e participou de reuniões para a construção do 8 de março, pautando nossas lutas e nosso mote. Decidimos também defender a organização de atos com caminhadas e produção de panfletos, possibilitando maior diálogo com a população.
Para nós, realizar grandes atos de rua é de suma importância para avançar nas pautas das mulheres trabalhadoras, a exemplo do que realizam nossas companheiras na Argentina. Por isso, estivemos presentes em todas as capitais brasileiras e algumas cidades do interior.
A história do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora
Há 114 anos Clara Zerkin defendia que era necessário criar um dia Internacional das Mulheres. Em 26 de agosto de 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas que contou com mais de 100 delegadas de 17 países, Clara declarou: “Em acordo com as organizações políticas e sindicais do proletariado nos seus respectivos países, as mulheres socialistas de todos os países organizarão todos os anos um dia das mulheres […] Este dia das mulheres deve ter carácter internacional e ser cuidadosamente preparado”.
Foi em 1917 que o dia 8 de março ficou cunhado como o Dia Internacional das Mulheres após milhares de trabalhadoras terem ido às ruas protestar contra a opressão do tzarismo e a miséria causada pela 1ª Guerra Mundial imperialista.
Apenas em 1975 que o mundo capitalista teria oficializado, através da ONU, está data e atualmente, a burguesia e o reformismo buscam dar outro caráter a este dia tão importante de luta das mulheres.
Atos no Norte e Nordeste do país
No Pará, estivemos presentes nos atos em Belém do Pará e na cidade de Ananindeua na qual mulheres marcharam exigindo vagas em creches. Na cidade, mais de 3 mil crianças estão sem acesso à educação infantil.
Na Região Nordeste, os atos ocorreram em todos estados: Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Sergipe, Maranhão e Piauí.
No Ceará, os atos de rua se concentraram na capital, Fortaleza, e na região do Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte. Com a palavra de ordem “Mulheres vivas, do Brasil à Palestina”, mulheres de diversas organizações políticas e movimentos sociais foram às ruas marchar pelo fim da violência.
O Movimento de Mulheres Olga Benario esteve na construção dos atos nas duas cidades e pode apresentar às mulheres trabalhadoras a necessidade de estas vanguardearem as jornadas de luta em denúncia aos 60 anos do golpe militar de 1964, e exigir justiça para todos que tombaram enquanto defendiam a liberdade e a democracia em nosso país.
De acordo com Catarina Almeida da coordenação nacional do Movimento “em Fortaleza, a atividade iniciou com uma feira, na Praça do Ferreira, centro da cidade, seguida de rodas de conversas sobre o enfrentamento à violência contra as mulheres e também sobre a luta pela legalização do aborto no Brasil. Logo após, tivemos as intervenções das organizações políticas e dos movimentos sociais em marcha pelas ruas do centro da cidade, dialogando com a classe trabalhadora. Na região do Cariri, a marcha unificou a luta dos profissionais da educação de Juazeiro do Norte, que anunciaram uma greve em defesa de seus direitos”.
A marcha contou com a presença da camarada Sued Carvalho, professora e presidenta estadual da Unidade Popular no Ceará, que passou o recado sobre a necessidade de superarmos o capitalismo, pois só assim, nós mulheres e todo o povo serão de fato livres das guerras, da violência e da exploração que vivemos”.
Sudeste contou com grandes manifestações
Em São Paulo, o ato na capital contou com milhares de mulheres que denunciaram o governador fascista Tarcísio de Freitas, responsável por privatizações que pioram a vida das mulheres, além de cortar orçamento para a pauta, sendo São Paulo o estado com um expressivo aumento de estupros registrados no início deste ano.
No interior, estivemos nos atos de Mogi das Cruzes, Campinas, São Carlos, Guarulhos, Santos e São Bernardo. Nesta última, as mulheres foram às ruas para denunciar o prefeito fascista Orlando Morando que tem realizado diversos ataques contra as mulheres.
No Rio de Janeiro, nosso bloco contou com a presença de Juliete Pantoja, presidente estadual da Unidade Popular pelo Socialismo – UP e pré-candidata à prefeitura da capital. De acordo com Juliete “dia 8 de março é dia de pedir prisão imediata para Bolsonaro e todos os generais golpistas. Bolsonaro não pode sair impune!”
Em Minas Gerais, o 8 de março foi marcado pelos 8 anos de luta e resistência da Casa de Referência Tina Martins. De acordo com Indira Xavier, “a existência da Casa Tina Martins só é possível em função do trabalho coletivo de militantes e apoiadoras. Não temos nenhum apoio desse governo fascista que quer acabar com as nossas serras, que foi responsável pela morte do nosso camarada, o Cacique Merong. Mas apesar deles, nós seguimos e já fomos referência para mais de 8 mil mulheres que passaram por aqui e tiveram uma nova perspectiva de luta e de organização”.
Mulheres se mobilizaram também no Centro Oeste e no Sul
Na região Centro-Oeste nosso Movimento esteve nos atos no Distrito Federal e nos estados de Goiás e Mato Grosso. Em Cuiabá (MT) estivemos nas ruas relembrando a origem do 8 de março e a luta internacionalista das mulheres pelo Socialismo.
Na Região Sul os atos ocorreram em Santa Catarina e no Paraná. Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o ato foi transferido para 14 de março em função das chuvas, mas no interior participamos dos atos em Passo Fundo, Caxias do Sul e Santa Maria.
Em Florianópolis (SC), apesar da chuva torrencial, manteve-se a marcha denunciando o machismo, racismo e a transfobia que ceifaram a vida de mais de 10 mil mulheres desde que a Lei Maria da Penha (Lei 13.104, de 2015) foi aprovada em nosso país, alcançando número recorde em 2023, com 1.463 feminicídios.
Em todas as regiões e cidades em que o Movimento de Mulheres Olga Benario participou dos atos foram apresentados faixas e cartazes com as fotos da nossa camarada Sarah Domingues, militante do movimento que foi mais uma vitima da violência desse Estado; das mulheres assassinadas em nosso país, fruto do golpe militar de 1964 e das mulheres que foram vitimas de feminicídio, como Edneia Ribeiro, também militante do Olga, assim como cartes denunciando o aumento da violência e como que os discursos de ódio, estimulado pelos fascistas, faz todos os dias dezenas de mulheres vitimas de violência no país.
Seguiremos nas ruas e trabalhando arduamente para que toda e cada mulher trabalhadora se organizem politicamente atuando no combate ao capitalismo, esse sistema que só oferece fome, desemprego e guerra para nossas famílias.